por Roberto Goldkorn
Há cerca de vinte cinco anos, participei de um programa de TV onde um dos entrevistadores era candidato a um alto cargo executivo na cidade. Claro que a presença dele ali já era uma maracutaia como vim a saber depois. Ele era famoso por seu conservadorismo exacerbado e pela sua “luta” a favor da educação.
Estava presente a sua “noiva”, que vim a saber depois tratar-se de uma contratada para fazer esse papel, uma vez que o em questão era um homossexual enrustido.
Na mesa havia vários convidados e eu era um deles. Num dado momento, ele se virou para mim e perguntou (depois da minha apresentação):
“Afinal Roberto o que você é? Um religioso ou um homem de ciência?”
Seu tom era um misto de desafio e escárnio. Ele talvez soubesse que eu não poderia dar uma resposta simples do tipo é pau ou pedra, e em televisão qualquer desenvolvimento de raciocínio é pecado mortal, pois implica em tempo, e tempo é o que existe de mais valioso em TV.
Tentei começar a explicação dizendo que em primeiro lugar eu era tudo aquilo que ele não era, que eu representava o homem novo, o aquariano que tinha os pés nos dois mundos espiritual e físico, artes e ciência. Ele virou as costas para mim, e fixou-se no psiquiatra a minha frente e disse: “O Sr. Doutor que é um homem sério por favor nos diga …”
Pela culatra
O desconhecimento das mecânicas espirituais e principalmente da psicologia de massa, fez com que ele, tentando crescer, pisando na minha cabeça, acabasse afundando. Os telefonemas dos telespectadores copiados em papeizinhos pelas atendentes e não mostrados no ar, era de indignação, e repúdio à atitude daquele candidato. Obviamente ele despencou nas pesquisas e acabou as eleições (sua última) em penúltimo lugar. A partir daí, caiu num ostracismo absoluto e morreu alguns anos depois, dizem que de complicações causadas pela AIDS.
Contei essa historinha como uma fabula cheia de ilações morais e com pretensões a ser didático.
Vivemos num mundo onde o verdadeiro se confunde com o falso, e muitas vezes, o falso nem é tão falso, nem o verdadeiro tão verdadeiro. Vivemos num mundo de meios tons, de mais sombras que claridade, um mundo onde as Papisas[1] encobertas pelo véu dos segredos inconfessáveis ditam as direções a seguir.
Muitos brandindo as suas verdades absolutas, estão dispostos a morrer por elas e até morrem mesmo, só para “descobrir” através da história que as suas verdades não valiam mais que um pedaço seco de coco de cachorro. Outros fazem o mesmo com suas mentiras sabendo exatamente o que são, mas satisfeitos com esse destino de embusteiros. Como sobreviver nessa selva escura e enganosa? Como saber quem mente, quem está com a verdade ou simplesmente quem é confiável? Projetamos o nosso amor em pessoas não confiáveis, fazemos negócios com falsos parceiros e o resultado disso e desolação, raiva e frustração. Não há uma regra de ouro que nos coloque a salvo dos embusteiros de plantão. Mas há, sim, atitudes “espirituais” que podem nos deixar em vantagem nesse embate de sombras.
Em primeiro lugar: você pode se defender dizendo não antes de qualquer coisa, desconfiando de tudo e de todos, ou pode confiar. Confiar é melhor, mais saudável e não tem o amargor do desconfiado eterno. Mas confiar nas alianças espirituais que você construiu ao longo do tempo. Confiar nos sentinelas que você atraiu e alimenta com as suas orações, agradecimentos e amor. Se quiser simplificar use o lema do dólar americano cheio de subtextos: Em Deus confiamos! Ou seja, o resto está sujeito à confirmação.
Projete os seus olhos nas alturas do plano espiritual: de lá é possível “ver” o rabo do capeta escondido sob a vestimenta chique.
Se você trafega única e exclusivamente no plano material, vai ter de jogar com as mesmas armas dos falsários. psicopatas e maus atores. E se não estiver incluído nessas categoria vai sempre sair perdendo, pois eles já nasceram sabendo. Busque as armas do mundo espiritual, afine a sua intuição, cultive o silêncio da meditação para assim poder ouvir a tênue vozinha que lhe dá as dicas sempre que você ouve. Não tenha pressa de fechar um negócio, por mais que a situação o esteja premindo. É nessa hora de aflição e precisão que os falsários agem. A alta ansiedade é um ruído de motor no alto giro que impede que você ouça a voz do seu Eu espiritual, ou de seus aliados invisíveis.
Pare e silencie mesmo em meio à tempestade. Em momentos de grande aflição e desespero pare por um minuto e medite nessa frase: “Eu estou na confusão, mas não sou da confusão. Sereno a minha mente como a superfície de um lago imóvel. Estou impassível e receptivo à comunicação interior. Respiro profunda e suavemente, observo a minha respiração e relaxo. Agora sou o lago de águas imóveis e serenas. Agora escuto a minha voz interior, sempre verdadeira.”
Desejo a todos e a mim mesmo uma ótima viagem.
Referencia à lamina do Tarô A Papisa ou A Sacerdotisa que é ilustrada com um véu sobre o rosto, que indica a guarda de sigilos, mas também tolda sua visão da realidade. A psicanálise explora bem esse aspecto do psiquismo, quando a manutenção de um segredo daqueles imensos (para quem o está guardando) acaba por distorcer a visão de mundo. Intuitivamente a Igreja católica criou o instrumento da confissão para aliviar o peso desses segredos pecaminosos que às vezes até “aleijam” seus portadores.