por Regina Wielenska
Nunca me esqueci de uma experiência vivida na adolescência. Toda feliz, orgulhosa do meu feito, contei na escola para alguns amigos que tinha conseguido comprar, com recursos da mesada, vários romances da Agatha Christie num sebo da Praça da Sé, em São Paulo. “Livro usado? Que nojo, você nem sabe por onde passou o livro! ”, disparou um colega. Perguntei a ele se ele sentia nojo de dinheiro vivo, material absurdamente volátil nos bolsos e carteiras. Sua cara de perplexidade me deixou vingada.
Na verdade, venho aqui defender o reuso de recursos. Você enjoou do jeans, ou ele não se ajusta mais ao teu manequim. Mas a calça em si pode estar perfeitamente, rasgada, estonada, desbotada, do jeito à venda nas mais descoladas lojas. Nenhum amigo teria gosto em receber esse jeans para uma temporada ou uma vida?
Pessoas precisam montar a casa ao saírem do lar dos pais ou por descasarem. Sabe quanto custa equipar minimamente uma casa?
Um exame atento nos armários de cozinha ou no bufê da sala pode revelar coisas utilíssimas para a outra pessoa e encalhadas em tua vida.
Um casal de amigos, pessoas muito abastadas, trocam de carro (SUVs poderosos) a cada três anos. Só compram carro usado, com um ou dois anos de uso. Um mecânico de confiança avalia os que lhe interessam. Segundo o casal, eles economizam 30% do valor do veículo a cada aquisição, não se interessam em exibir carro zero por aí, só querem conforto e segurança.
Vi na TV uma empresa paulista que faz entrega de cestas de frutas e legumes com aparência feia, e recusados nos canais usuais de comercialização. Oferecem preços melhores e os clientes recebem alimentos em ótimo estado, apenas tortinhos ou manchados. Sabor e valor nutricional continuam assegurados. Antes isso ia pro lixo.
Na década de oitenta, fui amorosamente acolhida para jantar, numa noite de muito frio, no lar de uma família oriunda de Minas Gerais. Estranhei que a pièce de résistance era o mexido: ovo mexido com restinhos de abobrinha refogada, couve desfiada, feijão, macarronada, arroz, linguiça, cebola, salsinha e sabe Deus mais o que sobrara na geladeira nos dias anteriores. Coisa estranha para mim, e absolutamente deliciosa depois da primeira garfada. Comida não se joga fora sem mais nem menos!
E por aí vai…
Você consegue se reciclar, mudando hábitos que não mais se ajustam ao mundo de hoje e reciclar também as coisas que te cercam?
Experimente, por favor!