Conheça a fundo a medicina tradicional chinesa

por Gilberto Coutinho

Praticada na China há milhares de anos, a Medicina Tradicional Chinesa reuniu, ao longo dos tempos, ricos conhecimentos e efetivas experiências clínicas, tornando-se uma ciência coerente, completa, bem desenvolvida e moderna. Entretanto, não se assemelha à Medicina Alopática ocidental. Incorpora profundos e importantes conhecimentos filosóficos do Taoísmo (Do Chinês "Tao", "caminho"; uma chinesa filosofia de vida, fundada pelo sábio Lao-Tsé no século VI a.C.) e diversas teorias: Yin-Yang; os cinco movimentos ou elementos que constituem toda a natureza (madeira, fogo, terra, metal e água); Zang-Fu (órgãos e vísceras); Tchi-Xue (bioenergia e sangue); Jing-Luo (canais e colaterais); os doze Canais Principais; pontos extraordinários; vários métodos de Acupuntura (manipulações de agulha), Moxaterapia, Sangria e Ventosa; Etiologia e Patologia; Métodos de Diagnósticos (interrogatório; inspeção geral e regional; ausculta, olfação e palpação; exame clínico do pulso, da face, língua, olhos, orelha etc.); Diferenciações de Síndromes; Fitoterapia; Dietoterapia; Meditação etc.

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Trata diversas síndromes e disfunções orgânicas, segundo seus sintomas e sinais. É composta de cinco importantes especialidades terapêuticas:

1. Acupuntura (Zhen Jiu): ciência criada e desenvolvida na luta contra as doenças, visa a combater diversas disfunções orgânicas por meio de agulhas, as quais são aplicadas no corpo em pontos específicos.

A "Organização Mundial de Saúde (OMS)", importante órgão da ONU, reconhece a eficácia da terapia com Acupuntura no combate de diversas enfermidades e a recomenda aos seus países membros.

Existem vários tamanhos de agulhas e métodos de aplicação de Acupuntura: com agulhas filiformes, com moxa, sangria com agulha, agulhas cutâneas, agulhas intradérmicas, agulhas aquecidas, eletroacupuntura (com auxílio de um Acupunctoscópio Eletrônico Múltiplo – modelo WQ 10D1, por exemplo, utilizado como detector de pontos de Acupuntura e estimulador elétrico para terapia de Acupuntura e anestesia), agulhas magnéticas, agulhas auriculares (para serem utilizadas na orelha), crânio-acupuntura, anestesia por Acupuntura etc.

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Os pontos de acupuntura são locais específicos no corpo onde se pode fazer a inserção da agulha e/ou a aplicação da moxa (bastão de artemísia) sobre a pele, o que pode causar certas sensações e reações em determinadas regiões ou em determinados órgãos, de forma a se obterem resultados terapêuticos. Através da acupuntura, pode-se reorganizar o fluxo de bioenergia (Tchi) que circula nos canais de energia ("Kings", meridianos).

A Acupuntura auricular é também uma excelente e efetiva terapia complementar, de fácil aplicabilidade, de resultados rápidos e não apresenta efeitos colaterais. Além do mais, ela pode combater diversos tipos de enfermidades. A Acupuntura e a Moxabustão são terapias importantes da Medicina e Farmacopéia Tradicionais Chinesas. Devem-se considerar as precauções e as contra-indicações.

1.2 Moxabustão (Jiu Fa): é uma técnica terapêutica que se baseia no estímulo dos pontos de Acupuntura ou de determinadas regiões do corpo, através do calor emitido pela combustão de plantas medicinais específicas de efeito Yang (quente).

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Como o próprio nome indica, essa técnica visa a combater certas disfunções orgânicas mediante a aplicação de cones ou bastões acesos de "Artemisia Argy" (também utilizada na forma de chá), com o objetivo de se aquecerem determinados pontos (ou regiões) situados na epiderme (pele).

Segundo informações históricas conservadas até hoje na China, o surgimento da moxaterapia (Jiu Fa) é anterior ao da Acupuntura. A queima da moxa produz estímulos de calor que são transmitidos aos canais de energia (meridianos) e colaterais e, ao penetrarem as camadas da pele, ajudam a regularizar o equilíbrio das funções fisiológicas do corpo.

