por Ceres Alves de Araujo
Criar, cuidar, educar um filho e fazê-lo bem não é tarefa fácil, especialmente nos tempos atuais. A tarefa se torna muito mais complexa quando se trata de filhos gêmeos ou trigêmeos.
Os procedimentos da fertilização assistida têm aumentado a frequência de nascimentos de dois ou mesmo de três filhos. A surpresa, e mesmo o encantamento inicial dos pais, dá início a um processo importante de adaptação à nova circunstância. Modificam-se na casa espaços físicos e ajustamentos na vida das pessoas da família se fazem necessários.
Depois do nascimento, muito tempo será dispendido nos cuidados aos filhos. De forma objetiva, é preciso simplificar a vida para não se perder tempo. Ajudas poderão ser muito bem-vindas!
Entretanto, o que é importante abordar aqui, é a necessidade de estimular a individualidade de cada filho. Isso vale para filhos de idades diferentes e é essencial em se tratando de gêmeos ou trigêmeos. O ser humano possui uma determinação genética que, interagindo com a circunstancialidade que o envolve, torna possível diferentes trajetos de desenvolvimento. Isso garante que cada ser humano seja único sempre. Assim, mesmo gêmeos univitelinos ou idênticos se desenvolvem como uma experiência de vida única.
Urge então buscar descobrir, valorizar, incentivar e respeitar as peculiaridades e as preferências de cada um. Vão contra isso determinadas atitudes que são frequentes nas famílias que têm gêmeos, como vesti-los iguais, chamá-los de gêmeos e não pelos nomes, dar brinquedos iguais, não diferenciar seus pertences etc. O mesmo pode ser pensado para os trigêmeos.
Talvez por terem vivido juntos no útero da mãe ou talvez por terem a mesma idade, gêmeos sentem falta um do outro, apreciam ficar juntos e se sentem seguros assim, o que deve ser respeitado. Porém, ensiná-los a se entreterem sós, a apreciar a sua privacidade torna-se necessário ao longo do desenvolvimento.
Ao entrarem na pré-escola, o fato de ficarem juntos num primeiro momento, dá a eles segurança, mas depois é importante a inserção em classes diferentes. Se, no início da vida, dormir no mesmo quarto é prazeroso, posteriormente quartos diferentes, se a casa tiver condição disso, pode ser mais interessante, principalmente se forem de sexos diferentes. À medida que crescem, eles precisam ser consultados quanto a essas mudanças.
A diversidade costuma aumentar, progressivamente, no decorrer dos anos e da pré- adolescência em diante, as características individuais começam a se fazer marcantes. Surgem as identificações diferentes com o pai ou com a mãe e, em função disso, o partilhar de interesses diversos. Para os pais se identificar mais com um filho que com o outro, não significa gostar mais de um que do outro, mas simplesmente possibilidades de partilhar experiências que podem ser muito enriquecedoras. Entretanto, é necessário que isso não signifique uma divisão constante.
É importante não fazer comparações entre os filhos. No caso de filhos da mesma idade, a comparação pode ser pior ainda, pois não há o desconto nem da diferença de idade.
Na adolescência, as diferenças costumam se tornar mais marcantes, e o importante, mesmo no caso de gêmeos, é que eles continuem a crescer descobrindo o que realmente faz sentido nas suas vidas, o que lhes faz bem e possam, dessa forma, descobrir a própria identidade e começar a construir valores e uma ética pessoal que os defina como seres humanos individualizados.