por Thaís Petroff
A base da insegurança é não crer em si mesmo, gerando sentimentos de incapacidade e inferioridade, de baixa autoestima, necessitando exageradamente de apoio e aceitação por parte de outras pessoas. Esse não se acha digno de ser amado, por acreditar que não possui atributos.
Todo esse quadro, na visão cognitivo-comportamental, pode ser compreendido como uma propensão à vulnerabilidade cognitiva e não credibilidade na sua autoeficácia.
Vulnerabilidade cognitiva é a predisposição para fazer construções cognitivas falhas, em outras palavras, a tendência de cometer distorções ao processar informações, com predisposição a transtornos emocionais.
Um exemplo de uma distorção ou construção cognitiva falha é, diante de alguma situação futura, pensar… : “O pior vai acontecer e eu não saberei lidar com isso”.
O indivíduo percebe e interpreta um evento futuro de acordo com suas crenças (nesse caso crenças pessimistas e de incapacidade); responsáveis por “filtrar” toda a informação e estímulos que ele recebe. Ou seja, a organização de experiências não se dá de modo automático, como se o indivíduo fosse um receptor passivo. Ao contrário, as novas experiências são incorporadas às experiências anteriores seletivamente, de maneira a atenderem a dois critérios básicos: terem utilidade funcional e estarem em harmonia com experiências passadas.
Ao assimilar novas experiências, a pessoa incorpora o que lhe é útil e que está de acordo com seu passado, ou seja, o que se encaixa em estruturas já predefinidas. Temos assim, uma visão enviesada dos eventos e circunstâncias, pois enxergamos e percebemos com mais facilidade tudo o que reforça e se adéqua as crenças que já temos. Dessa maneira, deixamos de dar atenção ou ainda distorcemos fatos quando não se encaixam em nossos padrões.
Esta explanação explica o porquê de cada um de nós possuirmos percepções únicas, seja a respeito de uma situação, de um objeto, de uma pessoa ou sobre si mesmo.
Comportamento inseguro
Pessoas inseguras têm:
– dúvidas quanto às suas capacidades;
– temor em se relacionar com outras pessoas;
– desmotivação ou receio em se engajar em novas atividades;
– descrença em seu poder pessoal de influir nos eventos da própria vida.
Desse modo fogem de situações às quais precisem se expor e acabam por manter e reforçar esse autoconceito de incapacidade e inferioridade.
É o caso de pacientes que reclamam de não conseguirem se aproximar de estranhos, ou terem dificuldade de relacionamento até mesmo com conhecidos, com medo de serem rejeitados. Por isso não respondem como gostariam às atitudes desrespeitosas ou agressivas dos outros; não conseguem emitir ou afirmar suas opiniões; postergam ao máximo possível decisões necessárias; chegando a prejudicar sua vida pessoal e profissional. É comum esses pacientes referirem-se a si mesmos como inseguros, medrosos, incapazes e, até os mais extremados, como covardes.
Autoeficácia negativa
Percebe-se assim que suas percepções de autoeficácia são negativas. Segundo o psicólogo Albert Bandura, a definição de autoeficácia é: “Crença do indivíduo sobre as suas capacidades de exercer controle sobre acontecimentos que afetam a sua vida” ou ainda“ Os julgamentos das pessoas quanto a suas capacidades de organizar e de executar cursos de ação exigidos para atingir determinados tipos de performance.”
Bandura não se refere às habilidades que a pessoa tem, mas aos julgamentos quanto ao que se pode fazer com quaisquer habilidades que possui. Isso é determinante com relação ao esforço ou energia que a pessoa irá despender em uma determinada atividade e por quanto tempo ela persistirá em um determinado comportamento.
Indivíduos inseguros por terem um autoconceito* ruim, desejam fazer tudo de uma determinada maneira (para ele supostamente ideal), mas não se acham capazes (distorção na percepção do eu real), e experimentam sentimentos de insatisfação e baixa autoestima.
Frente ao que foi exposto, é razoável pensar que um tratamento psicoterapêutico para a insegurança precisaria propor-se a olhar e modificar as questões citadas acima. É necessário, portando, trabalhar mudanças na percepção da realidade do paciente, corrigindo as distorções de pensamento, da visão do eu atual, real e ideal…
Deve-se facilitar o desenvolvimento de habilidades específicas que o auxiliem a alcançar seus objetivos e enfrentar situações; bem como a resolução de problemas que considerem difíceis e perseverança frente aos obstáculos que eventualmente possam ocorrer.
* Autoconceito é a visão que a pessoa possui de si mesma, a maneira pela qual ela se percebe, ou ainda, o conceito que faz sobre si.