por Danilo Baltieri
"Meu marido encontra-se internado pela segunda vez em uma 'fazendinha': instituição que propõe um tratamento somente espiritual e sem nenhum acompanhamento médico para recuperação de drogas e álcool. Ele é usuário de cocaína e álcool. Gostaria de saber se esse tipo de tratamento tem bons resultados, ou que tipo de profissional devemos procurar?"
Resposta: Ao contrário de outras abordagens terapêuticas (convencionais e não convencionais) serem intensivamente avaliadas e pesquisadas para o tratamento das dependências químicas, os programas religiosamente orientados não têm sido adequadamente cobertos na literatura científica.
Claramente, nem todos os portadores de dependências químicas são satisfatoriamente atingidos com os programas religiosamente orientados; da mesma forma, como muitos dependentes de substâncias falham em obter sucesso através das técnicas tradicionais.
Dessa maneira, os manejos religiosamente orientados precisam receber maior atenção de pesquisadores, objetivando avaliar a efetividade dos métodos empregados de forma adequada e rigorosa.
É importante ressaltar que os manejos religiosamente orientados parecem ser mais efetivos entre aqueles indivíduos previamente bastante religiosos. As tradições religiosas lembram-nos, muitas vezes, que os indivíduos devem assumir sacrifícios, respeitar disciplinas e promover a exaltação espiritual e moral, com o objetivo de se atingir a dignidade, a liberdade e o "renascimento".
Dentre os vários sistemas de crenças dessas propostas de abordagem, destacamos:
a) Ideia de "renascimento". Essa ideia pode ser interessante para algumas pessoas, com a perspectiva de adquirir uma "vida limpa", "sem drogas";
b) Ideia da "conversão". Muitas vezes, essa idéia implica a necessidade de redirecionar os objetivos da vida, mudando completamente o foco. No entanto, existem críticas pertinentes contra algumas formas de manejo que pregam apenas o acompanhamento religioso.
Cito algumas:
a) Não identificação da necessidade de atendimento médico para determinados sintomas físicos e psíquicos;
b) Proposta de práticas punitivas como uma forma de "purificação". Certamente, a grande maioria dos programas não realiza formas de abordagem punitivas, mas existem relatos na literatura sobre essas práticas que devem ser peremptoriamente rejeitadas;
c) Não manutenção de estreito contato com a evolução do conhecimento científico.
Se o seu marido se adaptou ao programa de tratamento proposto e acredita que possa lhe trazer benefícios, isso já é um grande passo.
No entanto, como essa é a segunda internação, creio que também uma avaliação realizada por profissional especializado possa ser importante ingrediente na sua recuperação.