por Katty Zúñiga – psicóloga do NPPI
Apesar de os relacionamentos amorosos via Internet serem objeto de estudo atualíssimo, eles se derivam dos relacionamentos amorosos tradicionais. Apenas acompanharam a evolução dos tempos, se transformando juntamente com o ser humano e com as formas de comunicação.
Poderíamos dizer que os relacionamentos mediados pela Internet são semelhantes aos que antigamente aconteciam por telefone ou carta, porém mais rápidos e intensos. Isso não quer dizer que agora os sentimentos sejam mais profundos: apenas hoje as trocas acontecem de uma forma mais ágil e frequente. Uma das decorrências desse fato é que os relacionamentos se tornam mais rápidos e fugazes.
Hoje se exige um manejo psíquico muito maior para o indivíduo se relacionar no mundo real. A Internet entra nesse cenário para ajudar a conhecer muitas pessoas ao mesmo tempo. Mas o que as pessoas realmente procuram? Na busca pela felicidade e pelo amor, a Internet certamente é uma aliada para iniciar esse processo, por meio das primeiras aproximações e contatos. Mas isso não é suficiente para se amar de verdade uma pessoa, justamente porque essas vias de encontro são carregadas de uma enorme dose de projeção, de ambos os lados, ou seja, “vemos” naquela pessoa conhecida no chat aquilo que gostaríamos que ela fosse, e vice-versa.
Mas, o amor verdadeiro pressupõe justamente um conhecimento íntimo e profundo a respeito da pessoa amada, com pouco espaço para projeções. O amor existe independentemente e apesar das nossas ilusões, das nossas fraudes e da nossa autopiedade. Seguindo este raciocínio, podemos dizer que os relacionamentos mediados pela Internet não nos oferecem amores verdadeiros, mas apenas “muletas” para nossas carências. Demonstram o quanto as pessoas necessitam se apaixonar, amar e ser amadas, sendo a Internet uma ferramenta aparentemente muito apropriada para preencher as carências e falta de amor desses internautas.
O amor está tão distorcido pelos excessos do nosso mundo e pelas perturbações do romance propagandeado como caminho para a felicidade, que quase nunca procuramos o amor por ele mesmo. Na verdade, mal sabemos o que procurar quando o buscamos. Parece que as pessoas ainda sonham com príncipes encantados e com o relacionamento ideal. Mas, como isso não existe, jogamos sobre o outro as nossas expectativas, para que ele supra as nossas necessidades. E o erro desse “amor romantizado” não é amarmos a nós mesmos (que é necessário), mas o fato de amarmos de forma errada. Ao reverenciar o inconsciente – que propicia todas essas projeções – perdemos a capacidade de identificar o tesouro contido nessas nossas idealizações. Perdemos a capacidade de perceber que estamos em busca do nosso Self (Eu), em busca de nós mesmos.
A verdadeira busca do amor é a expressão de uma força da natureza que existe dentro nós. Aceita – e mais que isso, valoriza – o outro do jeito que é, sem tentar transformá-lo no ser idealizado pela nossa projeção. Quando alguém realmente ama, ama todo o indivíduo, inclusive as coisas ruins que queremos esconder. E isso fica tão difícil nos relacionamentos essencialmente virtuais, pois a Rede nos permite justamente ser o que quisermos. Nela, podemos esconder as nossas falhas, exibindo para todo o mundo apenas o que é atraente, como uma vitrine expondo um produto a ser consumido.
A Internet pode auxiliar as pessoas que têm dificuldades de se relacionar, mas fica muito difícil esconder sua subjetividade por muito tempo. Por isso, se procuramos o amor verdadeiro, ela pode ser uma excelente ferramenta para – sim – “peneirar” os pretendentes. Mas quando a coisa começa a fazer sentido, fica difícil não querer sair do âmbito virtual e ir para o real, pois só nele o relacionamento iniciado na WEB pode passar a sua próxima fase. Somente então poderemos ampliar o nosso conhecimento sobre o outro de uma maneira que a Rede ainda não permite. Inclusive pelos tantos recursos que nos oferece de criarmos as diferentes personas ou máscaras que usamos nas salas de bate-papo e sites de relacionamento.
Assim, a internet é um espaço facilitador, que nos ajuda a dar vazão ao inconsciente para ajudar a emergência dos nossos desejos mais profundos e até, como dizia Carl Gustav Jung, para descobrirmos nossas feridas psíquicas e o caminho para a conscientização. Pois é nesse processo de “cura” que acabamos nos conhecendo. Melhoramos todos com experiências desse tipo, mesmo que os caminhos sejam tortuosos. E podemos chegar até mesmo ao amor verdadeiro com a “ajuda” da (e não “na”) Internet.