por Angelo Medina
Se você recorre a mil critérios esotéricos para escolher o nome que vai dar para o seu filho ou para a marca que terá a sua empresa. Talvez, você passe a ter uma outra atitude ao ler esta entrevista com José Roberto Martins. Ele é especialista em gestão e avaliação de marcas e autor do livro Presságios O Livro dos Nomes. José Roberto explica como escolher o melhor nome para pessoas, empresas ou marcas.
Vya Estelar – Vale a pena planejar o nome de um filho ou empresa?
José Roberto Martins – Vale sempre a pena pensar muito (mesmo) antes da adoção de um nome, seja para pessoas, seja para os negócios. A questão é: esse é o melhor momento para refletir a respeito de tudo o que é importante para cada pessoa em particular. Por exemplo, os esotéricos irão ponderar a respeito da "melhor sorte" do nome, apelando para a numerologia, cabala e etc. Os ligados em estética irão refletir a respeito do "layout" do nome, dando-lhe ares mais sofisticados, belos, ou seja lá o que consideram plasticamente superior. É também a hora das homenagens a amigos, parentes, ou lembranças de um passado agradável, onde as palavras-chave irão se converter em nome de algo ou alguém (cerca de 70% dos nomes estão na categoria das homenagens). Se não houver atenção nesse momento, o perigo é optar por um nome que, quase sempre, agrada apenas aos pais. Nos nomes comerciais, o perigo é escolher nomes restrititivos, que não tenham a cara do produto, sejam diferenciados ou que não possam ser registrados.
Vya Estelar – Quais são os principais critérios que devem ser utilizados para esta escolha?
José Roberto Martins – A primeira recomendação é a calma. Avaliar todas as fontes primárias de nomes e fazer a lição de casa, começando com experiências. Embora a média das pessoas não dêem muita atenção, criar nomes é um trabalhão, o que exige horas de pesquisas e debates. Posso colaborar sugerindo que, se for para dar nome a uma pessoa, a dica é avaliar o "conjunto" do nome, e não apenas o som ou a "cara" do primeiro nome. Nome, nome do meio e sobrenome devem se harmonizar, o que não é o caso de "Jennifer Stéphannie da Silva" ou "Rosinéldison de Souza", que soam estranhos. Se o objetivo for dar nome a empresas, produtos ou serviços, além da estética cabe verificar se o nome pode ser registrado no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Hoje, existem mais de 1 milhão de nomes registrados, e não é nada fácil inventar uma marca que seja atraente e, ao mesmo tempo, que possa ser uma propriedade.
Vya Estelar – Na hora de escolher um nome para alguém, o que deve ser evitado?
José Roberto Martins – Além da harmonia já comentada, o ideal é não fazer um nome muito comprido. Nome, nome do meio e sobrenome formam o tamanho ideal. Em seguida vem a diferenciação, por exemplo, para compensar um sobrenome muito comum como Souza, Ferreira, Silva ou Fernandes vale a pena ir em busca de um nome do meio diferenciado, talvez de um parente imigrante da mulher ou do marido. Se o resultado formar um nome equilibrado e aparentemente diferenciado, o caminho pode ser esse. Não recomendo deter-se muito a rituais esotéricos, jogando no lixo o bom senso, que, no final, é o mais importante.
Vya Estelar – É possível eu saber se o nome que eu tenho é um nome adequado para mim?
José Roberto Martins – Afinal, o que é um "nome adequado"? Cada um é que sabe, já que cada um é que terá que conviver com o próprio nome. Nomes que soam hoje inadequados, já foram adequados para pelo menos duas pessoas no passado (seu pai e sua mãe), às quais não cabe a menor dúvida sobre quererem o melhor para nós.
Vya Estelar – Caso uma pessoa não goste do nome que tem, o que o senhor aconselha?
José Roberto Martins – Infelizmente, para quem não gosta do próprio nome, a má notícia é que o melhor nome é o que se tem, já que os meios legais para mudar de nome são muito restritivos, além de muito caro e trabalhosos. Do ponto de vista emocional, pesquisei esse assunto por mais de 3 anos e não encontrei casos exemplares de pessoas que mudaram o nome e conquistaram uma sorte melhor, por causa disso.
Vejam ao redor e reflitam sobre "Baby do Brasil" (antes Baby Consuelo), Jorge Benjor (antes Jorge Ben) e outros. Como eu já mencionei, o segredo está no nascimento do nome; a hora é essa. Depois, não adianta querer trocar de destino, já que não há garantias sobre se o novo será melhor que o antigo.
As pessoas devem se preocupar com o significado ou a sorte dos nomes no momento em que dão os nomes, e não depois. Isto é, certas pessoas imaginam que indo ao numerologista ou ao guru da hora e pedindo um estudo do nome ou um arranjo combinatório qualquer, suas vidas irão melhorar, ganhando mais dinheiro, fazendo sucesso profissional e etc. Minhas pesquisas indicam que não se pode trocar o destino, simplesmente mudando o nome.
Tudo o que tiver que ser feito de esoterismo com os nomes, deve ser feito no nascimento do nome. Ou seja, antes de dá-lo a alguém ou algo. Fazer a lição de casa, enfim.
Quem garante?
O que será melhor: trocar a saúde pela fortuna ou a fortuna pela saúde? O emprego atual por um novo ou uma cidade por outra? Quem garante que será melhor? O novo nome? É pouco provável. Vamos ser práticos: se você é motivo de chacota ou tem traumas sérios devido a problemas sociais ou familiares, a dica é adotar um bom apelido e casar-se como ele, exatamente como fez o Pelé e o Silvio Santos. Se der para evitar, o melhor a fazer é conviver com o nome e tentar tirar dele tudo o que puder. Fazer do limão a melhor limonada.
Vya Estelar – Quando uma pessoa adora o seu nome, isto de alguma maneira vai refletir positivamente na vida dela, de que forma?
José Roberto Martins – Tanto quanto se ela tivesse um nariz mais bonito ou um belo corpo. A auto-estima também vai nos nomes. Conheço pessoas muito interessantes com nomes ruins, e pessoas muito chatas com nomes bonitos. Já namorei mulheres bonitas com nomes esquisitos e não me arrependi. Conheço pobres com nomes feios, e ricos com nomes nem tanto. É quase sempre uma questão de equilíbrio emocional, e quase nunca dá para culpar o nome por alguma coisa, exceto pelo incômodo dos homônimos, daí a diferenciação.
Vya Estelar – Podemos gostar mais ou menos de uma pessoa por influência do seu nome?
José Roberto Martins – Nós somos uma espécie muito ligada à estética, infelizmente. Temos o hábito de julgar quase tudo pela aparência, inclusive os nomes das pessoas. Eu acredito que quem dá muito valor a isso, também indica a tendência de dar menor valor ao conteúdo das pessoas, o que pode indicar a existência de outros defeitos. Quase sempre é um processo de alterização, onde tentamos realçar a nossa aparente normalidade frente aos defeitos dos outros. É uma lástima interminável.
Vya Estelar – E o que o senhor me diz das pessoas que têm nome composto?
José Roberto Martins – Tanto faz. Nomes compostos foram um hábito muito difundido no Brasil, especialmente nas famílias do interior de Minas Gerais e São Paulo. O meu nome mesmo é composto e vivo muito bem com ele. Sou brasileiro, afinal.
Vya Estelar – Os aspectos místicos dos nomes influenciam as nossas escolhas? Por quê?
José Roberto Martins – Como já mencionei, depende muito do perfil de cada pessoa. Quem curte esoterismo vai investir um baita tempo nisso, e encontrará muita diversão. Para quem curte, e após estudar muito quase todas as práticas esotéricas ligadas aos nomes, posso garantir que quem apelar para a cabala judáica e as runas encontrará muito conteúdo histórico e exemplos bastante interessantes, muito mais que na "numerologia pitagórica", que achei um pouco rasa.
Vya Estelar – Na questão do nome de uma pessoa, o sobrenome também vai refletir na sua vida, de que forma?
José Roberto Martins – Para quem for nobre, sim. Para quem for pobre, nem tanto. Filho de Beltrano, ou filha de Cicrano, podem levar a situações em certos momentos históricos, para o bem ou para o mal. Os parentes diretos do juiz canalha podem omitir a herança, enquanto os herdeiros do artista famoso, ou do empresário de bem, a relevarão. É mais uma vez uma questão de estética, e do extremo valor que costumamos dar às formas, além do conteúdo. Já houve gente que "comprou" a imagem de um sobrenome nobre e se deu muito mal.
Vya Estelar – Em quais aspectos ou áreas da vida, influencia o nome que uma pessoa tem?
José Roberto Martins – Olha, a questão aqui é em relação ao nosso estado emocional. Quando estamos de "mal com a vida" quase tudo soa errado, inclusive o nosso nome. O problema é que trocar o nome é um trabalho muito mais desgastante do que trocar o guarda-roupa, ou conseguir a grana para comprar um carro novo. Trabalhamos cada vez mais para ter vidas menos estressantes, buscando atingir um estado material que permita que nos ocupemos das coisas que realmente fazem a diferença.
Se repararmos bem, temos feito tudo o que é necessário (e um pouco mais), sempre à margem dos nossos nomes, sejam eles como forem. Afinal, se o até o Luís da Silva (Lula) chegou lá, é prova de que o impossível é possível. Basta perder algumas vezes e insistir, sempre que for preciso. Em geral, um nome limpo e um bom caráter, são quase tudo o que se precisa para continuar no jogo e, pelo menos, sbreviver de cabeça erguida. Quem sabe, vendo os nomes dessa forma, os nossos filhos tenham orgulho em dizer que são os "nossos" filhos.