por Lilian Graziano
Há dias em que a vontade é desligar o despertador, continuar na cama e, ao sair dela, fazer tudo o que dá vontade (coisas que obviamente não são obrigações e só nos dão prazer). Em compensação, em outros dias, nosso ritmo é outro: há disposição para as coisas necessárias, para a rotina, há concentração e produtividade (e também há prazer, ou, ao menos, não há estresse pelas tarefas rotineiras).
É claro que nem sempre acordamos perfeitamente dispostos, e isso é normal.
Salvo exceções patológicas, por questões metabólicas e do dia a dia, mesmo, nosso humor e nossa energia apresentam pequenas variações. Regular a alternância entre esses estados de espírito, no entanto, pode melhorar sensivelmente nosso rendimento e nosso bem-estar.
Já reparou em como nosso bloqueio mental para a rotina e as obrigações acontece exatamente depois de períodos como o Carnaval, em que “rasgamos a fantasia” e cometemos os mais diversos excessos? Já viu como é mais difícil voltar à produção após uma pausa mais extensa para o café e as fofocas com os colegas, no escritório? Não é que tenhamos de viver “com o pé no freio” até para os pequenos exageros. A ordem é, na verdade, fazer com que não exagerar ou “acelerar” seja um hábito. Como Epicuro, filósofo grego que acreditava que o bem-estar se encontrava na justa medida das coisas, recomendo: seja comedido(a) em tudo. Mas isso tem de ser parte de você e não um breque.
Toda essa história tem a ver com uma das forças pessoais das quais mais se fala em desenvolvimento humano. Trata-se do autocontrole (ou autorregulação) – veja aqui. Manter a “velocidade constante” significa ter essa característica bem desenvolvida e fazer uso pleno dela. Significa ter uma capacidade maior de transformar um dia improdutivo e de procrastinação das coisas necessárias em outro completamente diferente, sem tanto sofrimento pela rotina. Quando o autocontrole é parte de nós, temos um domínio maior sobre tudo aquilo que pode influenciar nosso cotidiano e nosso ritmo, até mesmo em relação a fatores como alimentação, descanso, autocuidado etc.
No trabalho clínico ou em coaching baseado em Psicologia Positiva, verifico que, quando o autocontrole não é destaque na assinatura de forças pessoais (as cinco principais forças) do cliente, é possível que outras forças possam estar deliberadamente desenfreadas. Já pensou, aquele que tem a criatividade como sua principal característica e, sem conseguir controlá-la, passa a devanear ou a improvisar demais em tudo? E a autenticidade (característica ligada à sinceridade), que em exagero pode fazer com que digamos coisas que magoem o próximo, causando muita confusão?
As forças pessoais são recursos positivos, nos quais devemos nos apoiar para atingirmos nosso desenvolvimento pleno, nosso ideal de felicidade. Mas também precisam ser balanceadas. O equilíbrio também deve ser mantido em nosso perfil de forças para que tudo fique bem do “lado de fora”, que expõe nossas mais belas realizações e nossas fraquezas. Claro que o balanceamento orientado por um profissional é altamente indicado, mas a transformação se inicia a partir da leitura deste artigo, por meio do qual você pôde entender a importância do autocontrole em seu quadro de forças e, quem sabe, identificar os fatores pelos quais, no dia de hoje, bateu aquela preguiça quando o despertador tocou.