Como alcançar a tal felicidade?

É unanimidade que todos buscam a felicidade, mas como consegui-la? Quais são seus principais determinantes?

Pois bem, voltando um pouco no tempo, desde 1938, o Harvard Study of Adult Development vem investigando o que faz as pessoas florescerem. Depois de começar com 724 participantes – meninos de famílias desfavorecidas e problemáticas em Boston e estudantes de Harvard – o estudo incorporou os cônjuges dos homens originais e, recentemente, mais de 1.300 descendentes do grupo inicial.

Um dado a se considerar é que o estudo cobriu três gerações: avós, pais e filhos, que agora são considerados os baby boomers. Estes são os nascidos entre 1945 a 1964, esse nome é utilizado para pessoas que nasceram após a Segunda Guerra e na maior parte do mundo se viu um aumento na natalidade e a presença de grandes transformações no planeta.

Os pesquisadores entrevistaram periodicamente os participantes, pediram-lhes que preenchessem questionários e coletaram informações sobre sua saúde física.

Como o diretor do estudo (Robert Waldinger), e o diretor associado (Marc Schulz), puderam ver, os participantes entraram e saíram de relacionamentos; encontrarem sucesso e fracasso em seus empregos; se tornaram mães e pais.

Por se tratar do mais longo estudo aprofundado sobre a vida humana já feito, os levou a uma conclusão simples e profunda: bons relacionamentos levam à saúde e à felicidade. O truque é que essas relações devem ser nutridas.

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Agora o Dr. Waldinger, coordenador desse incrível estudo em coautoria com o Dr. Schilz, publicaram em janeiro passado o livro “The Good Life: Lessons From the World’s Longest Scientific Study of Happiness” em tradução livre:A Boa Vida: Lições do Estudo Científico da Felicidade Mais Longo do Mundo.

Como alcançar a tal felicidade?  

Os participantes mais felizes do estudo tiveram em comum dois grandes fatores ao longo de 85 anos: cuidar da saúde e construir conexões calorosas com outras pessoas.

Ter uma boa saúde para viver bem parece óbvio. Porém, com alguma surpresa, os pesquisadores constataram que ter bons relacionamentos era o preditor mais significativo de saúde e felicidade ao longo do envelhecimento. Isso vem sendo confirmado por outros autores, e as pesquisas procuram analisar os mecanismos fisiológicos associados a esse benefício.

Sucesso profissional não basta

O sucesso profissional, por si só, não garante a felicidade, embora seja gratificante. A pesquisa revela que as pessoas mais felizes não estavam isoladas; pelo contrário, valorizavam e cultivavam os seus relacionamentos. Os níveis educacionais e culturais, maiores dos participantes em faixas de renda mais altas, também se mostraram fatores importantes para a adoção de hábitos saudáveis (mais divulgados a partir dos anos 60) e para o melhor acesso aos cuidados com a saúde.

Aptidão social

A solidão é cada vez mais comum e dificulta o combate a situações estressantes pelas quais todos passam. É importante ter com quem desabafar para retomar a calma. Assim, o Dr. Robert recomenda avaliar como aprimorar, fortalecer e ampliar os relacionamentos. Ele chama esse processo de manutenção da aptidão social que, como a aptidão física, exige uma prática constante.

Amizades e relacionamentos merecem atenção contínua para não definharem. Simples telefonemas (WhatsApp) podem ajudar. Participar de atividades que tragam prazer e convivência, como esportes, hobbies e voluntariado, podem promover a ampliação da rede de relacionamentos.

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Ninguém é feliz o tempo todo

As mídias sociais quase sempre mostram aspectos positivos e sugerem a ideia de que todos levam uma vida sem problemas. Porém, na verdade, nenhuma vida é livre de dificuldades e desafios. A aptidão social contribui para a resiliência.

A vida tem reviravoltas

Nunca é tarde demais para que reviravoltas aconteçam e as pessoas mudem sua vida, com novos relacionamentos e experiências. Quem acha que sabe tudo sobre a vida, com certeza está enganado. A pesquisa mostrou que coisas boas aconteceram para pessoas que haviam desistido de mudar sua situação, e as novidades apareceram quando elas menos esperavam.

Implicações

Esse estudo enfatiza a importância da aptidão social, do cultivo permanente dos relacionamentos, que ajuda a construir a saúde, contornar os momentos difíceis e conseguir a tão almejada felicidade.

Enfim, agora temos dados robustos para falar de felicidade baseada em evidências.

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Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA