por Danilo Baltieri
"Gostaria de saber o que fazer com meu marido, pois faz 12 anos que vivo com ele e nesse tempo ele já passou por umas dez internações em todos tipos de clínica. Mas nada adianta. Ele fica uns três meses limpo e depois recai. Ele usa crack, cocaína e maconha. Todo fim de semana, ou em qualquer festa ou jantar, ele sempre toma algum tipo de álcool. Não sei mais o que fazer. Já tentamos todos os tratamentos e remédios e nada adianta. Sei que a adicção não tem cura, mas como vamos ter certeza se a pessoa se manterá limpa? Por favor me ajude, não aguento mais essa vida, estou me desfalecendo…"
Resposta: Os portadores da Síndrome de Dependência de Substâncias Psicoativas constituem uma população bastante heterogênea.
Isso significa que nem todos os pacientes respondem adequadamente a uma mesma fórmula terapêutica. Inúmeros ingredientes insalubres podem compor de forma diferenciada cada quadro clínico. Aspectos genéticos, neurobiológicos, psicológicos, ambientais, familiares e sociais devem ser rigorosamente avaliados ou analisados para que os tratamentos sejam potencialmente eficazes.
As seguintes observações devem ser levadas em consideração durante um processo terapêutico:
a) A Síndrome de Dependência é uma doença crônica que demanda tratamento prolongado;
b) Recaídas fazem parte do tratamento; entretanto, é esperado que os portadores consigam driblar progressivamente e com grande sucesso as situações de risco muitas vezes inevitáveis;
c) Os pacientes portadores de Síndrome de Dependência constituem uma população bastante heterogênea;
d) Os melhores resultados terapêuticos estão diretamente relacionados com a adesão dos pacientes às orientações médicas. Costumo dizer que o tratamento é uma via de mão dupla, ou seja, não basta uma equipe de profissionais disponível, especializada e interessada em ajudar; a participação ativa do paciente é imprescindível ou essencial para o sucesso terapêutico;
e) Existem várias formas de tratamento para a Síndrome de Dependência de Substâncias Psicoativas. A individualização da proposta terapêutica deve sempre ser adequadamente realizada e cientificamente baseada;
f) Medicações comprovadamente eficazes no tratamento dessa doença são ferramentas indispensáveis em muitos dos casos;
g) A associação entre tratamentos biológicos e psicológicos deve ser considerada, sempre quando possível;
h) Internação é apenas uma das formas de manejo clínico para essa doença. Esse procedimento terapêutico deve ter objetivos claros e bem definidos;
i) Os familiares devem estar inseridos em tratamento especializado também, objetivando angariar recursos internos para manejar os problemas decorrentes da doença.
Sempre quando uma proposta terapêutica falhar no seu objetivo de recuperar um paciente, outras formas de manejo clínico devem ser avaliadas. A colaboração ativa do próprio paciente e dos seus familiares é absolutamente necessária.
Muitas doenças médicas representam grande desafio para os especialistas e para aqueles que delas padecem. Essa é uma das razões pelas quais pesquisas cientificas são produzidas ao redor do mundo objetivando averiguar os melhores resultados em termos de eficácia terapêutica e melhora da qualidade de vida dos doentes.
A Medicina atual não se satisfaz (e, seguramente, nem tampouco deve se satisfazer) com a falta de tratamentos eficazes para as doenças. É exatamente por essa razão que pesquisadores desenvolvem projetos de pesquisa inovadores, sempre analisados por comitês de ética em pesquisa, afim de concluir se determinados tipos de abordagem terapêutica são eficazes e seguros para a população que padece de determinada doença ou transtorno.
Você, seguramente, não é o único familiar de portador de dependência química que não está vislumbrando bons resultados em termos de cessação de consumo e melhora da qualidade de vida do esposo. O tratamento dele precisa ser reavaliado por especialistas na matéria, averiguando quais os principais problemas e falhas durante os processos anteriores (lembro, novamente, que o tratamento é uma via de mão dupla!!).
Infelizmente, para a dependência de cocaína/crack, ainda não existem medicações comprovadamente eficazes para o tratamento clínico. Isso, entretanto, não significa que não existem tratamentos mais e menos eficazes para a população que padece da doença.
Pesquisas ao redor do mundo têm identificado fórmulas de abordagem médica e psicossocial com maior e menor efetividade para os dependentes de cocaína/crack e isso deve ser incentivado no Brasil também.
Procure o seu médico especialista na matéria e converse com ele sobre as suas preocupações diante da “falha” terapêutica. O médico especialista certamente analisará o caso e proporá medidas terapêuticas que podem ser eficazes para casos semelhantes.