por Monica Aiub
Há pessoas que precisam resolver suas questões para que se sintam bem. Não gostam de pendências, de projetos abandonados, de coisas deixadas para trás. Necessitam ir até o fim com suas questões, colocar um ponto, ainda que não seja, necessariamente, um ponto final. Finalizar projetos, resolver problemas, acabar com seus incômodos, cumprir as tarefas até o fim são alguns indicativos do uso do Submodo "Em direção ao desfecho".
O que é um Submodo?
Submodo é um dos eixos do instrumental de trabalho do filósofo clínico. Enquanto o partilhante (ou paciente) conta sua historicidade, o filósofo clínico observa três eixos que compõem o instrumental da filosofia clínica: Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos (clique aqui) para saber mais e também aqui.
Submodos são modos, maneiras, subordinados aos eixos anteriores – Exames Categoriais e Estrutura de Pensamento, e podem ser observados de duas maneiras: como Submodos informais, ou seja, como a pessoa informalmente resolve suas questões, posiciona-se, movimenta-se existencialmente; e como procedimentos clínicos, ou seja, provocações do filósofo clínico ao partilhante objetivando movimentações. Há 32 Submodos a serem observados e considerados no instrumental da filosofia clínica, contudo, eles dificilmente aparecem isoladamente, o que faz com que as possibilidades de diferentes modos para lidar com as questões se ampliem. Mais especificamente, um Submodo não é apenas uma característica da pessoa, é uma forma de situar-se no mundo, de agir, de movimentar-se. Sempre que há movimentação, há um ou mais Submodos atuando.
É pesquisando esta atuação que ocorre nas movimentações existenciais que o filósofo clínico compreenderá como a pessoa se move, e quais os resultados de tais movimentações. Há Submodos cujos resultados são excelentes, pois não apenas resolvem as questões como trazem bem-estar à pessoa; mas há Submodos que geram mais problemas, ou que afetam a pessoa de modo tal que melhor teria sido não se movimentar. Os Submodos que apresentam bons resultados à pessoa são utilizados em clínica, como procedimentos, assim como outros que se façam necessários. Às vezes, o trabalho do filósofo clínico é compor novas formas a partir das já existentes; outras vezes, consiste em auxiliar a pessoa a aprender novos Submodos; em alguns casos, não se trata da utilização de Submodos pela pessoa, mas da utilização destes pelo filósofo clínico para alterar pesos na Estrutura de Pensamento, ou promover reflexões sobre os contextos, as relações e os ambientes do partilhante.
Submodos são formas vazias, preenchidas pelos conteúdos da historicidade do partilhante. Por isso, não há regras prévias sobre como utilizá-los. A forma e a linguagem mais adequadas para sua utilização serão descobertas a partir dos dados apresentados pelo próprio partilhante. É preciso aprender sua linguagem, seu universo existencial, seus modos de vida, para somente então, pensar junto com ele, provocá-lo à reflexão. Sem o conhecimento acerca do universo do partilhante, de sua linguagem e de seus modos de viver não há como saber o caminho adequado para tais provocações.
Em direção ao desfecho
Voltando ao Submodo "Em direção ao desfecho", sua atuação informal implica em ir até o fim, em colocar um ponto final nas questões, ainda que elas possam se abrir novamente mais adiante. É muito comum à pessoa que possui este Submodo exigir-se ir até o fim, concluir, encerrar algo. Mas sem o conhecimento sobre os contextos da pessoa, sobre suas formas de ser, pensar, sentir e agir não é possível ao filósofo clínico provocá-la a seguir adiante, a ir até o fim de uma questão. É preciso não somente conhecer as formas corretas para provocar as movimentações, como também as implicações que poderão ocorrer com a movimentação existencial do partilhante.
Se alguém acostumado a "ir até o fim" com suas questões não o faz, algo aconteceu para provocar isso, e é preciso descobrir os motivos antes de instigar movimentações. Imagine que alguém está à beira do precipício e não sabemos disso. Empurrá-lo será um crime. Imagine que alguém tenha planejado fazer algo sem saber que esse algo poderá destruí-lo, ainda sem se dar conta disso, trava e não segue adiante. Instigá-lo a ir até o fim significa destruí-lo. Por isso o filósofo clínico nunca faz uso de Submodos sem antes investigar muito bem de que se trata a questão, como é o universo que a pessoa habita e como ela se situa nele; também observa como a pessoa se constituiu até aquele momento, e quais são suas tendências a movimentar-se, a partir dos padrões utilizados até então. Não se tratam de dados exatos, milimetricamente calculados e sem perspectiva de erros. O conhecimento que adquirimos com o processo clínico é aproximado, apresenta indicativos de caminhos, passíveis de erro e de atualização.
O fato do conhecimento ser aproximado, e precisar de constante retificação ou ratificação, é um dos motivos pelos quais o partilhante precisa ser autônomo. O papel do filósofo clínico não é conduzi-lo, mas provocá-lo a investigar, observar, refletir a fim de encontrar os melhores caminhos para suas questões. A condução do processo é feita pelo partilhante e para o partilhante, e a contribuição do filósofo clínico para a partilha são os métodos filosóficos, construídos na história da humanidade para pesquisar, investigar a realidade e nos auxiliar na escolha dos melhores caminhos para nós, para o outro e para o mundo no qual habitamos.
Se o partilhante necessitar de desfechos, esses serão investigados, pesquisados e, se for o caso, provocados. Contudo, se algo for observado que não indique esse caminho, outros Submodos poderão ser utilizados, ainda que necessitem ser aprendidos. Assim, pesquisa sobre si mesmo, sobre a realidade que nos rodeia e suas possibilidades, aprendizagem, reflexão são características essenciais de um trabalho em filosofia clínica.
Desfecho
Você leitor, precisa ir até o fim em seus projetos, resolver suas questões para sentir-se bem?
Há projetos que deveriam ser abandonados por algum motivo?
Que motivos você tem para prosseguir ou abortar seus projetos?
Que motivos você tem para resolver suas questões ou deixá-las em aberto?
Como você se sente diante das situações "não resolvidas"?
Estas são algumas perguntas sobre desfechos, sem querer provocá-lo a desfechos irrefletidos.
É importante lembrar que seja qual for a forma que escolhemos para lidar com nossas questões, há implicações derivadas delas, e é fundamental conhecê-las para realizar uma boa escolha acerca do caminho a ser trilhado. Não há receitas, mas o conhecimento de si, do outro e do mundo pode ser um forte aliado.
Para saber mais:
AIUB, M. Como ler a filosofia clínica: Prática da autonomia de pensamento. São Paulo: Paulus, 2010.
_____. Para entender filosofia clínica: O apaixonante exercício do filosofar. Rio de Janeiro: WAK, 2004.
AIUB, M.; HACK, O. Amizade, conhecimento e equilíbrio interior: A filosofia clínica nos Jardins de Epicuro. Rio de Janeiro: WAK, 2012.
CARVALHO, J. M. Diálogos em filosofia clínica. São Paulo: FiloCzar, 2013.
COSTA, C. M. Filosofia Clínica, Epistemologia e Lógica. São Paulo: FiloCzar, 2013.