por Adriana Kachani
Saiu em todos os jornais. Segundo o relatório anual da Junta Internacional de Entorpecentes, o Brasil é campeão mundial no consumo de medicamentos para emagrecer. Não bastasse isso, em 2005, 98,6% do fenproporex consumido no mundo e 89,5% da anfepramona, princípios ativos desses medicamentos, foram produzidos no Brasil.
Tudo bem, as brasileiras são obcecadas pelo corpo perfeito. Ficam muito expostas na praia, nossa moda é ousada. A dupla jornada de trabalho faz com que passemos por uma transição nutricional, onde cada vez menos come-se o típico arroz + feijão + salada + mistura, preferindo-se alimentos industrializados, muitas vezes de baixo valor nutricional e alto valor calórico, conferindo um aumento do peso. Mas essa obsessão não justifica a preferência por caminhos errados para resolver o problema.
Poucas sabem que os medicamentos para emagrecer são medicamentos de uso altamente controlado, principalmente por levarem à dependência química. Essas drogas, além de tirarem o apetite, dão uma sensação de euforia e bem-estar, fazendo muitas vezes com que a paciente não queira deixar de usá-los para se manterem nesse estado. Com o passar do tempo a dose não é suficiente, havendo a necessidade de aumentá-la. Está instalada a dependência, e a síndrome de abstinência não é fácil: depressão, insônia, mau humor, etc.
Muitas vezes o usuário tem medo de deixar de usar o moderador de apetite com medo de voltar a engordar. Com a mesma rapidez que se perde peso usando anfetaminas, esse mesmo peso é recuperado, se não houver uma reeducação alimentar adequada. O “efeito sanfona” prejudica o metabolismo, dificultando perdas de peso futuras.
Então, por que as brasileiras insistem tanto no medicamento? É o sonho da pílula mágica, aquela que resolverá todos os problemas. Porém, os problemas alimentares só serão solucionados com uma reeducação alimentar.
“Não existe fórmula mágica para emagrecer. Dietas devem ser individualizadas e, para obtenção de bons resultados, é necessário um respaldo cognitivo-comportamental. Ou seja, autoconhecimento de quem faz a dieta em relação à forma como se relaciona com a vida, sentimentos e alimentos”
O termo, muito usado hoje em dia, se refere a introduzir novos conceitos de alimentação e nutrição, que sirvam de motivação para que o indivíduo possa mudar seu comportamento alimentar, adquirindo assim costumes mais saudáveis. O que não é fácil, uma vez que as pessoas já possuem preferências, opiniões e conceitos próprios e hábitos alimentares muito influenciados por valores culturais, morais, sociais e religiosos.
E não nos esqueçamos das influências psicológicas. É fato que é muito difícil seguir uma dieta estando emocionalmente instável. Controlar as compulsões e vontades em momentos difíceis pode vir a ser uma imensa tortura e, às vezes, os resultados são desastrosos.
Nesse contexto desafiador, a abordagem educativa convencional, fundamentada apenas na transmissão de informações é em geral insuficiente para motivar mudanças mais significativas das práticas da saúde, exigindo o desenvolvimento de abordagens que permitam abraçar os problemas alimentares em sua complexidade, tanto na dimensão biológica como na social e cultural. É então que abordagens cognitivo-comportamentais surgem como opções que podem oferecer caminhos alternativos. Assim, o aconselhamento nutricional deixa de ser uma reeducação alimentar para se tornar uma terapia nutricional.
E o que vem a ser isto? Ë o trabalho onde o nutricionista, junto com o paciente, “costura” sua dieta baseado na individualidade. Concomitantemente, mostra ao paciente seus momentos críticos de quebra da dieta e juntos criam alternativas para lidar com o problema de uma forma que não seja a voracidade alimentar. O profissional ainda discute mitos alimentares, o significado de se alimentar, expectativas a respeito do corpo perfeito. Ensina a se comportar melhor perante à comida, conviver com situações onde há abundância alimentar e ainda aceitar aqueles comentários maldosos que sempre aparecem no momento errado: “Nossa, não te vejo há tanto tempo…como você engordou!”
Assim, emagrecer deixa de ser um problema tão difícil que só aquela “pílula mágica” ajudaria. Passa a ser um desafio, e uma chance de ganhar em aprendizado tudo aquilo que se perde em gordura.