por Alex Botsaris
Medicina ortomolecular foi um termo proposto pelo falecido químico e prêmio Nobel da medicina Linus Pauling. Ele criou o termo "ortomolecular" juntando o radical orto (correto em grego) com molecular – significando as moléculas – ou seja, uma medicina que fizessem as moléculas do organismo funcionarem corretamente. Na visão de Pauling seria necessário entender o mecanismo molecular envolvido nas doenças, para então propor tratamentos que fossem realmente eficientes. O eminente químico ainda estudou a fundo as ações da vitamina C nos animais e descobriu seu potencial como antioxidante, sendo um entusiasta do uso de megadoses dessa vitamina como forma de prevenir o envelhecimento.
Apesar de algumas das teorias de Pauling, na área da medicina, não terem se confirmado, várias das bases propostas por ele se revelaram tendências fortes para o futuro e vem se desenvolvendo de forma dinâmica atualmente. São elas que funcionam como base para as correntes da medicina ortomolecular atuais. Uma delas é a biologia molecular – uma parte da biologia que não pára de crescer – e que explica em termos de atividades e características químicas das moléculas, vários dos fenômenos biológicos descritos na medicina. Isso motivou a proposta de mudar o nome dessa corrente médica para medicina biomolecular. Hoje em dia, esse é o nome mais usado pela comunidade médico-científica, entretanto na área popular "ortomolecular" ainda é o mais usado popularmente.
Outra teoria lançada por Pauling, que vem se mostrando cada vez mais importante, na gênese molecular de diversas doenças, é a teoria do estresse oxidativo. Em poucas palavras, a fonte da energia corporal, que é utilizada para mover todo metabolismo do corpo vem da queima de moléculas de glicose e gordura, usando os átomos de oxigênio retirados do ar. Essa combinação com oxigênio, chamada de oxidação, eventualmente, pode formar compostos chamados de "radicais livres", que tem o potencial de causar danos a moléculas ou processos orgânicos. Esse dano causado pelos radicais livres, é que a ciência médica chama de "estresse oxidativo". Pauling mostrou que a vitamina C possuia uma ação antioxidante, por isso protegia o corpo dessas moléculas instáveis (os radicais livres). As pesquisas atuais mostraram que além da vitamina C, outras vitaminas, enzimas, além de uma série de outras substâncias, exercem atividade antioxidante, e que é a eficiência desse sistema como um todo, que protege o organismo do danos causados pelos radicais livres.
A importância do sistema antioxidante do organismo tem se mostrado tão grande, e está sendo tão valorizada pelos médicos ortomoleculares, que alguns colegas têm proposto de chamar o novo conhecimento de "oxidologia". Contudo, esse termo além de não englobar todos os processos da biologia molecular, não é consensual entre todos os médicos. Mesmo assim, muitos trabalhos científicos e mesmo alguns médicos vão usar esse termo para qualificar o sua área de conhecimento.
Uma das propostas da medicina ortomolecular, que é muito interessante e inovadora, é a de utilizar alimentos, às vezes em quantidades específicas, visando benefícios de saúde ou prevenção de doenças. Além dos vários antioxidantes que são empregados para reduzir o estresse oxidativo, aminoácidos vitaminas e lipídeos essenciais têm se mostrado eficientes em contribuir com o desempenho do cérebro, melhorar o humor e aumentar e eficiência do sistema imunológico. Todos esses benefícios tem sido agregados sem problemas como efeitos adversos, dependência e tolerância, que costumam ocorrer com as drogas clássicas da industria farmacêutica.
A busca de tratamentos menos invasivos e mais amigáveis tem levado muitos médicos a estudar essa nova escola e também estimula pacientes a buscar tratamentos ortomolecular. Pelas suas características, esses tratamentos exigem prescrições individualizadas, que são aviadas por farmácias de manipulação. Daí vieram alguns abusos e deslizes éticos, que apesar de serem feitos por uma minoria, acabaram se tornando públicos e serviram de munição para interesses comerciais feridos com a nova tendência. Certamente há uma influência do interesse comercial em desqualificar a medicina ortomolecular, amplificando o problema. Afinal, as farmácias de manipulação têm abocanhado mais de 15% do mercado farmacêutico no Brasil.
Considerando o contexto normativo, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, resistem em reconhecer a medicina ortomolecular como especialidade médica e entendem que ela é apenas uma estratégia terapêutica. Isso também se transformou numa fonte de conflitos, já que pelas normas éticas, o médico não pode divulgar uma especialidade não reconhecida pelo CFM. Na minha visão de futuro, movimentos como o da medicna ortomolecular são legítimos e consistentes, e será necessário encontrar um espaço correto para sua normatização. Enquanto isso não acontece, todos saem perdendo, principalmente os pacientes.
Atenção! Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento