por Arlete Gavranic
Uma das queixas frequentes nos relacionamentos esbarra na individualidade extrema, nas poucas atitudes ou na ausência de atitudes de respeito aos desejos ou necessidades do outro (a).
O que chamo de extrema individualidade poderia ser nomeado por alguns como atitude egocêntrica, postura egoísta ou frieza nas relações.
Os motivos que geram tamanha quantidade de queixas vêm de diferentes fontes. Muitas reclamam a supervalorização de sua família de origem e uma atitude de indiferença ou de negação da família do parceiro. Essas queixas são bastante frequentes entre homens com relação ao sentimento de rejeição às suas famílias.
Outro motivo frequente da queixa vem de atitudes egoístas com relação ao sexo. Interessante observar que as queixas se referem à falta de interesse sexual ou de procurar sexo só quando tem vontade e se negar a “entrar no jogo de sedução sexual” quando se diz cansado ou sem vontade sem respeitar o desejo ou a manifestação de interesse do parceiro (a).
Outra queixa frequente diz respeito à pouca criatividade na área sexual, “fazer sempre do mesmo jeito” ou ” fazer só o que gosta” sem valorizar o desejo ou o prazer do parceiro (a).
Para quem mora junto, as atitudes de conflitos dizem respeito à dificuldade em dividir ou participar da rotina doméstica e muitos confrontos aparecem com relação a qual tarefa é mais importante: lavar a louça ou limpar o banheiro? Como se ambas atividades não fossem importantes. Conflito parecido para quem trabalha junto ou tem negócios em sociedade. O que tem importância é o todo, e não a vaidade de minha parte é melhor ou mais importante. Afinal, estamos juntos para crescer ou para competir?
A diferença na valorização de hobbies pessoais também traz a muitos casais um estremecimento. Entender que hobby é prazer pessoal e que praticar um esporte, fazer artesanato, ler ou ouvir/fazer música… nada disso permite uma avaliação de que essa prática seja melhor ou mais importante que o relacionamento.
A atitude de aprender a ouvir as dificuldades do parceiro (a) seja com família, com vizinho ou com colegas de trabalho é de grande valia. Não significa entrar no conflito, na angústia ou na raiva do outro, mas sim aprender a estar junto e ser um suporte, viver de fato o papel de parceiro(a).
Muitas dessas atitudes é fruto da educação familiar, excesso de mimo, poucos limites, ausência de responsabilidades com relação a estudos ou comportamentos em família. Esses são fatores que podem ter gerado interferência na dificuldade em aprender a compartilhar, em aprender a ouvir o outro, a respeitar o prazer da outra parte.
Não acredito em relacionamentos em que um viva em função do outro, em que a submissão ou a serventia sejam a premissa de um machismo ou de um feminismo extremados no individualismo. A individualidade e o respeito ao eu precisa existir, como o respeito e o carinho ao outro(a), para que possamos tentar viver o nós no sentido da troca carinhosa, da conquista de prazer, da valorização de cada parte da relação.
Não acredito quando vejo discursos de um romantismo a meu ver perigoso que diz que relacionamento ideal é quando dois se tornam um. Não acredito nisso, pois para virar um alguém está cedendo demais, se submetendo, morrendo em muitos prazeres pessoais. Acredito sim na força do afeto e do prazer de um mais um, inteiros que se somam e se tornam um dois fortalecidos na parceria afetiva da vida e felizes.