por Danilo Baltieri
"Tenho um namorado viciado em cocaína. Ele trabalha na noite como segurança, vive no mundo em que essas substâncias são mais consumidas. Gostaria muito de poder ajudá-lo, mas não sei como lidar com a situação, pois ele muitas vezes apresenta delírios e ciúme exagerado. Ele se torna uma pessoa muitíssimo agressiva e acredita nos absurdos que diz. Noto que quando estamos chateados, ele fica pior ainda, consome muito mais e, consequentemente, faz mais asneiras. Eu sou estudante, tenho uma vida oposta a essa e gostaria muito de afastá-lo desse mundo!"
Resposta: Dependência de cocaína é uma doença para qual, infelizmente, temos poucas e efetivas opções de tratamento.
Não existem medicações comprovadamente eficazes para o manejo dessa doença, embora várias propostas farmacológicas venham sendo investigadas ao redor do mundo. O tratamento psicoterapêutico, principalmente aquele de orientação cognitivo e comportamental, tem mostrado eficácia para uma proporção variável de pacientes. No entanto, a última abordagem não promete efetividade para uma larga porção desses sujeitos.
O fato de não existirem medicações aprovadas por órgãos internacionais para uso entre dependentes de cocaína, não significa que medicações atualmente em estudo sejam proscritas (proibidas) para esses pacientes. Existem evidências de que algumas opções farmacológicas possam ser aventadas para certos tipos de dependentes de cocaína. Dessa forma, o médico especialista, em conjunto com o paciente e seus familiares, poderá sugerir o uso de determinada medicação, sempre aliado às abordagens psicoterapêuticas. Para a prescrição de tais medicações, o médico especialista deverá basear-se em questões de segurança terapêutica e evidências de efetividade em estudos prévios. De fato, a intensidade da fissura por cocaína pode ser muitas vezes devastadora, e o uso de medicação para reduzir esse sintoma se faz necessário.
Uma parte essencial do tratamento para dependentes de cocaína envolve auxiliar o paciente a modificar seu estilo de vida. Manejar o próprio tempo, revisitar as atividades sociais e recreativas, avaliar a capacidade para resolução de problemas, verificar a satisfação com o emprego atual e adquirir novas habilidades sociais, são algumas das tarefas para se desenvolver com o dependente de cocaína.
10 tarefas para se desenvolver com o dependente de cocaína
1ª) ) Fazer uso racional do tempo. Os dependentes devem planejar o seu tempo (trabalho, com familiares, com lazer, com estudos, etc.) para que tenham pouco tempo disponível para procurar usar substâncias. Esquematizar o tempo do dia seguinte pode ser uma opção interessante. O planejamento deve ser realista e supervisionado;
2ª) Desenvolver habilidades para lidar com o tempo livre;
3ª) Desenvolver atividades para sentir-se mais saudável;
4ª) Renovar a rede de amigos, desde que não usuários;
5ª) Revisitar atividades do passado que eram prazerosas e não associadas com o uso de substâncias;
6ª) Motivar-se para realizar algo novo;
7ª) Aprender habilidades cognitivas para lidar com pressões sociais e estresse;
8ª) Rever atividades sociais e de trabalho atuais;
9ª) Reconhecer e identificar situações e ambientes disparadores do uso;
10ª) Reconhecer e identificar pensamentos, sentimentos, reações físicas disparadoras do uso.
Cinco ações em relação ao ambiente de trabalho
Se o ambiente de trabalho estiver relacionado às situações ou ambientes de alto risco para a manutenção do uso da droga, o dependente deve:
1ª) Considerar mudar de trabalho;
2ª) Submeter currículos para outras empresas enquanto ainda estiver trabalhando;
3ª) Desenvolver novas habilidades vocacionais;
4ª) Contatar a própria rede de amigos não usuários ou mesmo conhecidos para angariar novas opções de trabalho;
5ª) Rever trabalhos e empregadores antigos.
Todas estas atividades devem ser adequadamente estimuladas e supervisionadas pelo terapeuta habilitado. A participação ativa de familiares e amigos é extremamente bem-vinda.
A sua preocupação é legítima, especialmente para o seu namorado. No entanto, a busca por tratamento deve ser ativa e uma rede de pessoas interessadas em auxiliá-lo poderá ser necessária. Apenas a mudança de trabalho, sem outras modificações do estilo de vida e sem abordagem médica dos aspectos clínicos da doença, dificilmente será suficiente, embora necessária. Não perca tempo!!!