por Renato Miranda
Na primeira parte deste texto, apresentei as seis primeiras dicas para o treinador de jovens desportistas (clique aqui). Vou apresentar agora as outras cinco dicas para especialistas que visam o sucesso e ao mesmo tempo se preocupam com a formação integral dos jovens.
Essa formação indica que desde a infância, aspectos sociais, familiares, emocionais, éticos e filosóficos precisam estar contemplados na experiência esportiva do atleta em formação e/ou especializado. Ademais, a preparação específica de cada esporte não é desprezada, muito pelo contrário, ela é expandida e redimensionada com o objetivo de relacionar o esporte com a complexa experiência da vida interior do ser humano atleta.
Por isso, reafirmo o quão é importante a participação dos profissionais do esporte no momento da formação e especialização dos atletas, independentemente se tornarão atletas profissionais.
7ª) Conhecer aspectos específicos da modalidade esportiva
A expectativa do jovem de aprender a praticar bem o esporte escolhido, melhorar cada vez mais seu desempenho e conseqüentemente buscar sua auto-realização serão desafios constantes para os treinadores. Para enfrentá-los e obter sucesso o conhecimento é condição primordial, ou seja, o treinador deve saber: detalhes da aprendizagem, descobrir caminhos no processo de desenvolvimento e melhoria das habilidades para a adequação dos desafios e mais, ele precisa promover treinos de alta qualidade, encontrar soluções de problemas e atualizar-se sobre conteúdos do esporte.
8ª) Transmitir valores educativos, morais, sociais e culturais
O esporte pode ser um valioso instrumento na formação de jovens. Se um determinado atleta infanto-juvenil se tornará um grande profissional ou não, é uma outra questão. O fundamental é que o desempenho esportivo não seja o único objetivo dos treinadores. É possível entender que na busca do sucesso esportivo valores como, respeito, autodisciplina, comprometimento social, honestidade, autoconhecimento e outros podem fazer parte do conteúdo da experiência esportiva.
9ª) Fazer com que os atletas não considerem a competição “maior que a própria vida”
O esporte competitivo pode ser uma excelente experiência na vida dos jovens: desenvolve habilidades gerais (psicofísicas), auxilia no amadurecimento emocional, facilita a socialização e tantas outras experiências importantes. No entanto, é fundamental aceitar a competição como um momento da vida que diverte, auxilia o crescimento pessoal e mais uma das diversas atividades da vida e não a única. Assim evita-se que os jovens interpretem o esporte competitivo o que mais importa na vida e conseqüente a formação de uma personalidade afeita a obter sucesso a qualquer preço. Além disso, ao considerar que mesmo os atletas de alto nível têm em média um ciclo de doze anos de vida competitiva, percebe-se o quanto é importante a preparação para uma vida fora do esporte.
10ª) Trabalhar para que o atleta focalize o que fazer para vencer e não diretamente a vitória
Vencer é o objetivo consagrador do esporte. Mas se o atleta focar somente a vitória, possivelmente não conseguirá concentrar-se nos caminhos (treinamentos) que o levarão naturalmente à vitória. Ficar pensando em vencer por muitas vezes é perda de energia e desnecessário pois, na mente do atleta, mesmo em tenra idade isso já está bem claro. Parece estranho, mas não é, muito pelo contrário: Pensar “O que tenho que fazer para vencer?” é mais funcional do que pensar na vitória propriamente dita.
Desde cedo é fundamental que os jovens aprendam que o valor do sucesso está em todo o processo que o precedeu: dedicação aos treinamentos, autodisciplina, insistência, paciência, humildade e tudo o mais que providencia as vitórias.
11ª) Evitar menosprezar ou ridicularizar o jovem atleta devido a erros cometidos
Ficar ansioso para que os jovens aprendam algo rapidamente ou em vencer, faz com que certas vezes, o profissional menospreze ou ridicularize o jovem mesmo sem uma velada intenção. Uma palavra ou gesto impensado (ou não) pode gerar constrangimentos com muitas repercussões negativas tanto no âmbito esportivo (desempenho) como pessoal (tristeza e angústia, por exemplo).
O erro é algo que deve ser aceito como parte do processo esportivo e um desafio a ser ultrapassado, com calma, respeito e muita paciência. É fundamental lembrar que muitos atletas gloriosos falharam antes de obter sucesso e permanecem convivendo com novos erros e tentativas de corrigi-los constantemente. A harmonia entre treinadores e atletas no esporte começa na aceitação dos erros como parte do processo esportivo e através da constante iniciativa de tentar superá-los.