Como ter um leve e delicado olhar sobre tudo…

É possível desenvolver um novo olhar sobre a vida! Um leve e delicado olhar. Saiba como acolher suas fragilidades, medos e angústias.

Chega um momento em que você precisa romper com você mesmo por estar esgotado e incapaz de qualquer ineditismo. É hora de buscar o que de si ainda está oculto e que precisa vir à luz, pelo empenho, pela insistência, pela coragem de se reinventar, buscando acordar capacidades que ainda estão adormecidas, administrando limites que não precisam mais prevalecer.

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Anuncio, então, essa boa nova: é possível desenvolver um novo olhar sobre a vida! Um leve e delicado olhar.

Somos livres para mudar porque livre não é quem faz tudo o que quer, que realiza todos os desejos. Livre é quem faz o que faz a partir das suas escolhas.

Alguns boicotadores, para ter uma vida mais dócil, estão alocados na ausência de calma, de paciência, de silêncio para ouvir o coração.

Às vezes, você precisa passar boa parte do seu tempo revendo débitos do passado, analisando se valeu a pena ou não, e não se dá conta da vida que está à sua frente.

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Tudo hoje nos convida a ir com muita pressa, e se não nos cuidamos, adoecemos nesse ritmo que nos impede de perceber a própria vida.

É preciso ter calma – uma virtude essencial. Só na quietude descobrimos que a vida é rara e precisa ser apreciada, saboreada. A vida merece ser vivida em todas as suas fases com muito entusiasmo.

Quando estamos atabalhoados, nossa alma fica em rebuliço, não encontrando lugar de descanso. A verdadeira paz é aquela que, calado o corpo, a alma também começa a se calar e ficar propensa à Deus, aumentando as possibilidades do encontro com o numinoso.

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O silêncio nos ajuda a navegar nas mudanças e ensina que tudo pode mudar. A vida não é linear. A mudança está sempre ali, bem pertinho de nós.

Não há respostas prontas, mas uma jornada na qual podemos aprender, desaprender e reaprender

Estar dentro de si é uma escolha do coração, uma decisão de separar o tempo para a própria intimidade e sentir-se um aprendiz. Não há respostas prontas, mas uma jornada na qual podemos aprender, desaprender e reaprender.  Estar inscrito na linguagem da intimidade que encontra espaço para a afetividade e para confidências.

Um leve e delicado olhar sobre tudo…

Nosso crescimento tem de ser progressivo, ainda que sujeito a recaídas, crises e dúvidas. Mas o fato é que, no secreto, no silêncio, nossa consciência se alarga e pode gerar uma mudança inteira que se refletirá nos gestos e atitudes do dia a dia, enfim, no desejado leve e delicado olhar sobre a vida.

O secreto não é apenas uma dimensão externa, um local propício. É, também, uma dimensão interna, um refúgio no coração, numa dimensão fora do plano racional e pragmático. Há um tempo de silêncio, recolhimento e solitude.

Acolha a sua fragilidade

É preciso, emocionalmente, livrar-nos dos excessos e acolher que somos todos frágeis, que nem sempre somos capazes de dar o que temos de melhor. Por isso, submeter-se às regras da justa medida é uma convocação para o fracasso.

Estressados, perdemos a delicadeza que é a característica fundamental de toda pessoa que tem o coração voltado para os valores eternos.

Delicadeza e leveza são parentes próximos que imprimem graça às dificuldades da vida. Tem a ver com a forma com que escolhemos ver e encarar os acontecimentos do cotidiano.

Não importa o lugar: em casa, no trabalho, na rua, no trânsito…É preciso apenas um pouco de atenção aos comportamentos pesados, intolerantes, raivosos, indelicados e excessivos, que tiram a leveza do viver diariamente.

Os termos pesado e obsessão caminham juntos e nos tiram a percepção das pequenas surpresas.  

Assim, a maneira como transitamos pela vida é responsabilidade nossa. O tamanho e o peso da bagagem que carregamos depende do quanto nos carregamos de angústia, impaciência, hostilidade. Não sobra espaço para o que é macio e suave.

Autoconhecimento: chave para acolher medos e angústias

E é a partir do autoconhecimento que conseguimos balancear e dar equilíbrio aos nossos compartimentos internos. Quando entendemos o que se passa dentro de nós, desenvolvemos o acolhimento dos nossos medos e angústias sem que sejamos sucumbidos por eles.

Mas, para isso, as pausas são necessárias! Alguns minutos com os pensamentos soltos, e sem preocupações, podem ser o suficiente para nosso processo de tornar a alma mais leve.

Surfe na leveza com naturalidade e sem esforço

Quando agimos dessa forma, trazendo mais harmonia ao nosso cotidiano, contagiamos quem está à nossa volta. Criamos uma espécie de onda de leveza, sem o menor esforço.

Lembro-me da minha adolescência, indo para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), com minha irmã portadora de deficiência em sua motricidade.

Lembro do quanto caminhávamos a pé, todos os dias, para ir e voltar. Quanta dificuldade nessa marcha.

Interpretávamos aquele trajeto como simplesmente mais um exercício que nos traria a extrema felicidade de constatarmos a melhora daquele diagnóstico limitante.

Quantas amizades fizemos, quanto brincamos naquele cenário, quanto nos solidarizamos com a dor do outro…

Quantas vezes fiz malabares com bolinhos de chuva na hora do lanche, para que a leveza e a alegria, como painas ao vento, pudessem pairar naquele cenário tão marcado pelo desassossego.  

Um olhar leve sobre a vida sem atropelar o ritmo

Um olhar leve nos convida a pegar leve a vida e isso está longe de sermos pessoas mais fazedoras e menos contemplativas, sem espaço para o respiro da alma. Significa, apenas, desacelerar, ser capaz de seguir um ritmo interno mais legítimo e menos forjado pelas demandas do mundo. É preciso olhar, ainda, para o que temos como valores importantes.

Culturalmente, há um status em estar sempre ocupado. Importante é questionar por que é que fazemos o que fazemos. O que escondemos tanto dentro da gente quando ocupamos demais a vida? Pergunte a si mesmo e decida curar a ferida que você evita presentificar e que ocupa um lugar tão expressivo no seu coração. Aí sim, esse novo olhar fará morada no seu interior.

Aprendi a aceitar meus machucados e a cauterizá-los para que, não latejando, me permitam ouvir o sopro do vento desalinhando meus cabelos.

Por isso, me sinto superconfortável em anunciar que é possível desenvolver um delicado e leve olhar sobre a vida. Um olhar que convide à reciprocidade e reconheça a dignidade do outro e a minha, para fazer diferença por onde meus pés pisarem.

Um novo olhar

“Luto para que o desatino

que há no mundo

não encontre terra descansada

para se desenvolver em mim.

Protegida pelo que creio,

vou recolhendo (e distribuindo)

as estrelas que ficaram pelo caminho.

Não nasci para machucar

ou outras temporárias desnecessidades.

Nasci para salvar pássaros e entrelaçar mãos.”

Maria do Céu Formiga é psicóloga, escritora Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, (ocupando a cadeira de Mario Quintana) e aquarelista. É pós-graduada em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Religião. É consultora autônoma, coordena cursos e workshops. Realiza palestras e trabalhos em simpósios e congressos nos seguintes países: França, Inglaterra, Cuba, Israel, Chile e Estados Unidos. Mais informações: www.mariadoceuformiga.com.br