por Edson Toledo
Que estamos vivendo uma crise sem precedentes nas relações humanas é inegável. Todos os dias assistimos ou vivenciamos, seja na vida presente ou na virtual, a comportamentos que vão do ódio declarado ou sutil, ao desdém em relação ao outro. Que as relações humanas seja complexas é bem compreensivo, pois exigem delicadeza, atenção e compromisso social. O fato é que tem sido difícil manter a saúde mental e a qualidade de vida nesse contexto atual.
Há uma grande preocupação global com a nossa atual falta de empatia. Um sinal disso foi que em 2014, foi inaugurado em Londres, o primeiro Museu da Empatia que te faz o seguinte convite: experimentar e entender o que realmente é ser outra pessoa.
No museu, os visitantes são convocados a experimentar (“enxergar”) o mundo pelo olhar do outro – não alguém próximo ou conhecido, mas outro com quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a expressão inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua portuguesa dizemos “em seu lugar”.
Os visitantes se deparam, na entrada, com uma enorme caixa de papelão com diferentes pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona daquele par, assim os visitantes andam uma milha (pouco mais de um km e meio) nos sapatos de outra pessoa.
Para que você tenha uma ideia: os sapatos bem enlameados pertenciam a um arqueólogo que explicou muitas curiosidades sobre o rio Tâmisa e que revelou ter decidido estudar história, porque tinha sido adotado e sentia falta de ter uma história própria.
Outro era um par de sapatos bem grande que pertenceu a um homem que sofreu um golpe e foi preso por tráfico de heroína. E, depois de sair da cadeia e ser inocentado, só pensava em vingança. Mas ele então fez um curso de arte e decidiu se dedicar a isso para canalizar a sua raiva e acabou levando outros ex-presidiários a fazer o mesmo. Um deles era um tipo durão e agressivo que acabou revelando uma paixão por desenhar personagens da Disney. Outra surpresa, um par de saltos altos pertencia na verdade a um homem que fazia um bingo semanal como drag queen.
Embora tudo pareça divertido, há uma mensagem por trás do Museu da Empatia. Este procura criar uma nova conversa sobre o déficit de empatia crescente que aflige a sociedade. Todos sabemos disso.
Falta de empatia
Minúsculos grupos de elites vivem em luxo, enquanto milhões de crianças vivem em condições sub-humanas. O racismo permeia instituições públicas da polícia ao judiciário. A indústria de autoajuda e a cultura de consumo geraram uma onda de hiperindividualismo que elevou a questão: "O que há para mim?"
Se realmente nos preocupamos com a justiça social, precisamos encontrar formas eficazes e inventivas de enfrentar o déficit de empatia.
Uma pesquisa científica revelou que 98% das pessoas têm a habilidade de criar empatia, mas são poucas as que conseguem alcançar o potencial completo.
Empatia made in Brazil
Enquanto não podemos ir a Londres e calçar alguns pares de sapatos, podemos utilizar algumas estratégias made in Brazil:
– estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência é mais do que contravenção: é falta de empatia;
– reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia;
– agredir ostensivamente o outro por suas posições e condições é mais do que dificuldade em lidar com as diferenças: é falta de empatia.
– reclamar do comportamento dos mais novos também é falta de empatia.
Pense nisso, já que desenvolver a empatia é uma condição absolutamente necessária para ensiná-la aos mais novos. Aliás, os estudos mostram que eles podem tê-la mais facilmente do que nós. Isso porque crianças e adolescentes estão descobrindo e vivenciando novas experiências o tempo todo.