por Renato Miranda
Algumas pessoas me perguntam como e o que fazer depois de anos vividos e uma aposentadoria ociosa há corroer seu dia a dia e nenhuma habilidade para desenvolver um tipo de atividade qualquer que seja.
Se eu proponho paralelamente ao trabalho o desenvolvimento de algum hobbie preferencialmente ligado a uma habilidade física ou cognitiva (esporte e fotografia, por exemplo) e por um motivo ou por ouro a pessoa não conseguiu condições para tal, é justo então que a mesma faça a pergunta: como e o que fazer a partir de agora?
Primeiramente sempre é motivante pensar que há algo possível a aprender ou até mesmo uma habilidade especial desconhecida que temos e ainda não foi descoberta e, portanto, mobilizada. Por outro lado, esse pensar não é o suficiente para concretizarmos algo prático, mas é possível fazê-lo instrumento de inspiração.
Ainda assim, poderá ser muito pouco em termos práticos. Então sugiro que o início de uma nova jornada seja o condicionamento físico. Por mais inábil que alguém se considere, o fortalecimento físico está a alcance de todos. Se minha saúde está fortalecida, em consequência tenho condições de almejar algo.
Caminhar, correr, exercícios musculares elementares estão ao alcance de todos. Sob orientação básica e qualificada é possível iniciar os primeiros passos para uma grande transformação sobre o modo de pensar a vida fora do trabalho.
Muitas inspirações vieram com a energia de nosso corpo físico. Não é à toa que os filósofos eram considerados atletas. Não nos esqueçamos das palavras de Michel Serres em seu livro Filosofia Mestiça que afirma que Platão em grego significa ombros largos, isso denotaria que os mesmos foram adquiridos em horas de treinamento físico.
A inspiração não vem do marasmo, e sim da força. O descanso ou a quietude que por vezes nos inspira, é o resultado da recuperação da energia produzida em esforço psicofísico e não propriamente do relaxamento.
Portanto, para aquele que se considera sem habilidade para nada e, por conseguinte sem motivação para aprender e a se dedicar a algo novo, é bom refletir que isso pode ser um engano e que tudo aquilo a ser revelado em termos de habilidade e motivação pode ser encadeado através do movimento, do exercício físico.
É bem provável que uma pessoa descubra seu talento para pintar ou prestar serviços humanitários ou mesmo para a música depois de algum tempo se exercitando – oxigenando, fortalecendo e harmonizando seu organismo psicofísico.
Será muito improvável encontrar alguém que faça exercícios regulares e esteja em forma, desmotivado e sem interesse em aprender ou desenvolver algo. O simples fato de se manter saudável, já é elemento de se projetar níveis de motivação elevados e harmonia psíquica (equacionamento das tensões e ansiedade e o equilíbrio emocional).
Um caminhar pela manhã ou ao final do dia e rigorosamente disciplinados através dos dias é talvez uma boa recomendação para se iniciar um futuro melhor em uma vida sem o trabalho.
Com o tempo a mente estará “aberta” aos novos desejos, oportunidades, ideias e desafios. Muitos artistas amadores e relativamente desconhecidos descobriram seus talentos depois da aposentadoria. A inspiração, repito, necessita de força, energia e oxigênio. O noticiário diário, as conversas sobre dificuldades, a amostragem televisiva da desordem e das mazelas humanas produzem desesperança e desânimo para aquele que está em idade avançada e gostaria de desafiar algo.
Se você acredita piamente que não sabe fazer nada, exercite-se livremente, caminhe, corra, faça disciplinadamente aquilo que souber. No começo poderá ser difícil, com o tempo um novo mundo se abrirá a seus pés. De tão simples essas ideias não convencem facilmente ninguém. Mas pode apostar, quem sabe um dia você me convidará para ver sua exposição de arte, sua apresentação musical, seu artesanato, seu discurso ou sua força!