Por Aurea Caetano
Falamos em texto anterior (veja aqui), sobre o movimento de cocriação da mente do bebê. Assim como a mente do bebê é construída a partir de suas experiências no mundo e na relação com a mãe e/ou cuidadores; também a mente da mãe vai ser modificada e recriada a partir da relação com seu bebê. Da mesma forma como não há um bebê sem uma mãe, também não há uma mãe sem um bebê; a própria existência da figura mãe depende da existência de um bebê com o qual se relaciona e a partir do qual também constrói sua identidade materna.
A existência é sempre compartilhada. Um ser humano é constituído a partir das relações que estabelece com outros seres humanos e com o meio ambiente no qual está inserido. Ou melhor, para que um ser seja humano é imprescindível que ele estabeleça relações com semelhantes. Figuras alegóricas como Tarzan ou “Mogli, o menino lobo” nos lembram sempre da importância das primeiras relações para o surgimento de um ser humano que se compreenda como tal. De outra forma, seu desenvolvimento será prejudicado ou será restrito ao funcionamento do grupo no qual cresceu e com o qual estabeleceu conexões.
Diálogo incipiente da mente do bebê
O processo de humanização acontece a partir das relações afetivas com os companheiros de jornada, com nossos semelhantes. Pensando ainda nas primeiras experiências, sabemos que o diálogo incipiente da mente do bebê com a mente da mãe ou cuidador vai moldando e construindo o cérebro do bebê e, portanto, também como esse bebê vai se relacionar com o mundo. Com repetidas experiências, o cérebro do bebê é capaz de detectar similaridades e diferenças, possíveis generalizações que serão alicerces para módulos mentais ou esquemas que ajudam a criança a interpretar o presente e prever o futuro. Estas experiências não são apenas registradas em padrões mentais, mas também moldam a estrutura crescente do cérebro do bebê. Ou seja, estamos falando aqui do desenvolvimento de uma mente essencialmente ancorada nas primeiras interações com o mundo.
Falhas ou dificuldades importantes nesses primeiros meses de vida podem levar a um comprometimento no desenvolvimento global. Não são apenas os aspectos psicodinâmicos que podem ser prejudicados, mas também os neuropsicológicos. Sabemos que o crescimento de um ser humano se dá por inteiro; um bom desenvolvimento físico dá maiores chances a que ocorra também um adequado incremento nas relações com os outros e vice-versa. Não se pode esperar que uma criança cresça da forma esperada se a relação com a mãe ou cuidador não for adequada ou constante.
Tarefa das mais importantes, cuidar de uma criança, ajudá-la a se desenvolver de forma adequada, facilitar sua interação com o mundo e dessa forma também aprender e desenvolver a função cuidador(a), polaridade essencial nesse relacionamento.