por Elisandra Vilella G. Sé
O amor e a sexualidade não estão condicionados apenas ao corpo físico, nem atrelados exclusivamente à idade biológica, estão também inscritos nos universos que tratam da cultura, da história e de nossa subjetividade. Não é porque a pessoa alcançou determinada idade que ela não poderá se apaixonar novamente e vivenciar um grande amor, uma relação duradoura e significativa. Não necessariamente precisa deixar de lado os sentimentos em função de uma convenção social. Aos velhos é permitido amar da mesma forma que os jovens, porque o amor e a sexualidade fazem parte de toda uma vida. As categorias etárias não são suficientes para aprisionar o desejo e a paixão.
Infelizmente na sociedade ocidental moderna prevalece a ideia de que os jovens são os responsáveis pela reprodução da espécie e aos velhos é atribuída a espera da morte. No caso das mulheres a situação é mais chocante, o corpo feminino é visto como o receptáculo para a concepção de uma nova vida e depois da menopausa, muitas mulheres acreditam que a função sexual e a sexualidade devem ser aposentadas e que não vão conseguir um bom desempenho sexual. Sabemos que com o avançar da idade nosso corpo sofre modificações, e desde que não haja a incidência de doenças crônicas degenerativas, entre outras, nada impede que as pessoas com mais idade tenham uma vida sexual prazerosa. Amor, sexo e prazer deve estar presente em todos os relacionamentos, até mesmo nas pessoas de mais idade.
Com relação aos relacionamentos, na velhice a diminuição do número de parceiros sociais e a redução do contato social refletem a relativa perda de significado de algumas metas e do significado das emoções na vida dos idosos. A redução do contato com os amigos é maior para os homens do que para as mulheres. Isso porque os interesses são diferentes, as mulheres estão mais voltadas para o outro, buscam mais contatos sociais e aumentam suas redes de relações.
O vínculo com irmãos parece fornecer uma proteção contra a depressão. O contato com filhos e netos é importante para o bem-estar subjetivo. A interação social é cada vez mais motivada pela regulação da emoção e menos motivada pela obtenção de informação.
Relações sociais são fontes de felicidade e saúde
RYFF e SINGER (2001) pesquisadores em psicologia do envelhecimento, afirmam que os relacionamentos sociais são a maior fonte de felicidade, ajudando no controle do desprazer e na manutenção da boa saúde. Em estudo sobre emoções e relações sociais no envelhecimento, procuraram entender os mecanismos pelos quais as relações contribuem para o bem-estar emocional e que tipos de interações são mais satisfatórias. Concluíram que as relações em que as pessoas estabeleciam uma ligação mais segura e duradoura e experimentavam afetos positivos estavam mais associadas com o alto bem-estar afetivo. Já pessoas que tinham ligações inseguras ou que evitavam contatos demonstraram baixos níveis de bem-estar emocional.
Em pesquisa realizada em 2003 na Unicamp, com idosas na qual investiguei o conteúdo dos discursos de mulheres idosas, foi possível identificar emissões referentes às experiências afetivas, consideradas como emissões subjetivas, e emissões relativas a experiências de vida prática, consideradas emissões objetivas. As experiências afetivas foram relatadas quando falavam do tema: “O namoro no tempo de juventude”. Sobre esse tema as idosas fizeram uma reflexão sobre suas experiências afetivas vivenciadas não só no tempo de juventude, mas em todo o curso de vida.
As mulheres idosas valorizavam as experiências do passado, mostrando-se motivadas para relembrar essas experiências. No segundo tema, sobre a sua vida prática atual, as idosas relataram experiências afetivas atuais e falaram sobre o sentido que as atividades práticas têm em suas vidas. Reproduzir experiências afetivas e ações vivenciadas no passado e no presente, provavelmente faziam com que elas se sentissem como fonte de informação, uma forma de se sentirem valorizadas e de manterem sua imagem social.
As emissões (relatos) positivas subjetivas foram principalmente relativas aos valores que as idosas davam aos relacionamentos, às amizades e à vida familiar. Elas demonstraram satisfação em lembrar-se de suas experiências afetivas do tempo de juventude. As que não tiveram namorado falaram de experiências de outras pessoas, explicaram as razões do não-namoro e do não casamento e, igualmente, avaliaram essas condições. Seus discursos foram mais curtos.
Para as mulheres que foram casadas ou que tiveram relacionamentos estáveis, as emissões negativas objetivas ao primeiro tema foram associadas a experiências negativas vivenciados com o companheiro. As solteiras relataram experiências ruins que alguém da família havia vivenciado, demonstrando revolta pelo sofrimento e medo de se envolver afetivamente com alguém.
Quanto às emissões negativas subjetivas foram principalmente relativas a lembranças tristes e desagradáveis com relação à família, e que impediram as idosas de dar continuidade aos seus relacionamentos afetivos. As idosas solteiras foram as que mais revelaram sofrimentos relacionados com desilusão amorosa e problemas que experenciaram com os pais e com o namorado. As viúvas revelaram tristeza sobre a vida afetiva atual, relatando saudades do companheiro e falta de um outro relacionamento estável e com significado.
Ao tratar das relações na velhice, sabemos que ainda existem estudos exaustivos a respeito, porquanto, o sujeito é novo e vasto e os conhecimentos a respeito estão em constante aprofundamento. O envelhecimento pode ser visto hoje como uma trajetória de conquistas, uma vez que muitos esforços têm-se despendido para se alcançar a longevidade e velhice bem-sucedida. As mulheres compõem a parcela maior dessa população envelhecida, apesar de estarem mais vulneráveis às doenças, à violência, à depressão, à perda de papéis sociais, à discriminação, situações que as expõem a fatores de risco e estresse.
A mulher no processo de envelhecimento, além de vivenciar mudanças na área da sexualidade, menopausa, climatério, entre outras mudanças orgânicas, vive simultaneamente mudanças psicossocioculturais, que irão exigir maior adaptação por parte da mulher. Assim nem todo envolvimento estará ligado ao funcionamento do corpo e sim aos aspectos subjetivos, afetivos e significativos.
Uma senhora me disse certa vez em forma de poesia, que o amor que sentia pelo novo namorado que conhecera após a viuvez, era um amor silencioso e transparente, é grito sem voz, é amor entorpecente, é amor irresponsável e sem virtude é emoção de juventude.