Existem pessoas que gostam muito de presentear os outros, que experimentam prazer nessa ação. Em geral, são pessoas que se presenteiam também. Tal característica é positiva, sem dúvida, é uma qualidade e contribui para o desenvolvimento da personalidade.
Essas são pessoas que também tendem a presentear muito seus filhos e algumas vezes em excesso.
Vivemos em uma sociedade consumista, ligada ao prazer imediato e isso é um fato. Nascidas nessa época, as crianças costumam ter uma profusão de brinquedos e, influenciadas pela propaganda, sempre pedem mais. Sob o apelo de que o brinquedo é educativo, os pais também se dispõem a comprar tudo.
Muitas vezes, os pais têm consciência de que seus filhos possuem mais brinquedos do que seria necessário, mas continuam comprando para atender à solicitação de suas crianças. Presenteiam por ser mais difícil dizer não do que dizer sim, presenteiam para cumprir combinações que fazem, que muitas vezes, são reais subornos, presenteiam por remorso por se sentirem muito ausentes, etc.. Podem presentear ainda compulsivamente, acreditando que, dessa forma, estão garantindo a felicidade de seus filhos.
Sem dúvida, os brinquedos são sempre educativos e trazem alegria, pois o brincar é próprio da saúde. Porém, o juntar uma quantidade enorme de brinquedos, pelos quais não se tem apego e não ganham valor afetivo, não é saudável, ao contrário, faz mal.
Só ganha valor e significado afetivo aquilo que é desejado de verdade. Desejar algo que não se tem e que se quer muito, é tolerar o espaço da falta, é criar expectativas, é sonhar com esse algo, o qual aumenta o desejo e conduz a uma grande satisfação, quando se recebe o que tanto desejou. O desejo só nasce no espaço da falta.
Tenho observado que atualmente, muitas de nossas crianças não experimentam essa forma de desejar, apenas exigem o que ainda não têm e, sendo rapidamente atendidas, não valorizam o que recebem, que se torna facilmente descartável. Isso é altamente prejudicial ao desenvolvimento.
Quem não tem apego ao que possui, não aprende a lutar pelo que deseja possuir, escreveu José Pastore, economista e sociólogo, em seu artigo “Educação Financeira e Arte de Presentear”, num grande jornal paulistano, em maio de 2010. O autor mostra que presentear com austeridade tem importantes implicações para as condutas futuras das crianças, pois aprender a administrar a escassez na infância é fundamental para que elas desenvolvam o necessário espírito de luta na vida adulta.
A criança que tem tudo, tende a não valorizar nada e, portanto, a não se apegar a nada. Apenas aquilo que é conquistado adquire valor e apego. O filho que é indiscriminadamente gratificado, não aprende a fazer trocas afetivas na vida e pode tornar-se um credor eterno dos outros, não sabendo doar-se.
Condicionar presentes ao esforço realizado pela criança ou premiar com base no mérito, deve ser feito com muito cuidado, pois corre-se o risco de criar uma relação “mercantilista” com a construção do conhecimento – função primordial da infância. Buscar saber o que não se sabe, dominar um conceito novo, esforça-se para se superar podem ter reforços intrínsecos, não necessitariam serem reforçados por presentes.
Presentear com parcimônia, usando de critérios subjetivos é direito dos pais. Pedir é direito também do filho, o que não significa, absolutamente que ele deva ser atendido sempre.
Desejar, mas saber adiar a satisfação do desejo, lutar pelo que se precisa e se quer, respeitando as condições dos outros, leva à formação de valores e princípios que serão importantíssimos para enfrentar a realidade da vida.
Usar o dinheiro de forma racional e engenhosa é um aprendizado que os filhos devem ter com seus pais. É certo que vivemos em uma sociedade consumista, mas o importante é ser capaz de saber consumir. Isso, os pais podem ir ensinando para suas crianças desde pequenas. Ou seja, sabendo dosar de maneira adequada, para os filhos, os atos de presentear.