por Danilo Baltieri
Resposta: Tem havido recentemente intenso esforço governamental, tanto estadual quanto federal, na criação e desenvolvimento de serviços especializados no tratamento dos problemas associados com o uso de cocaína/crack.
Centros de referências, centros de atenção psicossocial, comunidades terapêuticas, ambulatórios especializados e de pesquisa, enfermarias inseridas em hospital geral, grupos de mútua ajuda têm concentrado as principais formas de abordagem para esse grave problema de saúde pública: a síndrome de dependência de cocaína/crack.
Como um exemplo, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) tem engendrado grandes esforços no desenvolvimento de planos de enfrentamento ao crack, com ações em todos os estados do país.
Os graves problemas relacionados com o consumo dessa droga ultrapassam barreiras nacionais, políticas e culturais. Portanto, não é um problema apenas do Brasil. As várias ações que têm sido desenvolvidas visam à contenção do avanço da problemática e o manejo daqueles que já têm o problema instalado.
Infelizmente, os usuários de crack postergam ao máximo a busca por tratamento e restringem-se às situações agudas, na vigência das quais preferem abordagens em ambientes de internação, com baixa adesão ao tratamento ambulatorial posterior. Além disso, é bastante comum nessa população a existência de outros problemas mentais associados, o que complica ainda mais a adesão ao tratamento e a consequente abstinência da droga.
Por outro lado, infelizmente, não há até o presente momento qualquer medicação aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento farmacológico dessa condição, o que ainda mais complica a abordagem eficaz dessa doença. Nos últimos trinta anos, inúmeros medicamentos foram testados para o tratamento da dependência de cocaína/crack, mas os resultados têm sido ineficazes para a maioria, não conclusivos para boa parte e parcialmente eficazes para uma minoria.
Como tenho reiteradamente comentado em respostas prévias (clique aqui e leia), o fato de não existirem medicações aprovadas para o tratamento dessa condição, não significa que não existam tratamentos eficazes para tal. Apesar disso, esse fato dificulta o manejo de uma doença que tem raízes neurobiológicas, caracterizada por intenso descontrole comportamental e alta fissura.
Usuários de crack, quando comparados aos de cocaína inalada, comumente demonstram um padrão mais grave de consumo da droga, mais envolvimento com atividades ilegais, maior chance para demonstrar problemas físicos e psicológicos relacionados ao uso da droga, maior envolvimento com prostituição e maior risco para viver nas ruas. Embora o consumo de crack tenha sido mais prevalente entre pessoas de classes sociais mais baixas, a droga tem também sido utilizada entre grupos sociais financeiramente mais favorecidos.
Dentre todos os pacientes que procuram tratamento para problemas relacionados com o consumo de substâncias psicoativas, aqueles dependentes de crack estão entre os que menos aderem ao tratamento. Isso está relacionado com a gravidade da doença, com a multiplicidade de problemas que eles apresentam, com os problemas legais adjuntos, baixa habilidade social, baixa participação familiar e tratamentos eficazes.
Todos estes fatores em conjunto colaboram para as dificuldades no manejo de dependentes de crack. Acredito que mais incentivo governamental e de instituições de fomento às pesquisas para o tratamento dessa condição deve ser urgentemente realizado no Brasil.
O perfil de muitos usuários de crack (idade jovem, desempregado, problemas financeiros, provenientes de famílias desfeitas, comportamentos sexuais de risco associados, associação com outras drogas, status jurídico – condição do indivíduo diante da Lei) colabora para um resultado negativo quanto à adesão e efetividade de tratamento. Além disso, outro fator que contribui para a adesão ao tratamento é a pobre conscientização dos usuários quanto ao próprio problema com a droga.
SERVIÇO
Site com informações sobre encaminhamento de usuário de crack: www.senad.gov.br