por Elisandra Vilella G. Sé
O ser humano gasta grande parte das vinte e quatro horas dos dias da sua vida, exercendo atividades que estão ligadas diretamente com sua sobrevivência. Está longe de tornar-se prática diária, o preceito de que oito horas são para o repouso, oito para o lazer e oito para o trabalho.
Existem empresas que têm a política de valorizar o trabalhador mais velho. Os idosos que se mantêm no trabalho são capazes de reestruturar sua hierarquia de metas, sabem evitar envolvimento com altas exigências, selecionam aquilo que acreditam ser mais significativo, são mais capazes de aprender a racionalizar o uso do tempo e de delegar responsabilidades.
Trabalho associa-se a significados como alimento, movimento, produção, criatividade, subsistência, como também a ações que significam dor, fome, sofrimento, inação.
Ou seja, na mesma palavra trabalho, podemos encontrar duas significações: a de realizar uma obra que nos expresse, que dê reconhecimento social e permaneça além da nossa vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo.
Os renascentistas já concebiam o trabalho como um estímulo para o desenvolvimento do homem representando a expressão de sua personalidade e individualidade. O homem sempre foi visto como um ser capaz de realizar e criar algo a partir da atividade desempenhada, por isso o trabalho é considerado a melhor maneira de preencher a vida.
Durante o curso de vida, nossa produtividade no trabalho sofre impacto do efeito do envelhecimento, isto é, o efeito do envelhecimento biológico influencia nas capacidades de desenvolver um trabalho de forma satisfatória e o mesmo ocorre com o efeito das condições de trabalho no processo de envelhecimento. Ou seja, a diminuição das habilidades funcionais e o aumento da vulnerabilidade são observados com o processo de envelhecimento.
A longo prazo os efeitos das condições de trabalho são portanto detectados somente com muitos anos de exposição. E é muito difícil distinguir entre aqueles efeitos de envelhecimento que são um resultado de transtornos e doenças relacionadas à idade e que são específicos para o envelhecimento, daqueles que aumentam devido às condições do trabalho. As condições de trabalho podem, sim, atuar nos fatores do envelhecimento, dependendo do período que atuam e da vulnerabilidade do indivíduo no momento.
Ou seja, esses problemas podem agravar-se numa pessoa em péssimas condições de trabalho e já com fator de risco por algum problema de saúde. Daí a importância de buscarmos uma boa qualidade de vida no trabalho ao longo da vida. E isso depende não só das boas condições de trabalho, como também da responsabilidade em buscar uma velhice com baixo risco para doenças e com satisfação e engajamento ativo na vida.
E possível envelhecer bem no trabalho na medida que possamos eliminar os estereótipos negativos da velhice, que identificam a velhice como doença, com incapacidade e com tendência à rigidez e ao afastamento social. Muitas das crenças sociais sobre a perda de capacidades físicas, mentais, motivacionais e sociais decorrentes do envelhecimento não passam de mitos.
Valorização do trabalhador mais velho
Empresas e organizações geram diferentes conceitos quanto aos limites do trabalhador e às avaliações do trabalhador mais velho. Em empresas onde os procedimentos de trabalho permanecem inalterados por períodos mais longos, ou naquelas que precisam investir numa imagem conservadora das tradições, os trabalhadores mais velhos são mais valorizados.
O fato de os trabalhadores mais velhos serem eficientes em muitas atividades que requerem persistência, precisão, experiência, capacidade de solução de problemas práticos, pontualidade, assiduidade e cuidado, bem como o fato de mostrarem flexíveis e motivados a enfrentar desafios, desmentem muitos dos estereótipos correntes sobre o envelhecimento.
Estudos têm mostrado que muitos adultos são capazes de adaptar-se às mudanças tecnológicas. A permanência de pessoas idosas no trabalho é sinal de que elas são sensíveis ao treino e capazes de generalização de novas aprendizagens.
Um envelhecimento e uma velhice bem-sucedidos depende da continuidade de boas condições de saúde, de atividade e de envolvimento na vida pessoal e no trabalho, o que se traduz em vida ativa e produtiva, contribuindo para a otimização das competências que se tem. E está aumentando a participação dos adultos mais velhos no mercado de trabalho. Empresas e organizações devem antecipar às mudanças que ainda estão por vir, para que consigam alterações relevantes ao progresso delas próprias e ao bem-estar dos trabalhadores.
Estratégias
Trabalhadores mais velhos que apresentem riscos para perda do emprego, devido à competição dos mais jovens ou porque têm dificuldade em alguma tarefa, podem desenvolver estratégias para adaptar-se e manter o emprego e a auto-estima. Os idosos que se mantêm no trabalho são capazes de reestruturar sua hierarquia de metas, sabem evitar envolvimento com altas exigências, selecionam aquilo que acreditam ser mais significativo, são mais capazes de aprender a racionalizar o uso do tempo, a delegar responsabilidades, a adotar um estilo participante de administração e a administrar a própria imagem pessoal. Por outro lado, o trabalho também tem seu papel para favorecer um bom envelhecimento no trabalho.
As empresas devem pensar no planejamento de tarefas, operações, ambientes de trabalho, equipamentos e máquinas adequadas às capacidades, às limitações e aos desejos das pessoas, com vistas ao aperfeiçoamento do seu desempenho, e à redução de perdas e desconfortos resultantes de acidentes, danos e doenças. Para tanto, existe a Gerontecnologia, que significa o estudo do envelhecimento e das tecnologias que facilitam o autocuidado, o manejo da vida e do trabalho pelas pessoas mais velhas.
Assim, dependendo de condições motivacionais, educacionais e ergonômicas e da estruturação do ambiente organizacional, os trabalhadores mais velhos podem manter níveis de funcionamento satisfatório compatíveis com as exigências do mundo do trabalho. Se os idosos tiverem as oportunidades de se expor a condições sociais e culturais adequadas no ambiente de trabalho, eles podem tornar-se especialistas em uma tarefa e desempenhar importante papel na socialização de novos trabalhadores e na transmissão dos conhecimentos e valores corporativos. A educação é o principal fator que faz o indivíduo superar problemas de desigualdade no acesso aos bens e às oportunidades sociais, incluindo o direito ao trabalho digno e a uma velhice produtiva e competente.