por Patricia Gebrim
Um ano termina e outro desponta. Assim me dou conta de que andei caminhando às cegas sem perceber.
Às vezes nos sentimos perdidos na vida.
Não é um sentimento confortável esse, cheio de “não saberes”, com formato de interrogação, som de concha oca retirada do mar. A sensação é de fragilidade, como se nos tivessem tirado todas as certezas, nos sentimos subitamente desnudos, expostos, talvez assustados.
Por tantas vezes lutamos para conquistar algo, nos envolvemos na batalha da vida com tanto fervor que acabamos por esquecer o motivo de tanto esforço. Para onde mesmo estamos indo? O que queremos de fato?
No calor da batalha, sem perceber, vamos deixando de viver coisas pequenas, vamos nos afastando de nossa essência, daquilo que é mais lindo e humano em nós. Acredito essa seja a causa dessa sensação de estarmos perdidos.
Ah, como é difícil impedir que isso aconteça. Que enorme força interna precisamos ter para resistir, para não morrer em vida, para não endurecer. Para continuar “sentindo”. Para continuar nos emocionando com uma música bonita, com um pôr-do-sol, com um filhotinho de animal brincando com os cadarços de nossos sapatos… Como é difícil esquecer por um instante a pressa em amarrar os cadarços.
Em geral nos damos conta disso em momentos extremos. Quando perdemos algo, quando sofremos, quando adoecemos, quando algo maior nos tira das mãos o suposto controle. Controle de quê? O que controlamos afinal?
Um ano terminou e isso sempre traz à tona certa reflexão. O que poderíamos ter feito melhor? O que podemos fazer diferente daqui para frente?
Podemos fazer melhor. Mas para isso precisamos nos comprometer mais, não com as intermináveis cobranças de nosso dia a dia. Precisamos nos comprometer mais com a nossa alma.
Fecho por um instante os olhos, ouço o ruído da cidade lá fora. Mantenho-os fechados e tento inverter a direção da audição. Preciso ouvir o som que vem de dentro, o som dos meus sonhos, dos meus sentimentos mais profundos, do meu coração. Preciso respeitar mais esse ritmo suave que ressoa vida em meu peito.
Precisamos honrar mais o que se passa dentro de nós, esse é meu maior desejo para os dias vindouros. Para os meus, para os seus. Sei que podemos fazer tudo melhor assim. Sei que a vida pode ser mais fácil, mais leve, mais verdadeira.
Começo a fazer isso agora mesmo enquanto escrevo estas linhas, começo quando paro de me cobrar tantas coisas e me banho em compaixão, começo quando convido você a caminhar comigo nesta mesma direção.
Criemos juntos, daqui para frente, uma vida com mais alma.