por Elisandra Vilella G. Sé
A Lei No 10.741 que define a Política Nacional do Idoso e dispõe o Estatuto do Idoso e outras providências (Congresso Nacional – 2003), aponta com clareza a necessidade de se formar pessoal de nível superior para atendimento às demandas dos idosos, de se produzirem conhecimentos sobre os processos de envelhecimento e de se criarem Universidades Abertas à Terceira Idade.
Mas é de suma importância que o professor de uma Faculdade para a Terceira Idade tenha conhecimento gerontológico, isto é, do desenvolvimento físico, psicológico e social do idoso, com a consciência de que a população mais velha possui características peculiares.
Os conteúdos desenvolvidos pelas Universidades Abertas à Terceira Idade, estimulam as possibilidades individuais, a consciência crítica, a reflexão, a autonomia, o exercício de cidadania, aumento das redes de relações, as relações intergeracionais, abrem horizontes para novas ideias criativas, proporcionam o aumento da cultura, do lazer, da atividade física e mental, valorizam as histórias de vida, os resgates de experiências, a quebra de tabus e preconceitos com relação à velhice. Enfim, possibilitam novas formas de melhorar a qualidade de vida e a adaptação social das pessoas adultas e idosas.
Experiências têm mostrado que quando as pessoas ao longo do seu desenvolvimento possuem oportunidades adequadas para adquirir e colocar em práticas seus conhecimentos, aprimorar habilidades, manter relacionamentos sociais significativos e a motivação… melhoram o seu bem-estar.
Com o envelhecimento populacional o desafio está em atuar junto a essa demanda com conhecimento e competência, baseando o ensino numa metodologia que valorize o diálogo e aproveite as capacidades cognitivas e as competências socioemocionais adquiridas pelos idosos. Deve-se levar em consideração as características específicas dessa clientela e as experiências acumuladas ao longo do curso de vida que conferem aos idosos a autonomia para decidir como e o que aprender, constituindo isso num espaço educacional permanente que ofereça um bom envelhecimento e uma boa longevidade.
A necessidade de aprender apresenta um significado próprio em cada fase da vida que se expressa de forma característica e por meio da busca de novos objetivos.
É de suma importância que a instituição seja responsável pela busca de conhecimentos básicos sobre velhice e de aprimoramento de habilidades dos idosos, delineando programas para atender de forma adequada e relevante suas necessidades. Para tanto torna-se fundamental que o corpo docente mesmo sendo de origens educacionais e estratos etários diferenciados, tenha formação mínima em temas sobre a velhice ou busquem se aperfeiçoar no campo da gerontologia educacional, biomédica e social.
A literatura internacional e nacional, faz poucas referências aos professores que participam das Universidades da Terceira Idade. No Brasil não existe uma área definida para formação desses docentes. A formação geralmente é feita pelas próprias universidades, ou seja aproveitando os professores lá existentes e profissionais que às vezes estudam Gerontologia no nível especialização. Na França e na Espanha existe uma educação gerontológica específica para professores de adultos e idosos.
Para muito pesquisadores a velhice é uma categoria social e historicamente produzida, portanto existe uma diversidade de forma pelas quais o envelhecimento é concebido dentro de uma sociedade. Então a representação sobre a velhice, as categorias de idade a partir da qual as pessoas são consideradas velhas, o papel social que exercem na sociedade, o status do velho em determinados grupos, o tratamento que lhe são dados pelos jovens, o respeito aos seus direitos, também as doenças que acometem mais os idosos ganham diferentes interpretações e significados em contextos históricos, sociais e culturais distintos. Com isso, fica evidente a exigência de profissionais qualificados, uma equipe multiprofissional com maiores conhecimentos em gerontologia.
Um programa de capacitação de profissionais na área gerontológica é fortemente relevante no sentido de aprimorar a formação dos profissionais que se interessam em atuar com a população idosa esclarecendo as explicações das mudanças típicas do processo de envelhecimento e seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e sócioculturais, capacitando-os para a assistência à saúde do idoso até às abordagens mais específicas.
Um programa de capacitação profissional em gerontologia também tem que ser pensado para incluir uma gradual especialização dos serviços considerados úteis e relevantes pela população, bem como analisar a demanda local e regional de atuação dos profissionais, qualificando o impacto das ações sobre a realidade da população idosa. Deve-se criar associações profissionais específicas capazes de estabelecer critérios para a diferenciação de pessoas qualificadas e não qualificadas e a constituição de um código de ética a ser seguido pelos qualificados. O estabelecimento de uma formação específica baseada num corpo de conhecimentos, métodos e dados de pesquisas e por fim o desenvolvimento de uma cultura entre os membros envolvidos, que venha a constituir um novo paradigma na formação dos recursos humanos e no modelo de educação aos idosos.
Ator social
Um dado interessante é que poucas instituições de ensino e cursos de graduação preparam o formando para conhecer esse grupo que cada vez mais afirma seu papel como ator social. Nas unidades de ensino aparecem apenas alguns tópicos voltados para a temática da velhice. A formação profissional dos profissionais da área de geriatria e gerontologia acontece quase que exclusivamente através de cursos de pós-graduação, geralmente especialização.
Sabemos que o processo de envelhecimento é complexo e inclui vários aspectos inter-relacionados nos âmbitos biológicos, psicossociais e culturais, isso significa que a formação dos profissionais pode ter enfoques específicos, mas que uma base geral de conhecimentos sobre os diferentes aspectos do envelhecimento é imprescindível.
É preciso desenvolver uma visão ampla dos processos de envelhecimento e de suas condições. Assim, o envelhecimento como área de intervenção, aponta para a ruptura do pensar segmentado e exige interpretações e saberes que permitem a criação e a ressignificação de conceitos e concepções, conferindo à capacitação profissional um caráter interdisciplinar.
A educação deve ser um processo contínuo e permanente vivido pelo ser humano por toda a vida, não só pelo contato com a escola e universidades, pelo sistema formal, mas também por meio da sociedade que transmite, conserva e aperfeiçoa seus valores. Em “Pedagogia da Autonomia”, FREIRE (1996) diz: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. E o aluno adulto e idoso desenvolve uma habilidade mais intelectual, quer experimentar, vivenciar.
Os idosos que frequentam um programa de Faculdade Aberta à Terceira Idade são pessoas ativas, engajadas, motivadas que recriam a velhice como tempo de adquirir novos conhecimentos, realizar projetos deixados de lado ao longo da vida.
Esse idoso cuida de si e se valoriza quando se sente produtivo. Ele desenvolve atividades artísticas, culturais, aprende línguas estrangeiras e quer conhecer seus direitos e sentir que é respeitado pela sociedade que ajudou a construir. "As universidades destinadas aos idosos são potencialmente locus para a construção de projetos que se constituam em verdadeiros instrumentos no exercício da cidadania".