A moxa pode ser empregada na forma de cones, que podem variar de tamanho (pequenos, médios e grandes), bastão (com ou sem fumaça), moxa com agulhas (para o aquecimento das mesmas e, conseqentemente, dos pontos de Acupuntura). Pode ser aplicada diretamente sobre a pele (moxa direta: com ou sem cicatriz) ou indiretamente (moxa indireta: sobre uma fina fatia fresca de gengibre, de alho e/ou de plantas medicinais; ou ainda, sobre uma camada de sal grosso).

O antigo livro "Yi Xue Ru Men" ("Introdução à Medicina") comenta: "Quando os remédios não oferecem resultado e a acupuntura é insuficiente, então, deve-se utilizar a moxa (Jiu Fa)".

Algumas funções e indicações terapêuticas: no combate das enfermidades crônicas do tipo Xu (deficiência) e das doenças causadas pelo vento, frio e umidade; tonifica o Tchi e recupera o Yang do corpo; favorece a ascensão do Yang Tchi puro; combate a estagnação (estase) de Xue (sangue) e Tchi (bioenergia); auxilia no combate da dor; estimula o fator de resistência do organismo (melhorando a imunidade) etc. A aplicação regular da moxaterapia (Jiu Fa) em determinados pontos de Acupuntura pode auxiliar no fortalecimento geral da saúde e favorecer a longevidade. Existem precauções e contra-indicações em seu emprego clínico.

1.3 Sangria (Fang Xue): assim como a Moxa (Jiu Fa) e a Ventosa (Ba Guan Fa), a sangria é um importante e eficaz método terapêutico, que também faz parte das técnicas tradicionais de Acupuntura (Zhen Jiu).

Consiste em perfurar os capilares dos vasos sangíneos ou as veias superficiais (telangectasias) com agulhas filiformes ou de três faces, com o intuito de se combaterem certas disfunções orgânicas. Normalmente, retira-se de cinco a nove gotas de sangue. A punção para provocar sangria era utilizada desde os primórdios da Acupuntura.

Algumas funções e indicações terapêuticas: no combate das enfermidades febris e das síndromes de calor do tipo Shi (excesso), causadas por fatores patogênicos exógenos e excesso de Yang; auxilia na eliminação da dor ocasionada pela obstrução de algum canal de energia, da estase de Xue (sangue) e do Tchi (bioenergia); apresenta propriedades estimulantes do coração (favorece a circulação sangínea, sendo, por isso, indicada em alguns casos de insuficiência cardíaca, devido à estagnação do Tchi e da estase do sangue); antiinflamatória, antipirética (antifebril); descongestionante; anti-hipertensiva (reduz o calor e acalma a hiperatividade do Yang do fígado; nos casos em que a pressão arterial sobe repentinamente, a sangria constitui um método terapêutico de emergência muito eficaz); desintoxicante (nas intoxicações provocadas por monóxido de carbono, álcool e infecções); tranqilizante (auxilia no combate da inquietação e ansiedade, pois promove a comunicação entre os principais canais de energia, regulariza a circulação do Tchi e do sangue (Xue), acalma o fígado, eliminando a estagnação); auxilia no combate ao inchaço patológico (tumefação) e á asma (sangria nos pontos Shaoshang (Pulmão 11) e Shangyang (Intestino Grosso 1).

Existem precauções e contra-indicações, que precisam ser consideradas na prática clínica.

1.4 Ventosa (Ba Guan Fa): aplicada sobre a pele, produz uma pressão negativa que tem por objetivo drenar o sangue e, em alguns casos, o calor e a umidade patogênicos. Existem vários tipos de ventosas: de bambu (leve, econômica, de pouca durabilidade, há dificuldade na sua desinfecção ou assepsia), de argila (grande força de sucção, pesada, fácil de se quebrar, há dificuldade na sua assepsia), de vidro (mais adequada, mas fácil de se quebrar), de plástico (não muito durável), de ferro e bronze (pesadas, duráveis, mas não muito utilizadas).

