por Arlete Gavranic
Falar de masturbação sempre causa frisson. Os adolescentes riem, ruborizam ou acham ridículo falar do assunto. Muitos pais ainda engolem seco, não sabem como agir frente à possibilidade da exploração tátil e prazerosa do corpo. Aliás, muitos pais ainda têm muitos conflitos em relação à masturbação.
A masturbação consiste em aprender a tirar prazer através de carícias e toques em todo o corpo, inclusive nos genitais.
Masturbação faz mal? Até onde ela pode ser considerada ‘normal’?
A prática da masturbação não traz nenhum tipo de perigo, adoecimento ou desequilíbrio a quem pratica.
Repressão
Muitos jovens têm dificuldade em lidar com toques e prazeres corporais. São policiados e reprimidos pela família ou carregam a ideia de sujeira, imoralidade ou pecado em relação à masturbação. Por insegurança e desconhecimento do próprio corpo, podem ter dificuldade em aprender a lidar com o mesmo e tirar prazer de um encontro sexual.
O jovem que tem a possibilidade de conhecer seu corpo (e não só o genital) através de carícias masturbatórias, e faz isso sem medo de ser pego ou punido, pode ganhar uma confiança a mais no contato com seu corpo e aprender a ter prazer com mais tranquilidade.
Muitas mulheres (e jovens) esperam que o parceiro ‘as levem ao orgasmo’. Também é grande o número de homens inseguros em lidar com o seu corpo e com o de sua parceira. Isso pode trazer dificuldade para manter a ereção ou levar à ejaculação rápida.
Mas até onde a prática da masturbação é normal?
Essa pergunta sempre é feita!
O problema não é a pratica masturbatória, mas sim o descontrole da pessoa que passa a viver em função dessa.
Como assim? Muito frequentemente na adolescência os jovens carregam muitas inseguranças com relação à autoestima, a necessidade de aceitação no grupo e de alguém que ele (a) considere especial.
Por processos emocionais que foram se desenvolvendo na sua história de vida esse (a) jovem não tem muita autoconfiança. Às vezes não se acha bonito ou interessante o suficiente para agradar a outra pessoa e muitos adultos também se sentem assim.
Para jovens inseguros que não confiam que possam ser gostados ou desejados, pode se tornar difícil manter uma vida social e mais ainda investir em relacionamentos que incluam ficar, namorar, beijar e até transar. E aí a masturbação pode se tornar uma mania, uma forma de obter prazer sem ter de enfrentar algum tipo de rejeição. Assim ele passa a viver um mundo restrito a muita fantasia e desejo de sexo e conquitas.
Isso pode levar à compulsão em navegar na internet. Muitos se tornam virtualmente galantes e ousados em chats. Isso pode gerar um círculo vicioso: ele não se socializa porque fica em casa se masturbando e se masturba compulsivamente porque não se socializa.
A família pode ajudar?
É importante que a família tenha atitudes positivas com relação ao corpo e ao prazer para não criar comportamentos de medo, nojo e repressão em relação ao corpo e genitais.
Criança
Se a criança acariciar os genitais publicamente, deve se dizer algo do tipo:
– ‘É gostoso tocar o corpo, aprender a cuidar dele com carinho, mas tem coisas que a gente não faz o tempo todo, nem na frente de todo mundo. Ninguém fica mostrando o corpo para todo mundo e mesmo que beijar seja gostoso, a gente não beija o dia inteiro’
É importante observar se a criança ou jovem está fazendo isso o tempo todo, aí pode ser que estejam com poucas atividades dirigidas. Os pais devem estar atentos se esse jovem não esta fugindo de situações importantes para seu desenvolvimento e socialização.
Alerta
No caso de crianças, se estiver muito compulsivo o toque genital e brincadeiras que imitam um ato sexual, vale a pena investigar se essa criança não está sendo ou foi vítima de abuso sexual.
Masturbação, família e Ângelo Gaiarsa
Há dez anos estive num programa de TV com o psiquiatra Ângelo Gaiarsa. Ele sempre trabalhou temas relativos à família e sexualidade. Na ocasião, Gaiarsa já dizia dos males à sexualidade – principalmente feminina – devido à falta de conhecimento do próprio corpo e de como chegar ao prazer. Ainda preconizou que as mães deveriam ensinar suas filhas a se masturbarem.
Acredito que os pais devam falar, sim, da importância de respeitar e cuidar com carinho do próprio corpo e que o mesmo é fonte de vida e prazer.
Por questões de repressão familiar, social, religiosa e moral, estamos bem longe dessa possibilidade de se ensinar masturbação em família.
Privacidade
Não se deve atrapalhar, bater na porta, invadir o quarto dos filhos sem respeitar a sua privacidade. Isso já é excelente e possibilita a eles um espaço para descobertas em realação ao corpo e ao prazer.