por Thaís Petroff
“Todo relacionamento pode ser uma grande oportunidade de crescimento e autoconhecimento, pois o par muitas vezes serve de espelho para nós”
Você está com seu par (marido ou esposa) e sabe que realmente gosta dessa pessoa e não tem intenção de se separar, mas quando ele (a) faz isso ou aquilo, a casa cai.
Você começa a pensar em todas as coisas que ele (a) sempre faz e que te desagrada, percebe que sua raiva ou tristeza aumentam e quando vê já está brigando ou arrumando desculpas para ficar longe.
É justamente aí que os relacionamentos começam a se desgastar: as pessoas não compartilham mais o que pensam e sentem, fazem acusações e cobranças um ao outro, afastam-se, etc…
O problema começa não no que o outro faz, mas na interpretação e tamanho que se dá a isso.
Se você escolheu estar com seu par é porque analisou os valores pessoais e interesses em comum, assim como seu sentimento e decidiu que essa era uma boa união. Desse modo, ele (a) é uma pessoa com pontos que em sua maioria você aprecia e concorda. No entanto, ninguém é perfeito, nem mesmo você para seu par.
Muitas vezes o que nós gostamos e admiramos é aquilo com o que nos identificamos, ou por que fazemos do mesmo modo, ou por que gostaríamos de fazer. Ou seja, essa maneira de se comportar é compreendida por nós. O que causa incômodo é o diferente: o que não conhecemos ou concordamos e é justamente isso que geralmente causa os desentendimentos. Desentender segundo o dicionário Michaelis significa: 1 Não entender. 2 Fingir que não entende. 3 Não se entenderem reciprocamente.
Quando o outro faz algo diferente do modo como eu faço ou não faz como eu gostaria que ocorresse, isso viola alguma regra interna de como as coisas deveriam ser. É por isso que nos zangamos com os outros; não compartilhamos certa maneira de fazer algo. Olhando por esse ângulo, não há o correto e o errado; há diferentes maneiras de se fazer as coisas, mas que nem sempre são entendidas pelo outro e, portanto, podem ser percebidas como incorretas ou ruins.
Quando procuro me colocar no lugar do meu cônjuge e compreender o que ele pensa, o que sente e consequentemente o que faz; aquele ponto que antes era percebido como incômodo, pode ganhar outra nuance: tenho a possibilidade de ser empático, “olhar através dos olhos do outro”, e entendê-lo.
Fora isso, a ruminação (pensar repetidamente em algo ruim e alimentar isso) é extremamente danosa à relação.
Quando me permito expor ao (a) meu (minha) companheiro (a) o que penso e como me sinto quando ele (ela) faz isso; além de não alimentar a ruminação (pois estou colocando para fora os pensamentos e emoções negativas); ainda tenho a possibilidade de ouvir do outro o que ele pensa e sente nessa situação.
Isso evita a leitura mental (distorção cognitiva) e consequentes desentendimentos. Além disso, quando meu par faz algo que me incomoda muito, vale prestar atenção se esse incômodo pode estar apontando para uma questão minha. Um exemplo é quando a esposa vai viajar a trabalho (ou sai com as amigas para jantar) e o marido sente-se muito incomodado com isso, recriminando-a por esse comportamento. É preciso analisar o que está passando na cabeça desse marido. É bem possível que alguma crença negativa dele tenha sido ativada pela situação da esposa sair sem ele, gerando pensamentos automáticos negativos (ex. “ela irá me trair”), emoção negativa (ex. medo) e um comportamento disfuncional (ex. ser agressivo verbalmente com a esposa).
Esse evento mostra que o relacionamento pode ser uma grande oportunidade de crescimento e autoconhecimento, pois o par muitas vezes serve de espelho para nós; cabe a escolha de querer perceber a situação dessa maneira, ao invés de culpá-lo (distorção cognitiva) por seus desconfortos.