Por Jocelem Salgado
Quantas vezes você, mulher, teve a sensação de estar no limite da paciência podendo “explodir” a qualquer momento por um motivo qualquer. Quantas vezes você teve a sensação de que toda a energia de seu corpo estivesse se esgotando, dando lugar ao cansaço, sonolência e dificuldade de concentração.
Estes e outros sintomas como dores de cabeça, dores na mama, nas juntas, ganho de peso, sensação de estar inchada e alterações no apetite são típicos de um problema que aflige milhões de mulheres em todo mundo nos dias que antecedem a menstruação. É a famosa tensão pré menstrual ou simplesmente TPM, que melhora sensivelmente ou desaparece tão logo se inicia a menstruação.
A observação de que as mulheres experimentavam maior incidência de cefaléia (dor de cabeça), queixas somáticas (dores no corpo) e aumento de tensão no período pré-menstrual remonta aos tempos de Hipócrates e da escola da Grécia antiga. Modernamente, as primeiras descrições do problema aparecem em 1931, onde se notava que as mulheres na última fase do ciclo menstrual experimentavam tensão emocional e desconforto físico.
A Tensão Pré-Menstrual (TPM) é um mal que atinge uma grande parte da população feminina. Estudos mostram que, em torno de 80% das mulheres em geral apresentam algum tipo de alteração no período pré-menstrual e em 52% delas os sintomas interferem drasticamente no humor, no comportamento e no organismo.
Dados mostram também que cerca de 5 a 10% das vítimas enfrentam quadros severos de dores de cabeça e depressão que as obrigam a se afastar do trabalho e do convívio social. Nos casos mais sérios, a doença pode até mesmo levá-las a cometer suicídio.
A TPM e a violência
As conseqüências emocionais da TPM podem afetar o relacionamento social, ocupacional e conjugal dessas pessoas e o maior índice de violência entre as mulheres está intimamente relacionado ao período Pré-Menstrual. Portanto, a Tensão Pré-Menstrual é um conjunto de alterações físicas e emocionais que certas mulheres apresentam nos dias que antecedem a menstruação.
As causas da TPM
Muitos estudos vêm demonstrando quais as principais causas da TPM e parece que o metabolismo próprio de cada paciente aliado às mudanças hormonais a que estão sujeitas as mulheres nessa fase, são os principais fatores. As alterações hormonais provocam uma retenção maior de líqüidos pelo corpo levando à sensação de inchaço. Este edema está presente em todos os órgãos femininos nessa fase, afetando e muito a função cerebral, devido ao acúmulo de líqüidos no tecido neural. Isso provoca alteração do estado emocional tornando a mulher irritadiça, mal-humorada, inquieta e ansiosa. Todo este quadro é geralmente percebido pelas pessoas que a cercam, mas muitas vezes a própria mulher vai percebendo que algo está errado no seu comportamento geral.
Esse edema é responsável também pelas dores nas mamas, dores musculares e abdominais presentes muitas vezes, inchaço das mãos e pés, alterações no apetite, como por exemplo um consumo maior de carboidratos. Muitas mulheres nessa fase sentem uma vontade irresistível de comer chocolates e guloseimas; isso só piora o quadro geral, levando ao aumento de peso e dos líqüidos corpóreos.
Nos últimos 12 anos, a teoria de que uma alteração nos níveis entre progesterona e estrógenos seriam as causas mais prováveis da TPM, têm sido sistematicamente refutadas. Pesquisas têm demonstrado que os níveis de progesterona e estrogênio são similares nas pacientes com TPM e naquelas sem esse transtorno.
As atuais pesquisas sobre as causas da TPM têm cogitado complexos mecanismos envolvendo hormônios ovarianos, opióides endógenos (produzidos pelo sistema nervoso central), neurotransmissores, prostaglandinas, sistema nervoso autônomo, sistema endócrino, entre outros.
Durante as três primeiras semanas do ciclo, os níveis de estrogênio e de endorfinas fisiológicas (substâncias analgésicas produzidas pelo sistema nervoso central) aumentam. Esse aumento é potencializado pelo aumento do hormônio progesterona seguido da ovulação. Além de sua contribuição para a sensação de bem-estar, as endorfinas também aumentam as sensações de fadiga em mulheres com TPM
Entretanto, na quarta semana do ciclo os níveis de estrógenos e progesterona diminuem, diminuindo também a produção das endorfinas. Nesta fase, surgem os sintomas decorrentes da diminuição dessa substância tais como ansiedade, tensão, cólicas abdominais, cefaléia, etc.
Componentes químicos envolvidos no estresse físico e emocional, tais como o cortisol e adrenalina, por exemplo, podem também estar aumentados na TPM.