Atualmente, as ventosas mais utilizadas são as transparentes de vidro e plástico, pois permitem ao terapeuta observar a formação de equimose (mancha escura ou azulada, roxo, devido à infiltração difusa de sangue no tecido subcutâneo) e eventuais bolhas. Não se devem aplicar ventosas (Ba Guan Fa) na face, áreas próximas dos olhos, em regiões do corpo com pouca massa muscular.

Algumas funções e indicações terapêuticas: na síndrome Bi ou exterior (causada pelos fatores patogênicos exógenos, que se alojam na pele e no tecido celular subcutâneo), reumatismo, torções, dores abdominais e do estômago, dispepsia, cefaléia, resfriado, gripe, tosse, asma, dismenorréia (menstruação penosa e dolorosa), hipertensão, dor e edema nos olhos (afecções oftálmicas), paralisia facial, picadas de serpentes venenosas, furúnculo, carbúnculo, erisipela etc.

Existem precauções e contra-indicações.

2. Fitoterapia: tratamento pelas plantas medicinais; as ervas são receitadas com o objetivo de se promover o equilíbrio energético do organismo, considerando-se os princípios da Medicina Tradicional Chinesa. As plantas medicinais são classificadas de acordo com seus efeitos sobre as energias do organismo, se aquecem ou esfriam, se concentram ou dispersam, se fortalecem ou drenam, se secam ou umedecem, se acalmam ou estimulam, se faz com que o Tchi (bioenergia) suba ou desça etc. O fitoterapeuta analisa o estado geral de saúde do paciente e, então, receita fórmulas à base de ervas combinadas, para se combaterem os desequilíbrios energéticos, psíquicos e orgânicos.

3. Dietoterapia: uma alimentação saudável, nutritiva e apropriada a cada problema de saúde é indispensável na manutenção e no restabelecimento da saúde, é parte integrante de sua terapia.
4. Tui-Ná: massoterapia tradicional chinesa ("An Mo", "massagem", literalmente, "empurrar", "esfregar"), indicada no combate de diversas enfermidades, inclusive as que acometem o sistema locomotor (ortopédicas).

5. Exercícios terapêuticos: entre os diversos tipos existentes, o Chi Kung e o Tao-In são os mais conhecidos.

Durante muitos anos de observação e prática clínica, os terapeutas das diversas dinastias da China tiveram a oportunidade de desenvolver e aperfeiçoar tais especialidades terapêuticas.
Em dezembro de 1979, a "Organização Mundial de Saúde (OMS)" aprovou a "Acupuntura Tradicional Chinesa" no tratamento de 43 enfermidades, como: resfriado, amigdalite aguda, enxaqueca, nevralgia do trigêmio, ciatalgia, gastrite aguda e crônica, constipação, odontalgia etc.

A Medicina Tradicional Chinesa trabalha, essencialmente, com a "bioenergia" ou "energia vital", que os chineses chamam de "Tchi", e suas variações no organismo, nos órgãos e nas vísceras, não diretamente com os órgãos e sistemas do corpo humano, como o faz a Medicina alopática ocidental. Por essa e tantas outras razões, a Medicina e a Acupuntura Tradicionais Chinesas não apresentam qualquer semelhança com a Medicina alopática ocidental e seus princípios.

A Acupuntura Tradicional Chinesa tem por objetivo regularizar o fluxo de "bioenergia" ou de "Tchi" no organismo (nos órgãos, nas vísceras e nos demais tecidos do corpo) e, assim, combater as disfunções orgânicas causadas por um desequilíbrio.

