por Roberto Santos
Somos todos diferentes quanto a uma infindável lista de necessidades, motivações, características e reações às situações. Isso é o que torna cada um de nós um ser único e especial. Isso é também o que torna o relacionamento interpessoal tão desafiante – às vezes duro e outras, estimulante pelo potencial que a sinergia das diferenças produz.
Dentre essas diferenças estão o quanto queremos pertencer a grupos, ser aceitos pelos outros e, principalmente, ter nossos comportamentos, escolhas e propostas aprovados pelos outros – mais ainda quando esses outros são as figuras de autoridade de quem nosso futuro depende, ou que assim pensamos.
Quando isso não está claro para nós e para os demais, os comportamentos de se aproximar das pessoas com frequência, perguntar-lhes o que acham de tudo que fazemos e dar claras demonstrações de que a queremos satisfeitas, pode ser interpretado como “puxa-saquismo” ou insegurança para a tomada de decisões com autonomia. Nenhuma dessas opções é muito agradável de se ter como reputação numa organização.
O dilema de quanto devemos nos manter distantes ou próximos dos chefes, costuma aparecer quando vemos colegas que logo se apropriam de qualquer instante que o chefe se descuida e se mostra disponível – entre uma ligação e outra, quando está entrando no crro, a caminho do banheiro etc.
Aquele que chamamos de bajulador de plantão sai de sua tocaia para elogiar a gravata do patrão, oferecer-lhe café e desejar-lhe saúde mesmo antes de espirrar. Quando esse chefe é afeito a esse tipo de comportamento, logo é conquistado pelas gentilezas daquele que passa a ser seu favorito. Independente dos méritos de seu desempenho, o colega nessa condição regride na escala das espécies e se torna um simples “peixinho” no aquário do chefe.
Então questionamos sobre o valor de nosso esforço, dedicação, horas extras a fio para preparar o melhor trabalho da história do departamento quando tudo parece se resumir à intimidade do colega que frequenta a churrasqueira da casa do gerente, divide a mesa no refeitório e passa vários momentos do dia fechado em sua sala. Assim sobrevêm vários daqueles pecados capitais – a Ira e a Inveja em destaque.
Onde estará a razão? Todos temos que fazer uso do mesmo corrimão do chefe para uma ascensão bem-sucedida na empresa?
Quem leu outros textos que escrevi, já deve conhecer que não há respostas simples quando se trata de seres humanos e seus relacionamentos. Nosso amigo, ou amiga, que preza da intimidade do chefe em happy-hours, almoços e festas da empresa, pode ser extremamente competente naquilo que faz e, justamente por isso, seu chefe o quer bem perto dele. É duro acreditar nessa hipótese, não? Mas ela pode ser verdadeira…
O aparente bajulador pode sim ter suas limitações quanto à segurança pessoal e precisa da confirmação e reconhecimento sobre suas ideias, decisões e propostas. Nesse caso, a pessoa não tem um alvo único – o chefe, mas pede a opinião de todos, inclusive a “tia” do cafezinho. Ajudar esses colegas pode valer de uma gratidão especial que nos valoriza como desenvolvedor de pessoas.
E todos os chefes são iguais e adoram ser bajulados?
Novamente, as coisas não são tão simples. Dependendo também da necessidade de reconhecimento e de suas inseguranças, o chefe pode ser encantado pelo canto das sereias aduladoras que dele se aproximam. Entretanto, há também os chefes desconfiados até da sua própria sombra que investigarão o tempo inteiro uma segunda intenção que existiria por trás daqueles comportamentos. Nesses casos, o puxa-saco pode estar com seus dias contados, pois com ou sem culpa no cartório, ele será julgado e sentenciado a uma pena de geladeira ou desligamento da tomada da Folha de Pagamento.
Então o negócio é ficar no meu canto e só falar quando o chefe fizer uma pergunta?
Aquelas pessoas de pouca ambição e muita introversão, costumam atribuir, na alcova das rodinhas de café, os piores adjetivos àqueles que, segundo elas, se autopromovem o tempo inteiro, lançando os mais elaborados fogos de artifício a cada relatório mensal padrão que entregam ao chefe – são os “gargantas”, os que não se acham, mas que se têm certeza, os metidos a besta, e assim por diante.
Em sua timidez e em sua incapacidade de tomar uma iniciativa mais audaz, ou de tomar a palavra para tratar de assunto controversial numa reunião importante, esse outro personagem justifica-se criticando o diferente de si mesmo. Provavelmente, ele verá vários colegas metidos e puxa-sacos serem promovidos à sua frente.
Essa pessoa tem duas alternativas para sua carreira: passar sua vida criticando e se lamuriando sobre os colegas promovidos e a injustiça corporativa ou procurar aprender com eles, esforçando-se a se expor com mais assertividade, dispondo-se a apresentar propostas envolvendo certos riscos e desafiando abertamente a autoridade e o status quo quando estiver seguro de seus valores e razões. Qual é a alternativa que você vai escolher?