Por Renato Miranda
A habilidade psicológica denominada concentração é frequentemente citada como fator primordial para os ótimos desempenhos no esporte. Como tema de estudo já abordei a concentração em textos para o Vya Estelar (pesquise aqui) e, artigos científicos, em livros, como no último publicado recentemente com o título Fluxo e comportamento humano: uma psicologia para o esporte – veja aqui.
Em palestras e aulas, no entanto, ao abordar sobre o assunto ocorrem também questionamentos sobre o oposto da concentração: a distração!
Se considerarmos a concentração como a nossa mais valiosa energia a fim de realizarmos uma tarefa de alto nível poderíamos dizer que evitar a distração seria uma estratégia sempre oportuna?
Aquilo que faz um atleta se distrair está relacionado com os eventos ou fatores externos e internos. Para citar um pequeno rol dos fatores externos destaco:
– Barulho e distrações visuais (torcida!);
– Comportamentos do adversário (provocações, “catimba”);
– Preocupação com a mídia (exposição pública);
– Informações inadequadas do técnico (por vezes técnicos dão orientações inoportunas que perturbam a concentração do atleta e o faz se distrair).
Para o rol dos fatores internos pode-se citar:
– Introspecção demasiada (pensar excessivamente naquilo que se tem que fazer pode criar um estado de excitação inadequado que nos faz distrair);
– Pensar em eventos passados e futuros (achar que aquilo que ocorreu em uma disputa passada é fator único de influência no desempenho ou projetar as consequências futuras do desempenho como algo prioritário a despeito daquilo que se tem que fazer no presente);
– Analisar excessivamente a técnica esportiva (quando o atleta domina a técnica esportiva a mente não se ocupa excessivamente com aquilo que tem de ser realizado como gesto técnico. O atleta simplesmente executa a ação!);
– Fadiga psicofísica (em fadiga física e/ou mental o pré-requisito básico para se concentrar é rompido, ou seja, descanso e harmonia cognitiva/emocional ficam prejudicados e com isso é muito difícil se concentrar).
Portanto, ao retornarmos a pergunta: evitar a distração seria uma estratégia sempre oportuna? Embora tenhamos a tendência de acreditar que sim. A melhor resposta é: nem sempre!
Isto por que em várias situações de competições esportivas (principalmente disputas extenuantes como jogos de tênis e voleibol em 5 sets, maratona e outros) é preciso questionar: é fundamental estar concentrado o tempo todo?
Ao pensarmos sobre atenção associativa e dissociativa da tarefa concluiremos que não. Pois vejamos:
Pensamentos associados à tarefa são aqueles que o atleta monitora tudo aquilo que está ligado à execução da atividade (exemplo, técnica e tática). Ou seja, avalia constantemente seu desempenho e concentra-se em seu biofeedback (exemplo, frequência cardíaca, esforço muscular e excitação emocional). É como se o atleta se mantivesse em constante conversa interior (self-talk).
Pensamentos dissociados à tarefa são aqueles em que o atleta provoca uma distração momentânea voluntária, como se estivesse “fugindo” das demandas intensas provenientes dos fatores psicofísicos da competição (fadiga, dor, tensões e preocupações, em exemplo).
Fundamentalmente a atenção associativa aos aspectos relevantes da tarefa é necessária para o ótimo desempenho do atleta. Portanto, atletas que visam manter um bom nível de rendimento tendem a utilizá-la.
Entretanto, em competições muito longas, por exemplo, jogos de tênis em 5 sets), o atleta a fim de conseguir um momento de relaxamento, procurar soluções de problemas, avaliar comportamentos e abstrair-se das pressões, pode dissociar sua atenção e levar sua mente para outros “espaços gerais” (público, pensamentos diversos, por exemplo).
A estratégia dissociativa, deve ser flexível e momentânea, para que o atleta não tenha dificuldades em retornar à atenção associativa dos aspectos relevantes. Assim, a escolha do momento da dissociação tem de ser feita com bastante critério e de forma consciente (momentos em que não há exigência crítica – bolas fora de jogo no voleibol, intervalam de uma game para outro no tênis, ou quando um atleta na maratona corre livre de pressão adversária).
Para finalizar, poderíamos dizer que sob controle, a distração pode ajudar bastante a recuperação do esforço mental e, por conseguinte auxiliar na concentração!