por Edson Toledo
A ansiedade pode ser entendida como um estado emocional aversivo, uma inquietação interna, uma preocupação exagerada com o futuro, acompanhada de sensações corporais como tontura, secura na boca, vazio no estômago, aperto no peito, batimentos cardíacos acelerados, suores, calafrios, tremores, formigamentos câimbras, urgência para urinar e cólicas abdominais.
O medo é uma reação a um perigo especifico. Medo e ansiedade são estados emocionais muito comuns. Tornam-se patológicos quando passam a ser disfuncionais, ou seja, a trazer prejuízos sociofuncionais e ou sofrimento importante para o indivíduo.
A titulo ilustrativo, só para termos uma ideia de prevalência, na maior capital do país, Andrade e colaboradores publicaram um pesquisa em que apresenta a prevalência dos transtornos de ansiedade ao longo da vida na cidade de São Paulo de acordo com as definições da Classificação Internacional das Doenças (CID-10): qualquer transtorno de ansiedade 12,5%, fobia específica ou simples 4,8%, transtorno de ansiedade generalizada 4,2%, transtorno de estresse pós-traumático 4,2%, fobia social 3,5%, agorafobia 2,1% (grosso modo: medo de locais abertos), transtorno de pânico 1,6% e transtorno obsessivo-compulsivo 0,3%.
Eliminar completamente a ansiedade não é possível
Como podemos ver, a psicologia moderna aprendeu muito sobre a ansiedade nas últimas décadas. Hoje sabemos muito mais do que sabíamos sobre a origem da ansiedade, o modo como ela opera no cérebro e a natureza dos padrões comportamentais que ela gera. Tudo isso pode facilitar seu entendimento acerca do papel que a ansiedade desempenha em sua vida. E compreender esse papel é fundamental para superar a ansiedade, e não eliminá-la completamente, pois como veremos, tal meta não é realista. Mas todos nós aprendemos como controlá-la e impedi-la de ser uma força debilitante que restringe nossa saúde e liberdade. Compreender a ansiedade, em poucas palavras, é a maneira de escapar de sua tirania.
Robert Leahy (2009) em seu livro intitulado Anxiety Free nos ensina que a primeira coisa a entender acerca da ansiedade é que ela é parte de nossa herança biológica. Muito antes de qualquer registro da história humana, nossos ancestrais viviam em um mundo repleto de perigos que ameaçavam suas vidas: predadores, fome, plantas tóxicas, vizinhos hostis, alturas, doenças, afogamentos. Foi em face desses perigos que a psique (mente) humana evoluiu. As qualidades necessárias para evitar o perigo foram as qualidades desenvolvidas em nós pela evolução. Uma boa quantidade dessas qualidades dizia simplesmente respeito a formas diferentes de preocupação.
O medo tinha a função de proteger; tínhamos de estar atentos a muitas coisas para sobreviver. Essa cautela persiste em nossa formação psicológica sob a forma de nossas mais profundas aversões e fobias. Esses medos eram adaptativos – de fato, instintos de sobrevivência, provenientes de tempos primitivos.
O próximo ponto a entender é que, por não mais vivermos naquele mundo primitivo, os medos que trouxemos dele não são mais adaptativos. Graças, em grande parte, aos efeitos da linguagem e da civilização, os desafios que encontramos em nossas vidas são bastante diferentes daqueles que nossos ancestrais encontravam nas savanas ou nas florestas. Ainda assim, nossos cérebros continuam a funcionar como se nada tivesse mudado.
Somos dominados pelo instinto de correr de um jaguar faminto, mas o que temos diante de nós, pode ser apenas um cachorro latindo. Temos medo de tocar no prato que alguém usou, porque nossos ancestrais tinham uma saudável aversão à comida contaminada. Sentimo-nos patologicamente retraídos porque, em outra era, um estranho podia facilmente nos matar; até mesmo um membro de nossa própria tribo poderia nos causar algum mal se fosse ofendido. Quando se trata de nossos instintos mais profundos, agimos como se estivéssemos ainda na Idade da Pedra, enfrentando as mesmas condições de então.
Estamos, em poucas palavras, agindo de acordo com um conjunto de "regras" ultrapassadas. A evolução programou essas regras em nós como um meio de nos proteger de riscos. Tais regras são como uma espécie de software humano instalado em nossas cabeças – um software que tem milhões de anos. Todo instinto que temos nos diz que obedecer às regras nos manterá a salvo, quando talvez o contrário seja verdade. Nosso método de nos libertarmos da tirania – na verdade, reescrevê-las. Isso implicará o exame das crenças irracionais em que se baseiam tais regras, pois essas crenças, quando não questionadas, exercem uma influência oculta, mas enormemente poderosa, sobre nossos pensamentos e comportamentos.
Depois de questionarmos essas crenças, poderemos começar a revisar as regras que controlam a ansiedade, muito embora estejam profundamente enraizadas em nossa mente. Como conseguiremos fazer isso? Ocorre que a natureza, além de nos dar alguns instintos, também nos dá a capacidade – localizada, em sua maioria, em uma parte diferente de nossos cérebros, a parte que chamamos de racional – de modificar esses instintos com base em nossa experiência.
Chave para controlar a ansiedade: modificar os instintos com base nas experiências pessoais
Essa é a chave para tratar a ansiedade. Não é o mesmo que "ser racional" quanto aos nossos medos. Isso não funciona: saber que um determinado medo é irracional não o faz ir embora.
Entretanto, se pudermos de fato experimentar uma situação aparentemente perigosa repetidas vezes, mas sem consequências danosas, nossos cérebros aprenderão a ser mais racionais e menos apreensivos. Acontece a todo momento na vida: ao sairmos da sala de um cinema no escuro; quando um desconhecido em uma rua movimentada nos pergunta as horas ou esbarra em nós; assistir a um show em um parque público, e ouvirmos trovões ou vermos um raio.
Tudo o que é preciso é criar um programa em que possamos, regularmente, ter uma experiência que cause medo, mas em um contexto que nos ensine que estamos seguros. Assim, ao longo do tempo, aprenderemos a diminuir nossos medos.