por Jocelem Salgado
A gastrite caracteriza-se por uma inflamação da mucosa gástrica (estômago) e difere da úlcera por ser uma inflamação global e superficial da mucosa, e não localizada como no caso da úlcera. Na gastrite, a destruição da mucosa não vai além da sua camada muscular e as lesões normalmente cicatrizam completamente.
Entretanto, se a inflamação persistir, pode acabar proporcionando o aparecimento de úlceras que podem causar sangramento severo e agravar o estado de saúde do paciente.
A gastrite pode ser dividida em erosiva e não erosiva e dentro de cada um desses tipos de inflamação, ela pode ser aguda ou crônica. O termo "erosiva" significa que pode causar ulceração rasa (semelhante a uma afta), que não ultrapassa a camada muscular da mucosa. Geralmente, este tipo de gastrite ocorre em pacientes em estado mais grave.
A gastrite aguda é repentina e por vezes, violenta no início. As crises muito frequentemente seguem a ingestão de alimentos específicos, aos quais o indivíduo é sensível, ou o ato de comer rapidamente, ou comer quando se está fatigado ou emocionalmente descontrolado. Ela pode resultar também do uso exagerado do álcool, fumo e alimentos muito condimentados; da ingestão de um agente infeccioso como o Helicobacter pylori ou substância corrosiva, entre outros.
O que é o helicobacter pylori?
É uma bactéria que hoje é considerada a grande vedete da gastroenterologia contemporânea. A descoberta dessa bactéria há apenas cerca de 15 anos por dois cientistas australianos revolucionou o entendimento das úlceras pépticas gástricas e duodenais. Esse agente infeccioso seria hoje uns dos principais responsáveis pela gastrite e pela maioria dos problemas estomacais.
A infecção pelo H. pylori é universal, mas predomina nos países em desenvolvimento, onde metade da população é infectada até os 10 anos de idade. O que diferencia o desenvolvimento da doença é a pessoa ter um mecanismo receptor (uma glicoproteína) capaz de abrigá-la. A bactéria não tem reservatórios na natureza e, portanto, a transmissão se dá entre as pessoas, através do contato direto (talheres, copos, beijo, etc, pois ela se fixa na placa gengival) ou contaminação de água. A taxa de infecção tem uma grande correlação direta com baixos índices sócio-econômicos.
Gastrite crônica
A gastrite crônica é mais comum. Sua causa é pouco conhecida e com frequência ela precede o desenvolvimento de lesões gástricas orgânicas como a úlcera ou o câncer. Estudos mostram que pode ser causada por infecção pelo Helicobacter pylori, que leva a uma resposta inflamatória e enfraquecimento da defesa da mucosa; outros relacionam a gastrite crônica indiretamente a doenças como a tuberculose, insuficiência cardíaca e nefrite.
Existe também um termo muito empregado que é o da gastrite "atrófica". Essa denominação é utilizada para descrever um tipo de gastrite decorrente da idade, pois ela é tão comum que alguns estudos consideram-na um fenômeno do envelhecimento. É uma gastrite que resulta na atrofia da mucosa e diminuição de sua secreção, podendo evoluir para a cancerização. Seu aparecimento em jovens merece atenção especial.
Sintomas e diagnósticos
Os sintomas mais comuns são sensação de queimação na região do estômago, acompanhada ou não de náuseas; dor aguda; dispepsia (sensação de peso no estômago após as refeições); a halitose (mau hálito) está presente em alguns casos, assim como a hematemese (vômitos sanguinolentos) ou fezes escuras.
Inicialmente, o histórico do paciente é muito importante para o médico, entretanto, a endoscopia e exames microscópicos são necessários para a confirmação final de gastrite. Atualmente, a biópsia gástrica é realizada rotineiramente na grande maioria dos serviços de endoscopia para pesquisar a presença do Helicobacter pylori.
Gastrite tem cura?
Sim, a maioria das gastrites tem cura devendo ser tratada a tempo e sempre acompanhada por um Gastroenterologista. A seguir, sugerimos uma orientação nutricional mostrando quais alimentos devem ser evitados e os que são permitidos durante as crises. Mas lembre-se: esta orientação não substitui a necessidade de acompanhamento médico.
Alimentos que devem ser evitados
– alimentos gordurosos e frituras em geral
– frutas ácidas (laranja, limão, abacaxi, morango, acerola, kiwi)
– temperos (vinagre, pimenta, molho inglês, massa de tomate, -katchup, mostarda), picles
– coco, nozes, amêndoas, castanha de caju e do pará, amendoim, e afins
– embutidos em geral (linguiça, salsicha, salames, etc)
– alimentos enlatados e em conserva
– feijão e outras leguminosas
– café, chocolate, chá preto e mate
– bebidas alcóolicas e gasosas
Alimentos permitidos
– leite, queijo fresco branco, ricota
– carnes magras
– ovos cozidos, poches (não fritos)
– verduras e legumes cozidos
– frutas (exceto as mencionadas no item anterior)
– pães brancos, bolachas maria, maizena e água e sal
– arroz, macarrão
– batata, mandioca e mandioquinha cozidos
Doze dicas de prevenção
Veja agora algumas dicas importantes que ajudarão você a prevenir ou controlar problemas com o eu estômago:
1. Nunca fique sem se alimentar por mais de 4 horas. Obedeça aos horários certos para o desjejum, almoço, lanche e jantar.
2. Procure alimentar-se devagar, em ambiente tranquilo, mastigando bem os alimentos.
3. Procure não dormir de "estômago pesado" e evite ingerir alimentos no meio da noite.
4. Dietas ricas em fibras, como frutas, hortaliças e cereais integrais previnem o câncer gástrico, ajudam na normalização do funcionamento do intestino e são benéficas mesmo no tratamento de úlceras e gastrites.
5. O fumo dificulta a cicatrização da úlcera. Deixar de fumar é o ideal, mas reduzir o número de cigarros diários ajuda.
6. Evite tomar aspirinas, anti-gripais e comprimidos para dor em geral, pois podem provocar irritação da mucosa do estômago.
7. Evite refeições pesadas e gordurosas como feijoada, dobradinha, churrasco, etc.
8. Evite frituras em geral, como ovos e batatas fritas, pastéis, bife à milanesa, salgadinhos em geral, etc.
9. Alimentos muito condimentados como picles, alguns legumes como pimentão e beringela, são de difícil digestão. Se você perceber que seu estômago não "aceita" esses alimentos, evite-os.
10. Os refrigerantes são bebidas ácidas e gasosas que, além de irritarem o estômago causam desconforto devido à expansão dos gases. Prefira tomar água sem gás e dê preferência a sucos naturais.
11. Bebidas alcoólicas, quando tomadas de estômago vazio, são irritantes da mucosa do estômago e causam desconforto desnecessário. Não beba em excesso ou de estômago vazio.
12. Existem estudos mostrando que o alho tem um papel importante na prevenção do câncer gástrico. Abuse desse alimento no preparado de suas refeições.