por Nicole Witek
Estão abrindo tantas “escolas de yoga” em todos os cantos do planeta, que achei importante repassar alguns aspectos essenciais dessa prática.
Para isso, li novamente o que foi escrito em 1972 na (revista) Revue Yoga por André Van Lysebeth, pioneiro do yoga no ocidente.
Fazendo uma comparação com os verdadeiros yogis, não só da antiguidade, mas de nossos tempos, podemos nos chamar de “principiantes”.
Para citar o André: “somos todos principiantes”. Qualquer que seja a escola de yoga onde se pratica, nosso yoga é um yoga muito básico. Ficamos modestos quando nos comparamos com os nossos antepassados da India. Mesmo que consigamos posturas mais avançadas, ainda estamos longe do desempenho deles, portanto, seremos sempre principiantes, tanto em relação a eles como a nós mesmos.
Um “principiante” e um “avançado” são iguais na frente da situação de praticar. A cada etapa de sua evolução, o praticante volta aos princípios essenciais, que são esses que se ensina desde o início da prática.
Revise as noções básicas e questione sua prática
Mesmo que o yoga não se limite às posturas – asanas – eles compõem o alicerce dessa ciência, tanto do ponto de vista físico como mental, quando se fala da meditação. As posturas são tanto portões de entrada para o universo físico, quanto uma via de acesso às dimensões psicofisiológicas do yoga. Executar corretamente o asana é a condição básica para o yoga.
Condições essenciais para o asana existir
– Imobilidade
– Permanência
– Sem esforço
– Controlando a respiração
– Controlando a mente
Quando essas condições são reunidas, estamos realizando o asana.
Durante o asana, os músculos são propositalmente colocados em situação anormal e excepcional em relação aos movimentos que o corpo realiza durante as diferentes ações do dia. Situação excepcional não quer dizer situação “antifisiológica”, pelo contrário.
Devemos ter consciência do estado dentro do qual se encontram os músculos quando estamos numa postura. Essa postura é fundamentalmente diferente de todas as situações do dia, quer seja nos atos corriqueiros, quer seja na prática de esportes.
Pergunta básica: Qual é a propriedade essencial do tecido muscular?
A possibilidade de se contrair. Quando o músculo contrai, ele possibilita “mexer” o esqueleto. O movimento é a consequência da contração de um ou de vários músculos.
Porém no yoga, e no yoga unicamente, os músculos são sistematicamente estirados. Esse estiramento é a característica essencial do yoga.
Nunca por si só o músculo tem a possibilidade de voltar a um cumprimento “normal”. Todas as ações do dia levam o músculo ao encurtamento. Se você achar que durante o sono o músculo pode “encompridar”, você está errado. De tanto contraído e tencionado que foi o músculo durante o dia, se ele conseguir relaxar será insignificante, perto do que se consegue com yoga.
Limite de elasticidade normal do músculo
O músculo pode contrair, mas também tem a elasticidade. É essa elasticidade que determina o grau de flexibilidade ou rigidez de cada um.
Os asanas querem levar o praticante além do limite de elasticidade. O músculo aceita transgredir suas normas de funcionamento habitual, mas com certas regras que vou lembrar.
Quando permitimos que o músculo relaxe. Geralmente quando chegando perto do seu limite, o músculo tem a tendência de se proteger, se defender, contrair. Essa reação natural de defesa pode ser suprimida se nós “intencionalmente” pedimos o relaxamento.
Quando os músculos começam a repuxar, precisamos intencionalmente relaxar, e não deixar que eles se defendam. Quando a resistência ao alongamento é percebida, podemos ir somente até uma sensação boa de estiramento, jamais forçar a musculatura até sentir dor.
Nesse momento devemos interiorizar nossa atenção nos músculos que ainda não aceitam o alongamento e “intencionalmente” pedir e "convencê-los" a relaxar.
A expiração é aliada desse processo de relaxamento: a cada expiração, podemos alongar um pouquinho mais.
Quando damos tempo suficiente para o músculo relaxar. É imprescindível “não correr”. Uma vez que chegamos ao limite de elasticidade normal, o músculo aceita ser alongado um pouco mais, desde que o deixemos o tempo suficiente, ou seja, várias dezenas de segundos. Basta esperar para sentir, gradativamente, os músculos se alongando.
Não fazer nenhum movimento brusco enquanto o músculo está se alongando. Já que o músculo está no seu limite de elasticidade comum, não se pode exigir com força mais comprimento, como por exemplo, a mão do professor pressionando. O músculo perdeu a margem de segurança e fica vulnerável. Ir além dos limites de elasticidade do músculo, com trações ou deixando a força da gravidade atuar pode ser feito suavemente e simultaneamente às expirações. Assim não se corre nenhum risco. Enquanto uma ajuda externa pode prejudicar o músculo, a consciência e o alongamento suave são necessários para ultrapassar os limites comuns de estiramento.
Vale lembrar que o tremor no músculo indica que ele não está relaxado. Uma interiorização no grupo de músculos submetidos ao alongamento é necessária. Essa é a razão da imobilidade. Imobilidade prolongada para obter os efeitos das posturas.
Por que precisamos do alongamento?
Os músculos estão sempre encurtados. Quando se trata de um sedentário, que não pratica nenhuma atividade física já sabemos que a tendência de um músculo desativado é de encolher. Já nos caso dos esportistas é o contrário, o músculo fica duro e permanentemente contraído.
Como saber se um músculo tem seu comprimento normal?
Simples! Quando a articulação não pode realizar a amplitude do movimento que deveria: o yoga busca a liberação de todas as articulações.
Existem receptores nervosos sobre os músculos que são sensíveis à tensão muscular. Por ação reflexa, automática, uma série de reações acontece no organismo via os receptores nervosos. O alongamento com permanência na imobilidade recondiciona e posterga esses mesmos limites e permite que a articulação volte à sua mobilidade natural. Um músculo alongado se esvazia do sangue. Quando volta à posição normal, ele enche de sangue novo oxigenado, fazendo uma grande limpeza.
O que é a fase dinâmica do yoga?
Além da imobilidade e permanência, existe a fase dinâmica, onde o professor pode pedir para o aluno repetir a mesma postura, por exemplo três vezes seguidas, sem parar e só pedir para ficar na imobilidade na quarta vez. Esta é a fase dinâmica.
Ela é necessaária como uma preparação para a fase estática. Às vezes essa fase é necessária para deixar a pessoa consciente do grupo muscular que será alongado. Esses mesmos músculos estarão descontraídos na hora que for necessário o alongamento máximo.
Não se “faz” um asana. Ele acontece!
Quando o praticante está na imobilidade, que é a fase essencial, deve-se abandonar a idéia de fazer qualquer coisa. É só se colocar fisica e mentalmente na *disposição para que o asana aconteça. Os grupos musculares atingidos pelo asana têm que estar tão passivos quanto possível. Os músculos que precisam estar contraídos para a postura, e somente esses, devem estar ativos, os outros músculos estarão obrigatoriamente relaxados. O praticante percebe a noção de “músculo contraído” e “músculo descontraído”. Esse caminho dos opostos também é uma das vias do yoga.
Você que quer começar a pratica do yoga já entendeu, não existe diferença nenhum entre mim, que comecei há mais de 30 anos, e você. Somos sempre principiantes.
*Deixar acontecer, não forçar o corpo. Ao permanecer na postura, o corpo vai se acertando sozinho na postura. Acontece, sem você precisar fazer, é só deixar acontecer.