por Danilo Baltieri
“No meu ambiente de trabalho fui obrigada a ficar exposta durante oito horas à cola de sapateiro. Fiquei com ardência nos olhos, garganta e ressecamento nas vias nasais. Isso pode me causar dano posterior?”
Resposta: De fato, há uma ampla gama de consequências deletérias advindas da exposição a solventes e inalantes. Embora existam vários tipos de solventes, classificados de acordo com suas propriedades químicas, frequentemente eles são discutidos como um único grupo devido aos efeitos nocivos sobre aqueles expostos.
Os solventes provavelmente são as substâncias mais comumente utilizadas nos locais de trabalho e, dentre todas as demais, uma das mais nocivas à saúde.
Os efeitos negativos à saúde comumente incluem: irritação da pele e mucosas, efeitos nocivos sobre o Sistema Nervoso Central, ações negativas sobre os rins e fígado, alterações hematológicas.
O termo “exposição” significa o contato com qualquer atributo que possa ser relevante para a saúde do indivíduo, sejam fatores ambientais, biológicos ou relacionados à situação sócioeconômica, atuando isoladamente ou em interação com fatores genéticos.
Exposição por tempo prolongado a solventes tem sido associada com efeitos neurocomportamentais persistentes. Estudos epidemiológicos têm também relacionado ‘exposição a solventes’ com ‘infertilidade’. Também, um risco aumentado de abortamentos prematuros entre mulheres gestantes expostas a essas substâncias tem sido reportado, como com o tolueno. Alguns dos solventes orgânicos têm sido relacionados com o desenvolvimento de alguns tipos de carcinomas, como linfomas.
Se você trabalha com solventes de alguma forma, procure saber quais são os tipos de substâncias a que você está exposta, quais são os efeitos sobre a sua saúde e como você pode proteger-se de quaisquer riscos.
Efeitos à saúde
Sistema Nervoso Central (SNC)
Os solventes são potentes depressores do SNC, causando rebaixamento do nível de consciência, da atenção e da concentração. Na intoxicação, o indivíduo exposto manifesta tontura, sedação, cefaleia, náusea e vômito. Se os níveis da exposição são altos, vertigem, convulsões e desmaios podem ocorrer.
Exposição crônica pode provocar perda do apetite, irritabilidade, alterações significativas do comportamento, fadiga, sintomas depressivos.
Metilbutilcetona, n-hexano e dissulfídeo de carbono podem provocar danos ao sistema nervoso periférico, provocando lentificação na transmissão de impulsos nervosos da medula espinal até os membros superiores e inferiores. O resultado é o que chamamos de neuropatia periférica, uma doença caracterizada por sensação de formigamento dos membros, redução da força e até mesmo paralisia.
Coração
Vários solventes (principalmente aqueles com hidrocarbonetos) causam anormalidades nos batimentos cardíacos. Benzeno, clorofórmio, heptano, tricloroetileno, metilclorofórmio têm a habilidade de causar arritmias cardíacas. O tetracloroetileno tem provocado arritmias fatais em humanos e animais.
Fígado e rins
O fígado converte os solventes em outras substâncias, as quais são excretadas pelos rins. Como consequência, ambos os órgãos (rins e fígados) são afetados pela exposição a solventes. Tricloroetileno, halotano e clorofórmio são os mais frequentemente registrados.
Nefrotoxicidade tem sido amplamente registrada entre indivíduos expostos cronicamente a solventes.
Propostas para redução da exposição
Existem várias propostas para reduzir a exposição ocupacional aos solventes orgânicos, tais como:
a) desenvolvimento de colas aquosas (à base de água) ou sólidas;
b) ambientes de trabalho adequadamente ventilados;
c) adequados e supervisionados equipamentos de exaustão;
d) equipamentos pessoais de proteção, como luvas, máscaras;
e) informações completas aos trabalhadores sobre as características de cada solvente utilizado.
Abaixo, fornecemos um questionário comumente utilizado para averiguar possíveis consequências à saúde relacionadas com a exposição a solventes entre trabalhadores.
Questionário sobre consequências da exposição a solventes
1. Você tem estado constantemente cansado?
2. Você tem sentido palpitações frequentemente?
3. Você tem sentido dores ou formigamentos em alguma parte do seu corpo?
4. Você tem estado irritado sem qualquer causa aparente?
5. Você tem se sentido deprimido sem qualquer razão particular?
6. Você tem mostrado problemas de concentração?
7. Você tem demonstrado problemas com a memória?
8. Você tem transpirado muito, sem razão para isso?
9. Você tem manifestado dificuldades em tarefas manuais simples (como abotoar-se ou desabotoar-se)?
10. Você tem verificado que está com dificuldades para entender o significado do que lê em jornais ou livros?
11. Seus amigos e parentes têm advertido você sobre a sua memória enfraquecida?
12. Você às vezes sente desconforto em seu peito?
13. Você tem frequentemente feito notas sobre o que deve lembrar, quanto às tarefas corriqueiras do dia a dia ?
14. Você tem mais recentemente verificado muito mais vezes as suas tarefas do que antes?
15. Você tem sofrido de dor de cabeça mais frequentemente?
16. Você está menos interessado em sexo do que antes?
Se você tem menos de 28 anos de idade, e respondeu afirmativamente a mais do que 4 questões das acima, o médico do trabalho deve ser consultado.
Você, enquanto empregado de uma instituição que trabalha com solventes, deve:
1. Requerer do seu empregador uma lista completa de todos os solventes utilizados pela instituição;
2. Solicitar que os solventes sejam avaliados quanto ao risco de toxicidade;
3. Verificar com a sua chefia e sindicato sobre a possibilidade de substituição de solventes mais tóxicos para outros menos tóxicos;
4. Converse com os seus colegas de trabalho sobre os riscos possíveis da exposição e meios para evitar;
5. Se você necessitar de assistência, procure o seu médico do trabalho.
É possível evitar consequências danosas advindas do seu trabalho envolvendo solventes, principalmente se os trabalhadores estiverem conscientes sobre os meios necessários para promover uma maior segurança no trabalho e atuarem em conjunto nesse sentido.