Por Danilo Baltieri
Resposta: A codeína é uma importante medicação indicada para o alívio da dor moderada. Sempre deve ser prescrita por médico, de forma criteriosa. Na verdade, a codeína é uma medicação do grupo dos opioides naturais.
Nos casos de dor moderada ou severa, o uso de opioides frequentemente é aventado, como monoterapia ou combinado com outros medicamentos ou formas de tratamento. Contudo, pacientes podem encontrar empecilhos, especialmente quando os opioides são indicados.
Estas barreiras incluem:
a) inadequada formação médica em relação ao uso e problemas relacionados aos opioides;
b) dificuldades dos profissionais de saúde em estabelecer a diferença entre dependência fisiológica, síndrome de dependência e pseudodependência;
c) medo de que os pacientes se tornem dependentes ou "viciados";
d) preconceito em relação às medicações opioides.
Conhecer as definições de pseudodependência, síndrome de dependência e dependência fisiológica é importante ferramenta cognitiva para o médico evitar erros diagnósticos e preconceitos diante dos pacientes em uso dessas medicações. "Dependência fisiológica: consiste em um estado de adaptação cerebral manifestado por evidência de tolerância (necessidade de doses cada vez maiores para obter os mesmos efeitos anteriores, ou perda progressiva dos efeitos desejados em paciente recebendo a mesma dose durante o tempo) e/ou estado ou síndrome de abstinência (sintomas físicos e/ou psicológicos advindos da parada ou redução abrupta da medicação, manifestados por aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, sudorese, inquietação, bocejos, midríase (dilatação da pupila), recrudescimento da dor, cãibras, pilo-ereção (pelos em pé).
Dependência fisiológica é um fenômeno neurofarmacológico, como resultado da adaptação cerebral à medicação. É esperado que muitos pacientes usuários crônicos destes agentes apresentem esta forma de dependência.
"Pseudodependência: consiste no tratamento da dor com doses inadequadamente baixas de opioides, o que leva o paciente a queixar-se de dor frequentemente, apesar do uso das medicações. Aqui, o médico deve reavaliar criteriosamente a doença e estabelecer uma correlação entre o processo fisiopatológico e o sintoma da dor." Síndrome de Dependência: é caracterizado por sinais e sintomas associados a um uso patológico de opioides. É uma doença crônica, com raízes neurobiológicas, comportamentais e psicossociais, com o envolvimento de fatores ambientais. É caracterizada por um comportamento que pode incluir: perda de controle sobre o consumo da droga, uso compulsivo, uso continuado apesar das consequências nocivas e fissura ou "craving".
É necessário identificar como e por que o uso do opioide iniciou, como e por que a droga continuou a ser consumida, e qual o quadro atual do paciente.
Por exemplo, quando estamos diante de um paciente com dor crônica, sendo tratado com opioide prescrito, podemos verificar três grupos de pacientes, classificados de acordo com a presença ou ausência da Síndrome de Dependência:
a) Paciente com dor crônica, em tratamento com opioides prescritos, SEM uso patológico;
b) Paciente com dor crônica, em tratamento com opioides prescritos, mas COM uso patológico;
c) Paciente com dor crônica, sem tratamento médico, mas utilizando opioides por conta própria.
O primeiro grupo de pacientes constitui a grande maioria daqueles encontrados em clínicas de dor. Os grupos "b" e "c" causam preocupação, devido ao uso inadequado das medicações prescritas.
A partir destes conceitos, é necessário que o profissional da saúde diferencie o paciente com dor crônica em tratamento com opioides que está apresentando Síndrome de Dependência daquele paciente com dor crônica em tratamento com opioides sem Síndrome de Dependência. Para isso, o quadro abaixo pode auxiliar:
Sem síndrome de dependência
1. Paciente tem controle sobre o uso da medicação.
2. O consumo das medicações melhora a qualidade de vida do paciente.
3. Paciente relata efeitos colaterais ao médico. Fala ao médico que o opioide lhe causa tontura, visão borrada etc.
4. Paciente preocupado com seus problemas médicos e com a possibilidade de tornar-se dependente.
5. Paciente seguirá adequadamente o planejamento terapêutico.
6. Frequentemente, sobram medicações opioides na casa do paciente.
Com síndrome de dependência
1. Paciente perde o controle diante do consumo da medicação.
2. O consumo da medicação piora a qualidade de vida do paciente. Ele começa a apresentar prejuízos sociais, familiares e laborais.
3. Nega efeitos colaterais. Pelo contrário, diz ao médico que necessita de mais dose de opioides para aliviar sintomas de ansiedade, depressão, tristeza e irritação.
4. Paciente não se preocupa com os problemas médicos.
5. Paciente não seguirá o plano terapêutico, utilizando-se de mais opioides do que os prescritos ou de outras medicações.
6. O paciente costuma "perder" receitas ou "forjar" receitas para angariar mais comprimidos.
Existem algumas outras "dicas" que podem ajudar no correto diagnóstico da Síndrome de Dependência de Opioides em pacientes submetidos a tratamento crônico com estas medicações:
a) Comportamento de busca de droga (visitas frequentes a serviços de emergência médica, para obter medicação, sem o conhecimento do seu médico; obtenção de medicamentos através de outros recursos, como amigos, familiares, traficantes; atitudes de "forjar" receitas; mentiras frequentes sobre "perdas" de receitas);
b) Comportamentos de automedicação (aumento da dose, sem orientação médica; uso do opioide para aliviar outros sintomas, como ansiedade, tristeza, angústia);
c) História pessoal e familiar de síndrome de dependência de substâncias (este item se refere ao aspecto genético das síndromes de dependência. Apesar de muitos dependentes químicos em remissão com quadros dolorosos manifestarem preocupação com a possibilidade de se tornarem dependentes das novas medicações administradas, outros dependentes químicos podem apresentar consumo patológico destas novas medicações prescritas);
d) Evidência de prejuízos sociais, familiares e no trabalho, associados ao consumo progressivo dos opioides;
e) Administração concomitante de outras drogas, como álcool, benzodiazepínicos, maconha etc;
f) Abuso de opioides injetáveis.
Apesar disso, a Síndrome de Dependência de Opioides aparece em apenas cerca de 3 a 16% dos pacientes com dor crônica em tratamento com agentes opioides. Todavia, percentagens exatas são difíceis de determinar, já que muitos estudos que avaliam a prevalência da síndrome de dependência entre esses pacientes costumam apresentar problemas metodológicos, como heterogeneidade na definição de "dependência", amostras heterogêneas e pequenas.
Seguramente, existem aqueles indivíduos que não apresentam quadro de dor crônica, mas fazem uso das medicações opioides por motivos recreativos, apresentando quadros de abuso e síndrome de dependência.
Desta feita, os problemas relacionados com o consumo de opioides são multifacetados e, comumente, exigem tratamento prolongado. É necessário que você procure um médico especialista no tema, revele a sua história de consumo da droga e, a partir de então, inicie um manejo médico adequado.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.