Por Renato Miranda
A organização sistêmica ou sistema simplesmente, mais complexo, funcional e sofisticado que existe é o corpo humano. A ideia sistêmica prevalece resumidamente que a soma das partes não é maior do que o todo organizado e funcional.
Isto significa que partes de um sistema só têm suas funções ordinárias eficazes e objetivas se estiverem compartilhando simultaneamente a organização de outras partes.
Em resumo, se ao considerarmos partes isoladas de um sistema apenas, estas mesmas perdem sua eficácia (funcionalidade), e, portanto, não cumprem seus objetivos e valores.
Daí se pode extrair o conceito de sistema corporal e também sistema de treinamento. Ou seja, no caso do esporte como exemplo; treinamento físico, só será oportuno se o mesmo se correlacionar com o treinamento técnico, tático e psicológico e assim por diante, para todos os elementos do treinamento. Ou seja, treinamento psicológico, sem conexão com a técnica, o preparo físico e a tática do atleta perde sentido e eficácia.
Assim sendo, o corpo humano não é somente a soma de várias partes e/ou órgãos, mas, sobretudo um TODO organizado de modo funcional e sofisticadamente complexo, constituído com diversas e diferentes características harmonizadas. Surge então, o conceito de corpo e mente como algo único, sistematicamente organizado e harmônico para o desempenho de funções e cumprimento de objetivos específicos.
O resumo do funcionamento do nosso sistema chamado corpo humano constituído de uma parte mais densa – corpo, e outra menos densa – psiquê (mente!) é a ação e a recuperação do próprio sistema. Ou seja, ora estamos em ação que representa a entropia de nosso sistema ou também conhecido como estresse. Ora estamos em recuperação que representa a homeostase de nosso sistema ou também conhecido como recuperação.
A entropia entende-se como a transformação natural de energias por meio de atividades, o que popularmente poderia chamar de desgaste, que provoca desorganização dos sistemas orgânicos, caracterizando uma tendência natural de todo e qualquer sistema.
A homeostase, por sua vez é a atividade sistêmica que visa, sobretudo, a recuperação do organismo, classicamente representada pelo sono, alimentação e hidratação.
Nos meus escritos em textos, livros e artigos, afirmo que o ajuste (harmonia) adequado entre entropia (ação, estresse) e homeostase (recuperação ou reequilíbrio) é fundamental para o desenvolvimento de atletas e não atletas a fim de transformar as ações ou estresse (atividades, treinamentos) em um reequilíbrio positivo, transformando as capacidades psicofísicas (força, resistência, concentração, motivação etc.) em constante evolução.
O “jogo sistêmico” entre entropia e homeostase não é tão rudimentar como parece. É um “jogo” de incrível sofisticação, a começar pela terminologia. Diferencia-se a tentativa do organismo de agir e de restabelecer, como entropia e homeostase simplesmente por uma questão didática.
O controle automático do organismo para adaptar-se e regular-se (equacionar) ante as demandas da ação (entropia) e/ou recuperação (homeostase) recebe o nome de homeostasia.
O neurocientista Roberto Lent, em 2002, no livro Cem Bilhões de Neurônios, explica que o termo homeostasia foi criado por Claude Bernard (1813-1878) e refere-se à permanente tendência dos organismos de manter a constância do meio interno. É uma espécie de “sabedoria do corpo”, como denominou Walter Cannon (1871-1945).
Isso significa que, em qualquer situação (ação ou descanso), o organismo humano sempre buscará, de maneira autonômica, o equilíbrio interno próprio.
Um atleta, em exemplo, deveria ter como tarefa facilitar o funcionamento desse sofisticado e complexo sistema. Como? Por meio de seu comportamento no meio ambiente, ou seja, deve-se aprender a agir com eficiência para gerar menos pressão interna (demanda orgânica) e restabelecer as forças (descanso e alimentação) a tempo para uma nova tarefa (esforço). Em outras palavras, treinar com qualidade, saber se alimentar e descansar melhor.
Durante uma ação, por exemplo, podem-se criar condições para o fortalecimento psicofísico, que, além de regular (retardar) a entropia (desgaste natural), favorecerá o funcionamento interno quando da ação e recuperação desse esforço. Portanto, treinamentos de qualidade proporcionam mecanismos de desaceleração da entropia ao tornar o sistema corpo-mente mais resistente e mais preparado para a recuperação.
Em conclusão, pode-se considerar entropia e homeostase fenômenos únicos (sistêmicos!) de modo que, tanto na ação como na recuperação, ambas participam em certa medida daquilo que Claude Bernard designou como sendo homeostasia. Portanto, acelerar ou retardar a entropia e facilitar ou dificultar a homeostase depende também (e muito!) do comportamento do atleta. E lembre-se, de certa maneira, o que vale para o atleta serve para qualquer pessoa!