Por Regina Wielenska
De vez em quando escuto alguém afirmar que seu terapeuta lhe deu alta. Pessoalmente, acho mais provável que nesse caso o cliente e seu terapeuta tenham um ponto de vista em comum de que a terapia alcançou resultados satisfatórios, e que, a partir daquela fase, a pessoa se estruturou o suficiente para conduzir seu existir sem as reflexões regulares que mantinha nas sessões com o terapeuta.
Outra razão para um cliente interromper sua terapia, pode ser que ela chegou a tangenciar questões muito importantes, estruturais até, mas que o cliente não se sente inclinado a mergulhar nas águas profundas de sua história de vida. Nem sempre o cliente será capaz de olhar esta questão com clareza, e sem se dar conta, acabará alegando outras razões, vagas, não procedentes e imprecisas.
Temer o confronto consigo mesmo
Um exemplo seria do cliente que teme ser confrontado com aspectos do eu que prefere ignorar ou do cliente que preferiria receber do terapeuta respostas prontas e fáceis de seguir acerca dos problemas que levou para as consultas. Em ambos os casos, no mundo ideal, seria desejável que cliente e terapeuta pudessem dialogar sobre as barreiras encontradas. Afinal, como diz o velho ditado, é conversando que se entende. Barreiras emocionais e de comunicação ocorrem frequentemente nas quatro paredes do consultório, mas a conversa franca, corajosa e sem julgamentos de ambas as partes pode levar a descobertas cruciais e trazer avanços no autoconhecimento e habilidades do cliente.
Problemas financeiros (desemprego, despesas imprevistas, corte de subsídios, morte em família etc) e limitações impostas por contratos com o seguro-saúde podem também levar ao encerramento precoce e, por vezes, abrupto, da terapia. Alguns terapeutas podem aceitar, por algum período, condições mais amenas de remuneração. Na impossibilidade disso, podem também sugerir instituições da rede pública e privada que oferecem atendimento gratuito ou a custos simbólicos, ainda que haja fila de espera em alguns desses serviços.
Influência de terceiros
Cônjuges ou pais de crianças e adolescentes podem também influenciar a retirada de alguém da terapia. Se um adolescente em terapia tiver se tornado “uma pedra no sapato” da família, apontando manipulações ou agressões parentais, por exemplo, eles podem simplesmente forçar o fim do tratamento, para provável prejuízo de todos. Se uma esposa submissa começa a questionar seu marido autoritário, ele pode tentar convencê-la de que sozinhos conseguirão se entender, de que o dinheiro está curto ou poderia ser melhor revertido para benefício das crianças.
De todo modo, é reservado ao cliente o direito de interromper um tratamento psicológico a qualquer momento, mas recomenda-se que haja uma sessão de encerramento, com avaliação do processo vivido, analisando suas eventuais barreiras e progressos e sinalizando possibilidades futuras, seja com o mesmo terapeuta ou outro profissional.