Por Roberto Goldkorn
Ontem minha mulher me pediu que levasse o lixo para baixo, pois estava se acumulando desagradavelmente. Ao descer no elevador carregando aqueles tantos sacos, me lembrei de outra cena, acontecida dias antes quando subi por esse mesmo elevador carregando sacos cheios do supermercado.
Toda atividade humana gera resíduos, e no plano invisível das energias, provoca algum grau de desorganização. A sociedade sabendo disso cria diferentes categorias de "re-organizadores", como restauradores, coletores de lixo, arrumadores, cirurgiões, mecânicos, sacerdotes etc, a lista é grande. Mas a energia gasta nesse trabalho de "correr atrás do prejuízo" também é muito grande e ainda por cima gera mais desorganização, e contribui com a sua parcela para nos aproximar perigosamente do caos.
Percebi que na minha casa, uma taxa de estresse enorme recaía sobre a minha mulher, que apesar de auxiliada profissionalmente investia muito de seu tempo criativo, e energia para repor a ordem, na desordem resultante das atividades do resto da família. Percebi também que ao decidir diminuir um pouco os resultados desorganizadores das minhas atividades, o bom humor e a disposição da minha mulher aumentavam.
Quando ia na cozinha por exemplo, fazer um suco, não só restaurava a situação do local de antes da minha chegada, mas também aproveitava e lavava alguns talheres, guardava coisas nos armários, ou limpava o fogão. Além de não deixar as marcas da minha atividade, ainda melhorava um pouco a situação que já encontrei quando lá cheguei. Fiz isso independente de convencer as minhas filhas a entrarem no jogo. Comecei a aplicar essa atitude, também com as pessoas, baseando-me no conceito de deixá-las sempre um pouco melhor do que encontrei.
Quando uma palavra de elogio ou incentivo não era possível, pelo menos enviava um pensamento de "carinho, compreensão, saúde e prosperidade" embalado num "raio cor de rosa". Comecei então a aplicar esse princípio nos meus clientes que trabalham em empresas, incentivando-os a melhorar um pouco não só ambientes dentro da empresa como também as pessoas. Os resultados são inacreditáveis.
A ideia por trás da ideia, é que é muito difícil, mudar a si mesmo, é muito difícil parar para passar-se a limpo – é mais fácil mudar ambientes, não muito, mas um pouco. É mais fácil mudar as pessoas (pelo menos parece, não vêm o exército de gurus, pregadores, psicoterapeutas, e libertadores de todas as espécies, que querem mudar o mundo, mas nem tocam no seu mundo pessoal?).
Assim elaborei um sistema, onde essa atitude é formatada, para poder ser aplicada de forma contínua, criando procedimentos adaptados a cada situação de cada empresa. Quando os funcionários resolvem diminuir o seu nível de stress, e criar um lugar melhor onde passam boa parte de sua vida, eles percebem que esse programa é o ovo de Colombo que faltava. Melhorar um pouco, sempre. Deixar o lugar em que estive, a pessoa com quem estive, um pouco melhor, do que a encontrei, essa é a meta.
Usando a criatividade as pessoas na empresa podem criar sistemas facilitadores, para tornar a vida do outro melhor. O outro por sua vez vai sentir que algo de bom está acontecendo, e mesmo que não saiba o que foi que causou essa mudança, irá refletir isso no seu comportamento. Assim forma-se uma corrente, da mesma forma que todos os funcionários se engajam na prevenção de acidentes de trabalho, porque sabem que acidentes não são bons para ninguém, também vão abraçar esse programa por que vão saber que é bom para todo mundo.
Dizem que no Brasil, usamos o lema "por que facilitar se podemos complicar", ou "cria-se dificuldades para vender facilidades". Bem, em ambos os casos a "doença" está presente, a doença da irracionalidade, da burrice – é o sistema daquele que atira no próprio pé.
O futuro já chegou, os comportamentos infantiloides devem ser abandonados em nome da sobrevivência. Os líderes que usavam esses comportamentos como estratégia para vencer, estão descobrindo que os escombros são seu troféu, e que suas mãos estão cheias de sangue. Melhorar um pouco, sempre, em casa na rua e no trabalho. Fazer a sua parte no concerto geral, não se importando se o músico ao lado está desafinando, é entrar no ritmo da vida, é abraçar a vida, é ser mais um elo na corrente do bem.