Nos dias em que os termômetros de minha cidade (São Paulo), batem acima dos 30 graus, lá estou a reclamar do calor inclemente. O suor na nuca me dá brotoeja, durmo pior… Há também dias de chuva torrencial, das perigosas, que causam estragos, devoram barrancos e ceifam vidas, o trânsito urbano se desorganiza mais ainda. Estiagem é cruel, seca as represas, aumenta a chance de queimadas, animais sofrem. Vento fresco pode até ser bom, mas despenteia o cabelo ou leva poeira aos olhos. O frio traz aconchego, é hora de vinho e fondue para os privilegiados, mas racha os lábios, piora o pulmão de idosos e crianças, dificulta entrar no banho, falta agasalho e abrigo para tanta gente…
O ideal para cada um é de um jeito
Não há consenso do que seria clima ideal, para cada pessoa o ideal é de um jeito. Para uma amiga, temperaturas entre dez e dezoito graus são um sonho de consumo. Outra amiga ama dias acinzentados, ela os considera poéticos e propícios a uma saudável introspecção. Temperatura abaixo de vinte e cinco graus faz com que uma amiga, moradora da quente cidade de Ribeirão Preto, queira vestir um casaquinho leve. Interesse observarmos que mesmo o ideal, se alcançado, não se manterá para todo o sempre. O clima, quase que por pressuposto, é algo volátil, varia ao sabor dos meses, dos estragos ambientais, da localização geográfica.
Conheci uma senhora que acompanhou a longa e dolorosa enfermidade do marido. Casados há décadas, viveram um relacionamento que, segundo eles e os filhos, era exemplar. Quando seu marido morreu, chorava de alívio, sabia lucidamente que o sofrimento dele chegara ao fim, ainda que o dela apenas estivesse mudando de configuração. A saudade e o luto entraram em cena, personagens inevitáveis.
Chocolate? Que delícia! Mas consumi-lo com exagero pode não ser boa escolha para a saúde. Conheço um cardiologista, excelente profissional, que se empenha em ajudar pacientes tabagistas a mudar esse hábito nocivo. Escondido, ele também fuma! E luta ele próprio contra a dependência química e comportamental que cerca o consumo do tabaco.
Tudo é instável na vida
O que me parece interessante trazer à tona é que na vida quase tudo é instável, contraditório, pleno de contrapontos e incongruências. Buscamos, com afinco, apreender as regularidades dos fenômenos, queremos ser capazes de predição e controle absolutos, a ciência segue essa estrada. Mas o saber também se desenvolve ao buscar entender fenômenos que fogem dos padrões esperados, há exceções às regras em quase tudo neste mundo.
Sobreviver num cenário subjetiva ou objetivamente instável requer um exercício da flexibilidade. Podemos seguir algumas regras, se elas nos ajudarem, mas precisamos duvidar de sua eterna vigência. Vai chegar a hora em que, sem mais nem menos, aquela velha regra em nada nos será de grande valia. O jeito é olhar para o fluxo da vida com olhos curiosos, coração aberto, com aceitação da mutabilidade como condição inerente ao viver. Podemos ter preferências, desejos, opiniões. Esses fenômenos são apenas pensamentos: prefiro chuva, não quero que Fulano morra, tomara que o ônibus chegue logo. Palavras nos aprisionam quando nos agarramos à sua literalidade e esquecemos que o que vale para hoje pode, no amanhã, ganhar tons e sentido completamente diferentes.
Topam treinar o jogo de cintura?