por Lilian Graziano
Ouvi um amigo dizer que críticas não são construtivas. “Do contrário, seriam sugestões.” Fui obrigada a discordar, avaliando esse raciocínio sob aquilo que prego em meu trabalho na Psicologia Positiva (PP), e demonstrando que é possível seguir em frente sendo criticado duramente, pois tudo depende de como encaramos a questão. O próprio movimento da PP nasceu de uma grande crítica à Psicologia pautada na doença, no entendimento do “disfuncional”, para lançar luz à excelência humana, aos caminhos que levam à felicidade subjetiva.
Ou seja, de uma enorme crítica, nasceu um aprendizado gigantesco – e uma coexistência pacífica entre os movimentos de cura e desenvolvimento humano. Obviamente, porém, que esse rapaz mencionado nem me deu ouvidos, pois acabava de “apanhar” verbalmente de alguém – estava em processo de obtenção do título de Mestre em uma universidade, e teve parte de sua dissertação em curso “achincalhada” por seu orientador.
Assim como a argumentação do amigo foi desconstruída pelo professor, para ser refeita sob nova perspectiva teórica, podemos dizer que o que se desconstrói nos apresenta uma nova possibilidade de construção e só aí eu já derrubaria a tese do rapaz. Isso muito embora, em se tratando de “coisas da vida”, fenomenologicamente, o que observamos é o quanto ficamos “destruídos” quando somos criticados.
Tenho essa visão porque percebo que, dificilmente, não revemos nossa postura diante da crítica. E, se não o fazemos, é por que temos absoluta convicção de que estamos certos – é quando, de fato, nem ligamos para a crítica, ela não nos afeta (não confundir, porém, convicção com teimosia). São duas alternativas: ou não se está nem aí pro que foi dito ou nos adequamos. A paralisia é que não pode acontecer. As outras opções são todas positivas (e construtivas).
Rever posições é dar vida a novos pensamentos e conhecimentos, e muitas vezes melhorar trabalhos, textos, renovar relacionamentos à luz do que nos foi questionado: novamente, “o que se desconstrói nos apresenta uma nova possibilidade de construção”. E com isso aprendemos. Já estarmos convictos de nossa posição e nem ligar para a crítica significa que esta foi aceita, digerida, avaliada – o que já nos tira das emoções negativas e nos coloca, também, no caminho do aprendizado.
Difícil julgar quem critica, quando, sob a ótica da nova construção que a crítica possibilitou, de melhorias, avanços, desafios vencidos, percebemos que precisávamos daquele chacoalhão. Tenho certeza de que meu amigo, mesmo chateado, encontrou novos e melhores caminhos para sua dissertação. Embora, apontar duramente o dedo para as deficiências que apresentamos nos diversos campos da existência não seja suficiente para qualquer tipo de superação.
Aí reside a questão central: destrutivas são as pessoas, que reduzem nosso trabalho, nossa atuação a um único aspecto, o da crítica. Destrutivas também são elas quando a crítica se carrega de rispidez, grosseria, falta de educação. Destrutiva talvez seja a ignorância por trás de uma crítica (mas a desinformação desqualifica esta última prontamente, lembremos disso). Sendo assim, é possível dizer a quem de fato serve tal tipo de crítica – só a quem critica e tem um prazer destrutivo nisso ou nem sabe o que está fazendo e precisa achar ou demonstrar que sabe. Cabe a nós filtrarmos tudo isso e termos muito claro o que de melhor podemos oferecer ao crítico numa situação como essa: nossa sensatez e maturidade, ao demonstrar nossa discordância convicta e serena ou flexibilidade, ou nossa atenção àquele ser (que às vezes só quer isso mesmo).
Posto o cenário, ainda que haja falta de educação por parte de quem critica, por mais que sejamos achincalhados, quanta coisa não aprendemos? Talvez, encarando assim, sejamos também melhores críticos, quando chamados a tal função, lembrando que aqui também se pode lançar mão de alguns raciocínios sob a ótica da Psicologia Positiva: ninguém é feito só de gaps (pontos fracos) e defeitos. Ninguém pode dar conta de todas as perspectivas refletidas por um prisma. Cabe ao crítico demonstrá-las e, ainda, enaltecer as qualidades que podemos utilizar para solucionarmos o problema apresentado. Já viu algo mais construtivo? Isso vai além de sugestão (que meu amigo nos ouça e registre) e não deixa de ser crítica. Mas uma boa!