por Ceres Araujo
Steven Pinker, professor de Psicologia em Harvard, assegura que nós vivemos, estatisticamente, no período mais pacífico da História. Segundo ele, a violência não cessou de diminuir após a pré-história e os tempos bíblicos.
O homem não se tornou biologicamente melhor, mas as forças históricas canalizaram a violência. Na contrapartida, quanto mais essa violência diminuiu, mais tolerante se tornou o homem frente a ela.
Entretanto, a mídia e os especialistas em geopolítica vêm descrevendo um mundo cada vez mais caótico e perigoso, entre guerras civis e ataques terroristas. A Internet, as redes sociais, espalham as notícias aterrorizantes em tempo real. As mortes, os atentados, o medo de saber que os ataques acontecerão, não importa onde ou quando, invadem as mentes das pessoas. Assaltos, sequestros, torturas, assassinatos assustam as pessoas. Do Sri Lanka à Irlanda do Norte, da Tunísia aos Países Baixos, da França aos Estados Unidos e, para falar de continentes, da África à América Latina, todos vivem situações extremas muito diferentes, mas com um ponto em comum: a vida sob a ameaça cotidiana da violência.
A vida tem se tornado uma rotina de eventos anormais e se começa a fixar nos outros, um olhar de desconfiança. Nós nos convertemos em vítimas potenciais e o medo semeado, faz do ser humano, um refém absoluto. As crianças perguntam aos pais como fazer para se protegerem e como fazer para lutar contra os homens maus que têm armas. Isso foi matéria de um vídeo que há dias foi mostrado na Internet, onde um menininho francês fazia essas perguntas a seu pai. O pai respondeu que os homens maus poderiam ser combatidos com flores e velas! Creio eu, ser um exagero de tolerância.
Como viver com o medo?
O medo é uma emoção normal com significado importante na evolução das espécies, pois é o medo que nos motiva a agir, de modo a aumentarmos nossa chance de sobrevivência. A universalidade e o valor adaptativo do medo, mostram como ele está enraizado na experiência humana. Mas, o medo constante, crônico pode se transformar em pânico.
Na nossa sociedade atual, vivenciamos o fechamento progressivo dos espaços de convivência pelas grades. Às pessoas, causava medo os espaços abertos: andar pelas ruas pelas praças, deixar janelas abertas e o espaço fechado trazia segurança. Hoje isso não é mais assim. O filósofo contemporâneo Zygmunt Bauman cunhou a expressão "medo líquido" propondo um medo que se esparrama em todos os lugares, que pode vazar em qualquer canto ou fresta; nas casas, nos trabalhos, nas ruas, um medo muitas vezes exacerbado, estampado no corpo em forma de pânico.
À medida que cresce, a criança precisa se afastar da proteção total da família e ir em busca de sua autonomia. É um processo heroico, uma vez que perigos reais e imaginários surgem e a criança precisará lidar com riscos e enfrentá-los. Cabe aos pais, estimularem os movimentos de afirmação de seus filhos, propondo-lhes situações de desafio, onde possam exercitar sua independência. Porém, atualmente como os pais podem controlar o seu próprio medo? Bem junto a nós, nossos filhos já estão ameaçados, o que dirá afastados de nós? Sabe-se que muitos adolescentes, esse ano, foram impedidos pelos pais, de viajarem para intercâmbios fora do País em função das ameaças de atos terroristas.
Vive-se uma ambivalência: manter os filhos superprotegidos entre nossos braços, com o risco deles não crescerem e se tornarem indivíduos medrosos, inseguros, dependentes, eternizados o papel de filhos ou incentivá-los à autonomia, à busca do novo, para que sejam os protagonistas da história de aventura de suas vidas, apesar de todos os novos riscos? Vale a reflexão.