por Arlete Gavranic
Essa é uma pergunta frequente. Últimas pesquisas do ProSex (HCFMUSP) apontam que 22% das pessoas estão com o desejo em baixa.
Muitos elementos podem comprometer o desejo: fatores hormonais, preocupações com a crise, autoestima rebaixada, cansaço, estresse, pouco ou nenhum tempo para cuidados de prazer pessoal e também, relacionamentos desgastados por mágoas e ressentimentos.
Esse é o aspecto mais difícil de ser trabalhado sozinho. Muitas vezes uma terapia é necessária para ajudar a pessoa a ver o que pode ser resgatado e como fazê-lo.
Tudo isso merece avaliação e tomada de atitudes no sentido de fazer algo para promover mudanças. De nada adianta ficar à espera que o desejo reapareça magicamente. Cuidar da saúde, da aparência e do bem-estar: um novo corte de cabelo, uma barba feita e um pouco de atividade física ou caminhada ajudam a aliviar o estresse e a tensão. Comece fazendo isso uma ou duas vezes na semana, vá ganhando gosto até fazer disso um prazer diário. Enfim, é preciso alimentar essa energia de vida e movimento. É preciso verificar se há algo a fazer para equilibrar ou repor os hormônios.
É preciso pensar em sexo
Para que se sinta vontade de fazer sexo é preciso pensar em sexo, pois isso ajuda a estimular as fantasias sexuais e melhoram o desejo sexual. Mas para muitas pessoas só pensar e imaginar não tem trazido muito efeito.
E foi estudando essas questões que Rosemary Basson, uma estudiosa de Vancouver – Canadá, trouxe uma proposta de ativação do desejo através de atitudes sexualizadas que ajudem a erotizar o corpo e trazer à tona, através da excitabilidade, um despertar do desejo.
É como “pegar no tranco”? Sim, ouvi isso de alguns pacientes e achei divertida a ideia deles.
Começar a fazer sexo para daí despertar interesse, ânimo ou vontade é uma estratégia muito utilizada nos trabalhos com pacientes depressivos, onde a melhora e a retomada de energia e alegria de viver surgem como produto de atitudes pró-ativas definidas como necessárias para alavancar um processo de melhora.
Mas como estimular o corpo para fazer o desejo surgir?
Aprender a descobrir as sensações que esse corpo pode proporcionar, aprendendo a se tocar, a se gostar, percebendo e estimulando as sensações. O primeiro passo é se autodeterminar a viver essa busca.
Falar de desejo em uma relação a dois implica em sentir desejo um pelo outro e prazer em estar junto com o outro.
Por isso, ativar o desejo a dois implica em necessariamente se dispor a estar junto, a iniciar a relação com toques carícias e beijos.
Mas sem vontade?
É importante perceber que essa visão romantizada de que temos que ter vontade para fazer coisas é uma ilusão. As pessoas se levantam pela manhã, mas na maioria das vezes gostariam de dormir um pouco mais. Um grande número de pessoas aprende a tirar prazer de atividades físicas, mas não tem um desejo ardente por começar.
Química do beijo
O estímulo corporal deve conter beijos. Não estamos falando de selinhos.
Quando duas pessoas se beijam ocorre a "química do beijo", a troca de substâncias que estimula modificações corporais, os batimentos cardíacos podem aumentar de 70 para 150. Substâncias como a fenietilamina que está ligada a sensações de amor, ou a dopamina que tem relação com a emoção amorosa, as endorfinas que são as drogas ligadas ao prazer; tudo isso começa a ser acordado no corpo. Junto disso, as carícias, beijos e mordiscadas ajudam a despertar o corpo para sensações eróticas.
Essa autodeterminação visa estimular esses comportamentos para que a subjetividade do prazer erotizado e do desejo de estar juntos seja associado ao desejo sexual e desencadeie, gradativamente, um aumento natural do desejo sexual e relacional com a parceria. Trata-se de um processo de resgate ou até de construção de cumplicidade e eroticidade do casal.
Para que esse resgate erótico aconteça, é necessário uma interdependência de aspectos subjetivos de autorizar-se a sentir desejo por sexo, o que implica em resignificar conceitos previamente internalizados de repressão sexual, culpa ou medo e aprender a associar desejo-sexo-erotismo em um eixo relacional possível de ser vivido.
Se o desejo sexual esta diminuído por aquela pessoa – mas continua existindo por outras pessoas (reais ou virtuais) se faz necessário avaliar as mágoas, raivas e até se o comportamento de não desejar – boicotar o desejo que aproxima do outro -. é uma forma de punição a essa pessoa-parceira ou de autoproteção. Se houver a sensação de vulnerabilidade que possa ser destrutiva à relação, ou se algum desses fatores for identificado, a ajuda terapêutica se faz imprescindível.
Uma postura de cumplicidade, criatividade e interesse pelo outro poderá permitir não só o resgate do desejo, mas sua permanência num contexto prazeroso e comprometido com contínuas descobertas.
A atração e o desejo sexual poderão ser mantidos em uma atividade sexual em que os parceiros irão conseguir aprender também a ter prazer dando prazer. Assim o desejo de um potencializa o desejo do outro e a probabilidade desse desejo involuir ficará reduzida.