Por Marisa Micheloti
No artigo anterior comecei uma série que aborda reflexões a respeito das várias maneiras de união que definem nossa sociedade pós-moderna. As estatísticas mais atuais apontam um grande índice de divórcios pairando pelas diversas culturas.
Comentei que existem muitas maneiras de se estabelecer relações e que o casamento está submetido a um fenômeno com funções, regras e experiências normativas claras e específicas. Existe nesse momento um contrato vincular real e um imaginário individual que se unem em um projeto de vida comum. São ambos iniciantes e vão desbravar esse novo momento juntos. Essas são situações que se referem a um primeiro casamento onde ambos são solteiros.
Começar de novo
Porém, esses casamentos têm-se desfeito e estamos nos deparando com uma série de outras situações que trazem aos profissionais de saúde a necessidade de observar, estudar e avaliar todas essas transformações que estão presentes em um re-casamento. A história de re-casamentos não tem séculos de existência, portanto todos estão em um caminho de descobertas, sejam os profissionais, sejam os recasados mas notamos que o divórcio tornou-se algo natural.
Percebe-se que o re-casamento passa por um processo de desconstrução da instituição de um primeiro casamento. Quando um primeiro casamento não perdura, o término do mesmo traz uma série de aprendizagens e resistências que serão levadas ao outro casamento e podem ser depositadas de forma positiva ou negativa. Homens e mulheres estão saindo machucados, decepcionados, aliviados, temerosos e muitos com uma grande sensação de insucesso. O amadurecimento é a conseqüência nítida nos indivíduos que percorreram esse caminho.
União de descasados
As pessoas que decidem recasar sentem-se muito inseguras e com medo de uma repetição de situações que possam trazer os mesmos sentimentos indesejados da relação anterior. Se essa re-união for estabelecida com alguém que já teve um casamento, nota-se que existe uma linguagem mais fácil na construção de um novo contrato. Ambos se separaram, ambos recomeçaram e o ponto de partida é o mesmo. Existem histórias diferentes, mas situações de casamentos anteriores comuns.
União de um solteiro e um descasado
A adaptação de um solteiro a um descasado requer um tempo maior, o solteiro está no envolvimento da possibilidade de um ‘Felizes para sempre’ e o ex-casado tem em seu universo a possibilidade de que laços afetivos podem não ser constantes. Ambos precisam ter essa consciência e a tolerância necessária para que essa nova união estabeleça fortes raízes. Mas uma coisa é muito importante: um honesto diálogo que caiba a discussão dos fantasmas a respeito dos medos de não dar certo esse segundo casamento e a insegurança de ser abandonado por alguém que já se separou.
O matrimônio hoje não é mais visto como a única maneira do indivíduo ser aceito pela sociedade. O divórcio, os novos casamentos, os solteiros convictos, movimentaram a sociedade e criaram novos paradigmas para as possibilidades de uma união mais verdadeira e autônoma. Torna-se apenas necessário aparar arestas que ainda estão surgindo e construir uma história diferente a do casamento anterior.