Curiosidades

· Em 1995, no Brasil, a Medicina alopática incluiu a Acupuntura como uma especialidade na sua área; posteriormente, também assim o fizeram outras categorias profissionais que atuam na área de saúde. Mas, muitas décadas antes dessa data, a Acupuntura já era praticada aqui por inúmeros profissionais terapeutas (não médicos alopatas) com formação em "Medicina Tradicional Chinesa e Acupuntura". Graças ao crédito dado pelos terapeutas à aplicação clínica da Acupuntura no combate de diversas enfermidades agudas e crônicas, e ao resultado efetivo de seus trabalhos, a Acupuntura passou a despertar a devida atenção e o interesse dos profissionais da Medicina alopática, no Brasil, como também em diversos outros países; isso numa época em que tal procedimento terapêutico não tinha quase nenhum apoio da Medicina alopática ocidental, por serem ciências muito diferentes entre si. Indubitavelmente, fora da China, tais terapeutas foram de extrema importância, para que a Acupuntura e a Fitoterapia alcançassem popularidade e o reconhecimento mundial.

. Existem instrumentos de pedra que datam de períodos anteriores a 4.000 ªC, o que demonstra ser a Medicina Tradicional Chinesa muito antiga. A acupuntura desenvolveu-se mais no leste da China, lugar de clima ameno, enquanto que a moxaterapia desenvolveu-se ao norte, região, geralmente, muito fria.

· Por volta dos anos 518-168 ªC, já existiam registros sobre o uso terapêutico da moxa.

· O grande livro de referência (o cânone) da Medicina Tradicional Chinesa é o do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Ching), atribuído à figura lendária de Huang Di (2697 – 2597 ªC).

· Em 1968, na província de Hebei da China, foram descobertas na tumba de Liu Sheng com o príncipe Jing, da dinastia Han (206 ªC – 220 d.C.) do Oeste, nove agulhas de Acupuntura; quatro de ouro e cinco de prata, sendo essa a primeira constatação da existência de agulhas feitas de metal, utilizadas em tempos remotos.

· Em 1973, foram encontrados quatro importantes tratados sobre a Medicina Tradicional Chinesa, na tumba de número 03 da Dinastia Han, província de Hunan. Segundo investigações, esses tratados são mais antigos do que "Huang Di Nei Ching" (Tratado de Medicina Interna), considerada a primeira obra sobre a Medicina Tradicional Chinesa da Antigidade, que se conserva até os dias de hoje. Tais tratados apenas registram a Moxa e não a Acupuntura.

· A Acupuntura tornou-se conhecida nos E.U.A apenas em meados de 70 (século XX), após a visita do presidente Nixon à China. Um de seus assessores, sofrendo de apendicite aguda, foi operado por uma equipe chinesa. O que chamou a atenção de todos foi o fato de que a cirurgia fora realizada, utilizando-se apenas da Acupuntura como anestesia, o que acabou despertando, evidentemente, um grande interesse e curiosidade a respeito da Medicina Tradicional Chinesa e Acupuntura.

· Quando a Acupuntura começou a ser utilizada na antiga China, o combate às disfunções orgânicas era feito com agulhas de pedra polida, denominadas Bian, Chan e Zhen. Na idade neolítica, além de agulhas de pedra (Bianshi) artificialmente polidas, eram utilizadas também agulhas feitas de osso e bambu.

· Com o desenvolvimento social do povo chinês e com o advento da metalurgia, surgiram, então, as agulhas feitas de diferentes metais, como ferro e prata, de ligas metálicas e, hoje em dia, de aço inoxidável, finas e de fácil aplicabilidade.

· As "nove agulhas" utilizadas na antigidade tinham características diferentes segundo seu uso: a agulha Chan era para puncionar superficialmente a pele; a Yuan, com a cabeça arredondada, era para fazer massagens; a Di servia para pressionar; a Feng, para realizar sangrias; a Pi, para extrair pus; a Yuanli, para punções rápidas; a Hao era a mais usada entre todas; a Chang, para realizar punções mais profundas; e a Da, para tratar doenças articulares.

· Mediante constantes observações e práticas clínicas, os terapeutas chineses chegaram à conclusão de que uma pessoa, ao adoecer, geralmente, apresentava, em determinados pontos da pele, ou em alguns pontos de regiões diferentes, fenômenos anormais tais como dor, latejo, calor, distensão etc. Isso em muito contribuiu para o desenvolvimento do princípio de relação entre os pontos de Acupuntura e as diversas enfermidades.