O efeito da incerteza na alma humana: entenda por que nos tempos atuais nos sentimos inseguros, vulneráveis e com medo
Quando trouxe há algum tempo uma reflexão sensível sobre a chegada da pandemia, expus o “medo de perder o fôlego” que, até então, nunca havia me assolado de forma tão contundente. Foi ali que pude perceber, com ainda mais clareza, o quanto a vida se torna vulnerável à sombra da insegurança, da incerteza e da fragilidade humana.
Naquela ocasião, passei a olhar o mundo sem a síndrome da pressa, da urgência, que insiste em sucumbir os encantos do cotidiano. Um processo que transita pelas dores mais secretas, mas, ao mesmo tempo, revela uma interioridade na qual a pausa é bem-vinda e tão necessária.
Mas aquele mesmo medo, agora em forma de uma sufocante angústia, parece estar retornando na figura de uma nação polarizada, aos avessos, contraditória, fruto da desordem de governantes e poderes, cujas funções, em vez de promoverem o progresso e a estabilidade, rumam para a destruição da serenidade, da consciência de uma sociedade que clama por tempos melhores.
Esse “medo de perder o fôlego” nos salta, agora, à luz de um futuro sem claras perspectivas, onde movimentos hostis – de todos os lados – vêm roubando a quietude da alma e o discernimento entre o certo e o errado.
É angustiante observar o quanto essa realidade atual tem nos afastado cada vez mais de nós mesmos, de um comportamento social baseado no respeito mútuo e na solidariedade. Esta última, que foi o pilar de todo o período pandêmico, hoje – pelo que assistimos – perdeu grande parte do seu espaço para um misto de rivalidade e incoerência.
Sim, estamos vendo um cenário eleitoral responsável por dilatar ainda mais o abismo que foi se criando em torno das pessoas, motivadas por notícias capiciosas, distorcidas de seus contextos originais, fundamentadas naquilo que cada um acredita ser a única verdade a ser disseminada.
Os estragos chegaram à serenidade e, no meio dessas adversidades, volto a buscar aquela sensibilidade que sempre me direcionou nos momentos mais difíceis da vida. Como já estive prestes a perder o fôlego, sinto-me tão à vontade para destinar um olhar profundo sobre as delicadezas que vão passando despercebidas. E precisamos delas como uma espécie de oxigênio.
Assim como na pandemia, não há uma previsão sensata de quando tudo irá se normalizar, mas é preciso, mais do que nunca, resgatar as singelezas que ficaram endurecidas nos últimos tempos.
O efeito nocivo da incerteza
De todos, o maior estrago talvez esteja no efeito nocivo da incerteza à alma humana.
No meio desse tema tão isento de perfume, opto por trazer para perto de mim um tanto do infinito e compartilhar o afeto entre os meus e “os dos outros”, a inclinação para salmodiar as manhãs, o insistente olhar que busca o momento ótimo das pequenas coisas e meu coração agradecido, mesmo quando sou surpreendida por inesperados ventos frios que desalinham meu destino.