por Elisa Kozasa
Duas semanas atrás, tive a oportunidade de estar em um retiro com um monge, Geshe Lhakdor, que foi assistente do Dalai Lama por 14 anos. Uma experiência ímpar de ouvir a sabedoria de um homem que não apenas conviveu (e tem contato próximo até hoje), com um prêmio Nobel da Paz, mas que teve também sua própria rica experiência de vida. Ele próprio possui um título equivalente ao doutorado dentro de sua tradição que é o Budismo Tibetano.
Ao contrário do que eu imaginava inicialmente sobre um retiro com um monge, em que pensei que seriam horas e mais horas de prática meditativa, ele optou por priorizar aulas teóricas e ensinamentos práticos para o dia-a-dia. Foi uma grata surpresa. Talvez ele tenha feito isso pelo fato do público ser bastante eclético.
Um dos pontos mais importantes que por diversas vezes ele ressaltou durante aquele final de semana, foi a importância de lidar com nossas emoções aflitivas. Ao nos deixarmos dominar por emoções aflitivas, frequentemente, cometemos atos dos quais nos arrependemos, e dedicamos tempo a fazer coisas e a sentimentos pouco produtivos. Por exemplo, ao deixar a raiva tomar conta de nós, perdemos a sanidade mental, dizemos coisas que muitas vezes estão além da verdade e comprometemos até mesmo nossa saúde física: nossa pressão arterial se eleva, bem como nossos batimentos cardíacos sobem e hormônios que em excesso podem ser prejudiciais (como a adrenalina e o cortisol) caem em nossa circulação sanguínea. Se já tivermos um problema cardiovascular, dependendo da intensidade, esta raiva pode até ser fatal.
Quando a ansiedade nos domina, os efeitos também não são agradáveis. Perdemos horas de sono, ficamos agitados, nossa mente fica pulando como um macaco de um pensamento para outro, nossa capacidade de focar em uma atividade é reduzida e nos sentimos exaustos.
Um dos aspectos que pode nos ajudar a evitar que estas emoções destrutivas nos dominem é o treinamento da observação atenta do que ocorre em nosso mundo interno e externo. A observação de cada evento e fato de nossa vida, buscando a verdade, a verdadeira realidade pode nos ajudar a lidar melhor com as emoções destrutivas.
Com uma mente observadora e equânime como esta, provavelmente começaremos a perceber que muitas vezes exageramos nas reações aos diversos eventos do dia-a-dia, e que hiperestimamos os fatos negativos. Pode ser também que estejamos dando crédito demais a fatos positivos que tempos depois podem se mostrar não tão relevantes, e sentirmos decepção.
O equilíbrio parece que está no treino contínuo de um olhar aguçado sobre a realidade dos fatos da vida. Algo de bom que o tempo e a idade podem nos trazer e que se traduz em sabedoria. Felizmente, não há plástica que possa apagar os sinais deste tipo de maturidade. Enquanto alguns tentam negar o tempo que passou, outros procuram tirar vantagem das décadas percorridas. Parece ser este o caso de Geshe Lhakdor.
Dicas de leitura:
Dalai Lama, Goleman D. Como lidar com emoções destrutivas. Editora Campus.
Geshe Lhakdor. Meditação e compreensão da mente. São Paulo: ed. Palas Athena, 2009.