O papel da alimentação
Algumas causas ambientais podem estar relacionadas a TPM. Entre elas ressalta-se o papel da dieta alimentar. Alguns alimentos parecem ter importante implicação no desenvolvimento dos sintomas da TPM, como é o caso, por exemplo, do chocolate, cafeína e álcool. As deficiências de vitamina B6 e de magnésio também estão sendo consideradas, porém, até o momento, o papel desses nutrientes na causa ou no tratamento não tem sido confirmado. Alimentos ricos em magnésio são as hortaliças de folhas verdes e a soja. Os alimentos fontes de vitamina B6 são fígado, nozes, carnes de um modo geral e cereais integrais.
Critérios de diagnóstico
Apesar de 80% da população geral feminina apresentar sintomas pré-menstruais, apenas cerca de 8% costumam satisfazer os critérios de diagnóstico para a Síndrome Pré-Menstrual, conforme a listagem abaixo.
A mulher deve apresentar por 2 ou 3 ciclos menstruais, 5 ou mais sintomas da lista abaixo na última semana do ciclo, devendo tais sintomas estar ausentes na pós-menstruação:
1. Marcante humor depressivo, sentimentos de desesperança ou
autodepreciativos
2. Marcante ansiedade e tensão
3. Marcante carência afetiva
4. Irritabilidade e/ou agressividade marcantes ou dificuldades de
relacionamento pessoal
5. Diminuição do interesse para atividades usuais
6. Dificuldades de pensamento, memória e concentração
7. Cansaço, fadiga e perda de energia
8. Alterações do apetite e/ou da aceitação de determinados alimentos
9. Alterações do sono (insônia ou hipersonia)
10. Sensação subjetiva de opressão ou perder o controle
11. Outros sintomas físicos tais como turgência nos seios, dor de cabeça, dor muscular, inchaço, ganho de peso.
12. O distúrbio deve interferir marcantemente com a ocupação,
atividades sociais e de relacionamento.
Existe tratamento?
Não há tratamentos oficialmente reconhecidos, o que existe são formas de controle dos sintomas, que em alguns casos podem ser bastante eficazes, como por exemplo mudanças na dieta e no estilo de vida. Procure aumentar a ingestão de fibras (encontradas nos cereais integrais, frutas e hortaliças), reduzir o consumo de gorduras saturadas (gorduras animais) e de carboidratos simples (açúcar e mel principalmente); reduza o consumo de sal e de bebidas como o café, chá e refrigerantes a base de cola, pois eles contém substâncias chamadas metilxantinas (cafeína, teobromina e teofilina) que são comprovadamente excitantes. Não se deve abusar de bebidas alcoólicas e recomenda-se a prática de exercícios prática de exercícios e a redução do stress.
Estudos mostram também que o consumo de alimentos ricos em cálcio (leite e derivados) também pode ajudar a reduzir os desconfortos desta fase. Um estudo conduzido no Centro Ósseo Metabólico do St. Luke’s – Roosevelt Hospital nos Estados Unidos, avaliou a capacidade do cálcio em aliviar os desconfortos mensais de 466 mulheres com TPM. As integrantes do grupo que usava suplementação de cálcio apresentaram uma redução de 54% nas dores e no desconforto, enquanto o grupo controle (sem suplementação) apresentou um aumento de 15%.
Portanto, leites e derivados, verduras, legumes, cereais e leguminosas, especialmente os integrais, fornecem grande parte dos elementos nutricionais que propiciam o adequado equilíbrio entre hormônios femininos, corrigindo as TPM. Nos casos mais graves, procure sempre acompanhamento médico.
Como aliviar os sintomas
– Reduzir a ingestão de cafeína e álcool. A cafeína, contida no café, nos chocolates, em muitos refrigerantes e em alguns medicamentos, aumenta a ansiedade e a instabilidade emocional. O álcool pode provocar dores de cabeça, fadiga e depressão.
– Diminuir o sal nos alimentos. Isso reduz o inchaço causado pela retenção de água pelo corpo.
– Comer alimentos ricos em cálcio. Isso vai ajudar a reduzir o inchaço e a variação de humor.
– Fazer exercícios aeróbicos. O exercício ajuda a reduzir as cólicas menstruais e melhora o humor. Além disso, eles liberam as endorfinas, substâncias produzidas no nosso organismo que são responsáveis pela sensação de bem estar. O ideal é praticar exercícios moderados, como caminhar, andar de bicicleta ou nadar.
– Adicionar carboidratos complexos à sua dieta, tais como cereais integrais. Isso reduz a fadiga e as variações de humor.
– Tomar uma multivitamina. Embora a teoria de que a TPM é causada pela ausência de vitaminas como A, B6, C e D não seja muito aceita, algumas mulheres sentem-se melhor com o uso de multivitaminas.
– Acupuntura. Tem apresentado muitos benefícios, principalmente a redução do “stress” e das cólicas menstruais.
– Ioga, meditação. Ajudam na redução do stress, diminuindo ansiedade e depressão.