por Arlete Gavranic
É interessante pensar em adolescentes ou pessoas adultas que vivem com suas famílias que muitas vezes, quando se sentem invadidos ou cobrados em casa, por conta de falta de organização ou arrumação, trazem à tona a frase: "No dia que tiver a minha casa vou fazer do meu jeito!"
Aí a grande questão é: você vai morar sozinho? Pois essa cobranças podem continuar se você casar ou for morar junto.
Nessas situações, é importante perceber que temos que amadurecer a casa nunca é minha, ela sempre é nossa.
Se você quer fazer do seu jeito, tente morar sozinho(a), pois a dois deverá haver sempre uma negociação.
Sabe aquelas discussões de que cor pintaremos a parede; o chão é madeira ou porcelanato; cortina ou persiana etc. É claro que a individualidade irá existir: na sua parte do guarda-roupa, nas suas gavetas e pertences pessoais. Mas entender que o todo do casal deve ser negociado no planejamento do dia a dia.
Essa mesma questão ocorre em ambientes profissionais, condomínios, no relacionamento entre famílias.
Mas a questão problemática entre pais e filhos, namorados, irmãos, vizinhos e colegas de trabalho nem sempre é o que se fala, mas o jeito que se fala.
Muitas pessoas aprenderam a se defender ou a resistir ao medo de serem frustradas falando em tom alto (às vezes gritando), mas sempre em tom autoritário. Essa forma de agir só dificulta os relacionamentos, pois passa uma impressão de desrespeito, além de agressividade e autoritarismo.
O problema maior nessa forma de reação não é só essa impressão/sensação emocional que esse tom passa; o problema é que por mais verdadeiro, sensato ou importante que seja o que você estiver falando, esse conteúdo não será ouvido, pois o tom de voz autoritário (ou briguento/de bronca) faz com que a outra parte reaja parando de ouvir o que você fala, pois começa a ouvir seus próprios pensamentos de defesa psíquica.
Vejo isso com muita frequência: alunos que quando professor(a) começa a falar nesse tom mais ríspido ou com tom alto de voz começam a pensar… "que cara chato, está com falta de namorado(a), ou de sexo, pensa que é dono(a) da verdade" e nem escutam o que esse professor tinha como mensagem.
Relacionamentos profissionais também vivem esse tipo de alteração na interpretação dos fatos.
Mas é nos relacionamentos afetivos que vemos isso ocorrer com muita frequência e com muitos problemas. Filhos não escutam pais, marido não escuta esposa e vice-versa; cunhados, genro/nora e sogros, namorados não se escutam!
Algumas pessoas realmente têm muita dificuldade em ouvir o outro, ceder, acatar ou negociar a ideia proposta, como se isso roubasse um poder pessoal.
Muitas vezes essa forma autoritária de se colocar está ligada ao medo de não ser ouvido(a) ou levado em consideração. E aí o tom de voz sobe como se o emocional estivesse berrando "por favor, me escute!"
O medo, a baixa autoestima e autoconfiança fazem com que as pessoas possam querer impor suas ideias. A impaciência frente à demora para a tomada de uma decisão também pode mobilizar esse tom mais autoritário.
Aprender a ouvir e a negociar é uma característica necessária de ser desenvolvida para o bem de qualquer relacionamento.
Duas dicas para resolver conflitos sem autoritarismo:
1ª) Sentem e conversem, se deem um tempo, cada um terá 3-5 minutos para expor o que pensa ou o que prefere.
2ª) Alguém anota as propostas, veja se há algo que seja inaceitável, tentem ouvir as explicações um do outro, e aí a negociação para decidir o que poderá ser mais satisfatório ou menos frustrante para o casal ou o grupo.
Boa sorte!