por Elisandra Vilella G. Sé
No texto anterior (clique aqui), vimos que as mudanças do corpo não são somente modificações de origem biológica, mas também fruto de uma construção sociocultural.
O que fazemos com nosso corpo influencia nossa identidade e construção de imagem (do nosso corpo) que transmitimos aos outros, bem como os ideais de corpo que desejamos atingir.
Envelhecemos desde quando nascemos e o tempo é nosso companheiro. Mente e corpo estão juntos, mas no desenvolvimento envelhecem em separado. A transformação que o corpo sofre no decorrer do desenvolvimento segue um ritual, um ritmo gradual, marcado pela individualidade, como ação peculiar de cada um modificar-se, diferenciar-se.
Assim, parece que o próprio processo de envelhecimento nos impulsiona para criarmos “máscaras” para o corpo e para o rosto, que esconda a capacidade de representar o seu “eu” verdadeiro aos outros. Essa máscara está associada às propriedades aversivas da velhice.
O conceito de velhice vem sendo reconstruído na atualidade. Porém, a palavra velho é difícil de se aceitar, como se a velhice significasse uma falência de potencial.
O ser humano não quer perder o controle sobre esse corpo. A perda desse controle é como se perdesse capacidades, habilidades, condutas, competências, procedimentos adquiridos na juventude, envolve o medo de perder o direito e de ser tratado como pessoa valorizada.
Na velhice confrontamos o corpo e somos obrigados a aprender a lidar com as limitações do corpo envelhecido. Esse corpo que se modifica ao longo da vida, dimensiona a ideia de perdas e ganhos. A pessoa idosa se reconhece no seu envelhecimento e tem a possibilidade de se renovar a cada momento refinando sua identidade. Fazemos ajustes e modificações em cima de modificações que sejam pertinentes e coerentes para atender aos interlocutores, às expectativas e padrões valorizados pela sociedade e ao mesmo tempo idealizados por nós seres sociais, ideal de corpo próximo ao da juventude e lutando para manter o vigor da maturidade.
Por fim, o corpo varia suas experiências no tempo, não é dado natural, é a nossa presença e atuação no mundo que forma os significados deste corpo que se modifica. Não temos como mumificar a juventude, o reconhecimento das mudanças e diferenças dos corpos é inexorável, a natureza ainda obedece a uma programação genética precisa. Basta refletir fazendo uma leitura do corpo que envelhece, respeite seu corpo e se pergunte o que ele possui que lhe traz bem-estar, que faz sentido no processo de envelhecer.