por Danilo Baltieri
"Trabalho no CREAS e estamos com um grupo de vivência familiar de dependentes químicos. Que orientação o senhor indica para a convivência familiar após a internação? Como a família deve recebê-lo ao voltar para casa?"
Resposta: Tenho recebido perguntas semelhantes a esta várias vezes.
Normalmente, os familiares dos pacientes internados são convidados algumas vezes para conversar com a equipe de profissionais especializados da clínica onde o paciente está internado para receber orientações sobre o paciente, bem como sobre como o ajudar a lidar com a doença futuramente.
Essa etapa é essencial no processo de recuperação e tratamento de qualquer indivíduo portador de dependência química. Nessas conversas, os familiares são (ou pelo menos deveriam ser) aconselhados a inserir-se em alguma forma de tratamento psicossocial, objetivando fortalecer o acolhimento adequado, estabelecer limites precisos e reduzir a codependência.
Eu tenho reiteradamente escrito que os familiares dos dependentes químicos devem estar inseridos em uma adequada forma de manejo terapêutico, visto que, frequentemente, eles também adoecem. Isso é consenso na literatura especializada e o manejo familiar deve ser adequadamente desempenhado.
A internação, dentre outros objetivos, deve ter promovido um ambiente estruturado para a abstinência completa das substâncias e facilitado a internalização de regras para a mudança do estilo de vida.
Dessa forma, o dependente, retornando para casa, deve continuar o processo de tratamento iniciado (ou mesmo reiniciado) dentro da clínica, hospital ou comunidade onde permaneceu por algum tempo.
Abaixo, transcrevo alguns procedimentos que os familiares podem adotar diante do dependente químico. Novamente, reitero que os dependentes de substâncias bem como seus familiares são bastante heterogêneos. Assim, a proposta de uma única fórmula de tratamento é impossível nesse contexto.
Dicas para os familiares:
1. Você não é responsável pela dependência do seu familiar. Você não a causou, você não pode controlá-la e você não pode curá-la sozinho;
2. Apesar de você não ser o responsável pela dependência do seu familiar, você é responsável pelo seu próprio comportamento. Você tem a escolha de ajudar o seu familiar a evitar o consumo de substâncias, através do adequado estabelecimento de limites, acolhimento, orientações e tratamento;
3. A dependência do seu familiar não é um sinal de fraqueza da sua família. Infelizmente, isso pode ocorrer em qualquer família, como quaisquer outras doenças;
4. Não ameace, acuse, moralize os erros passados do seu familiar dependente. Isso apenas tornará você o foco da raiva e frustrações do seu familiar dependente; além disso, não ajudará o mesmo a modificar o seu comportamento;
5. No entanto, não mascare, desculpe ou proteja o dependente das consequências naturais do seu comportamento. Fazendo isso, você se torna "cúmplice" na perpetuação dos comportamentos irresponsáveis ou inadequados do adicto;
6. Não tente encontrar fatos no passado do dependente, como traumas infantis, estresse no trabalho, problemas conjugais, para justificar o problema com as drogas. Isso somente promoverá a chancela ao indivíduo dependente para a manutenção do uso das substâncias;
7. Não faça "jogos de culpa" para o indivíduo dependente. Por exemplo, dizer que "se você realmente gostasse de mim, você pararia de usar drogas" realmente não funciona. Culpa não funciona;
8. Não use ameaças como forma de manipulação. Você pode e DEVE estabelecer limites, mas primeiro pense cuidadosamente e, então, esteja preparado para ir adiante. Se você não sabe o que dizer, é melhor não dizer nada;
9. Não permita que o indivíduo dependente "explore" você financeiramente ou de qualquer outro modo. Respeite-se;
10. Não ignore formas de manipulação realizadas pelo adicto (dependente). Não estabeleça conluio com o indivíduo dependente para manter segredos sobre o consumo de drogas. Isso apenas aumentará a evasão da responsabilidade por parte do adicto;
11. Não se esqueça de procurar e manter o seu próprio tratamento. A codependência pode ser, às vezes, devastadora;
12. Não tente proteger o indivíduo dependente de problemas comuns da família;
13. Não espere que o indivíduo dependente em recuperação seja "legal" o tempo todo. Às vezes, ele pode ficar irritado, triste, ou de mau humor, sem que isso esteja relacionado ao uso de drogas;
14. Além do problema relacionado ao uso de drogas pelo familiar dependente, você tem outros problemas para solucionar. Não os deixe de lado;
15. Não se iluda pensando que o individuo dependente está "curado" e nunca mais usará substâncias. A Síndrome de Dependência é uma doença crônica que requer tratamento continuado;
16. Não deixe de focar-se em si mesmo. Utilize o seu sistema de apoio, terapeutas, outros familiares e amigos para possibilitar a sua recuperação enquanto codependente;
17. Receba seu familiar dependente. Mas, lembre-se, ele precisa aderir às regras da casa e assumir responsabilidades. Uma supervisão de todo esse processo realizada por profissionais competentes é desejável.